Rotina rígida e vida pública: As trajetórias de Isabel e Leopoldina, filhas de Dom Pedro II
Aventuras Na História
A pesquisadora Maria de Fátima Moraes Argon, que fez um longo estudo de arquivos históricos para aprender a respeito das princesas Isabel e Leopoldina, as filhas de Dom Pedro II, falou sobre a vida delas (com foco maior à mais velha, que viveu por mais tempo) em uma palestra ocorrida no último dia 8 de junho na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano.
O evento fez parte do chamado Ciclo de Palestras sobre História do Brasil, um projeto que conta com a curadoria de Paulo Rezzutti e cujo objetivo é homenagear figuras históricas importantes para nosso país. Entenda abaixo o que explicou Fátima sobre as herdeiras do imperador brasileiro, e seu papel no cenário político da época!
Formação intensa
Dom Pedro II e Teresa Cristina de Bourbon tiveram dois filhos homens, Afonso Pedro (1845 - 1847) e Pedro Afonso (1848 - 1850), no entanto, ambos sofreram mortes precoces, de forma que nem mesmo chegaram a completar o terceiro aniversário.
O casal também teve duas filhas, as princesasIsabel (1846 - 1921) e Leopoldina (1847 - 1871). Na falta de herdeiros homens, as duas foram educadas de maneira apropriada para sucessoras do trono do Brasil.
Isabel, vale mencionar, era a próxima na linhagem, mas também era muito doente durante a infância, então, dada a alta mortalidade infantil do período, sua caçula acabou recebendo, por via das dúvidas, a mesma formação que ela.
Devido à situação única no qual se encontravam, sendo futuras governantes em potencial, elas tiveram uma educação diferente da maioria das mulheres de então. Não foram somente ensinadas habilidades consideradas femininas, pelo contrário, contavam com uma verdadeira equipe de professores das mais diversas disciplinas — com alguns desses tutores tendo inclusive participado do ensino do próprio Dom Pedro II.
[No século 19], a mulher era criada e educada para ser mulher: entender um bom francês, bordar, ser a boa dona de casa, ser uma mulher que sabia se comportar nos salões", explicou Fátima Moraes Argon na palestra.
As princesas estudavam de segunda a sábado, e de manhã à noite, seguindo uma rotina muito rigorosa. Uma curiosidade, aliás, é que Isabel possuía uma grande aptidão artística: existem desenhos seus que sobreviveram ao tempo e são hoje guardados por museus do país.
Outro aspecto importante da infância das filhas de Dom Pedro II é que elas pareciam já desce cedo "entender as dimensões da vida pública dos pais", conforme apontado por Fátima.
Vida adulta
Ambas as princesas brasileiras se casaram no mesmo ano, 1864. Infelizmente, Leopoldina faleceu em 1871, aos 23 anos, após ter contraído febre tifoide. Já Isabel teve uma vida longa, apenas falecendo aos 75 anos.
Neste meio tempo, ela em muito participou da esfera política da sociedade brasileira, tendo impactos que, conforme explica Fátima Moraes Argon, ainda nem mesmo foram totalmente compreendidos, com essa sendo uma área que exige maiores pesquisas.
Fato é que a herdeira de Dom Pedro II, além de ser uma mulher culta, tinha personalidade forte e não hesitava em expressar suas divergências em relação às opiniões do pai:
Ela [Isabel de Bragança] era uma das únicas pessoas que o Dom Pedro II aguentava as críticas, e até chamava ela de 'sua matraquinha', é o apelido que ele deu a ela justamente porque ela dizia 'vou botar tudo em pratos limpos'. Aí depois ela amaciava o ego do pai, mas dizia tudo que ela queria, era uma mulher de forte personalidade", observou a pesquisadora.
A coragem de se posicionar politicamente de Isabel também é demonstrada pelo seu ato mais famoso: a assinatura da Lei Áurea em 1888. Muito antes deste marco histórico, porém, a princesa já teria sinalizado seu apoio à causa abolicionista mediante ações sutis, conforme os documentos históricos consultados por Fátima. Depois dessa data, Isabel também prossegue politicamente ativa, chegando a ser a presidente de honra de um comitê antiescravagista de mulheres durante seu exílio em Paris.
Para entender melhor os detalhes da vida desta personalidade feminina tão importante para a História do Brasil, confira abaixo a palestra de Maria de Fátima Moraes Argon na íntegra: