Terra arrasada: acovardado pelo fim iminente, Hitler assinava Decreto Nero há 78 anos
Aventuras Na História
Em agosto de 1944, Paris foi libertada. O exército do Terceiro Reich, que antes planejava um império de 1.000 anos, agora estava cada vez mais com as fronteiras reduzidas. Meses depois, os nazistas haviam falhado na Ofensiva das Ardenas e o Exército Vermelho chegou a Auschwitz, livrando do sofrimento milhares de prisioneiros.
Hitler sabia que seu império estava ruindo. Em 16 de janeiro já havia se acovardado em seu Führerbunker, recusava-se a aceitar os termos da rendição incondicional, considerando o ato tão ultrajante quanto a assinatura do Tratado de Versalhes, aponta o The Wired.
Além do mais, segundo Charles B. MacDonald, autor de ‘United States Army in WWII - Europe: the Last Offensive’, pessoas ao redor do führer diziam que ele passou a enxergar o povo alemão como indigno de sua grande missão na história por ter falhado com ele. Portanto, eles mereceriam pagar pelo fracasso.
Assim, conforme os Aliados se aproximavam de sua caça, o líder alemão não viu outra alternativa se não destruir o máximo possível de pistas, evidências e até da própria infraestrutura de seu país.
Em 19 de março de 1945, há exatos 78 anos, Adolf Hitler assinou a ordem de ‘Demolições do território do Reich’ (Befehl betreffend Zerstörungsmaßnahmen im Reichsgebiet), mais tarde apelidado de Decreto Nero.
O Decreto Nero
Com o contexto citado acima, Adolf Hitler sabia que seu fim era questão de tempo. Portanto, em 19 de março de 1945, ordenou que Albert Speer, arquiteto-chefe e ministro do Armamento do Terceiro Reich, destruísse a infraestrutura da Alemanha e de países ocupados.
Albert Speer, arquiteto-chefe e ministro do Armamento do Terceiro Reich/ Crédito: Archiv Faschistisches Deutschland
A tática serviria para impedir que os Aliados que estavam avançando tivessem acesso e se apropriarem das construções nazistas — tática de guerra muito comum conhecida como “terra arrasada”.
A intenção do führer também era acabar com todas as pontes e indústrias alemãs. Mais tarde, a ordem passou a ser conhecida como Decreto Nero, uma alusão ao imperador romano Nero que incendiou Roma.
“É um erro pensar que meios de transporte e comunicação, estabelecimentos industriais e depósitos de abastecimento, que não foram destruídos, ou apenas temporariamente desativados, podem ser usados novamente para nossos próprios fins quando o território perdido for recuperado. O inimigo não nos deixará nada além de terra arrasada quando se retirar, sem prestar a menor atenção à população”, dizia uma seção do Decreto.
O Decreto Nero/ Crédito: Domínio Público
“Ordeno, portanto: 1) Todas as instalações militares de transporte e comunicação, estabelecimentos industriais e depósitos de suprimentos, bem como qualquer outra coisa de valor dentro do território do Reich, que possa de alguma forma ser usada pelo inimigo imediatamente ou em um futuro previsível para o prosseguimento da guerra, que sejam destruídas…”.
Entretanto, conforme repercutido pelo History, Speer ficou horrorizado com o pedido. Ao perder a fé no ditador alemão, se recusou a pôr em prática à ordem. Optando deliberadamente por ignorá-la.
Afugentado do mundo, Hitler só descobriu tal recusa perto do fim do conflito, quando o próprio Albert Speer lhe confidenciou sua desobediência em visita ao Führerbunker, em 22 de abril. Embora possesso, Adolf permitiu a ida do arquiteto-chefe.
A 'traição' não era nenhuma novidade para o führer. Afinal, pouco antes da Libertação de Paris, ordenou que explosivos fossem colocados em torno de marcos importantes da capital francesa, como a Torre Eiffel.
Caso os Aliados se aproximassem, tudo iria abaixo. O governador militar, general Dietrich von Choltitz, incumbido da missão, porém, não cumpriu a determinação e se rendeu. Segundo artigo da Universidade de Yale, havia percebido que “Hitler estava louco”.
Medidas desesperadas
Mas aquilo não significou o fim de seu plano, visto que a destruição de infraestrutura alemã foi colocada em prática, em menor escala, é obvio, em algumas cidades. Um exemplo disso aconteceu em Bremen, em 25 de abril de 1945, quando os nazistas explodiram as duas pontes sobre o rio Weser, aponta o History.
Ponte Kaiserbrücke, em Bremen, destruída pelos nazistas/ Crédito: Domínio Público via Bundesarchive
Mas já era tarde demais. O Exército britânico não só invadiu como também tomou conta da região dois dias depois. 42 dias após a emissão do Decreto Nero, em 30 de abril de 1945, Adolf Hitler se suicidou em seu Führerbunker após se casar com Eva Braun.
Na semana seguinte, em 7 de maio, a rendição alemã foi assinada pelo general Alfred Jodl. Já Albert Speer, por sua vez, acabou sendo preso por ordem de Dwight D. Eisenhower em 23 de maio. Junto dele, o restante do governo provisório também foi detido.
O general Alfred Jodl assinando a rendição militar alemã/ Crédito: Domínio Público
A Segunda Guerra, porém, só acabaria oficialmente em 2 de setembro de 1945, quando o Japão se rendeu de forma oficial, semanas após os Estados Unidos lançarem as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki.