Cientistas da UFRGS demonstram preocupação sobre proposta de canal entre Lagoa dos Patos e Oceano
ICARO Media Group TITAN
Cientistas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) e do Instituto de Biociências (IBIO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) manifestaram sua oposição e preocupação em relação à proposta de criação de um canal entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico que serviria para escoar a água dos rios do estado. A sugestão acerca do canal está sendo estudada pelo governo federal, de acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Em entrevista ao g1, o vice-diretor do IBIO, Luiz Malabarba, chamou a proposta de "uma solução mágica" e expressou preocupação com os possíveis impactos negativos que essa medida poderia acarretar. Ele destacou três principais frentes de impacto: a salinização da água, a erosão do solo e a ameaça às espécies que habitam o ecossistema da região.
A ideia questionada pelos estudiosos seria a de abrir um canal de 20 km, mas ainda não há prazos ou custos estimados para essa obra. O IPH e o IBIO já haviam feito esses comentários nos dias 10 e 13 de maio, antes mesmo de Rui Costa mencionar a possibilidade de estudo sobre o assunto.
O IPH afirmou que a proposta poderia ter efeitos negativos no ambiente, na sociedade e na economia, afetando a navegabilidade da região e a produção agrícola. Além disso, ressaltaram a importância de realização de estudos detalhados antes da implementação de uma obra desse tipo.
A Lagoa dos Patos, apesar do nome, é uma laguna por estar conectada ao mar. É a maior laguna da América Latina, com 265 km de comprimento e 60 km de largura em sua cota máxima, estendendo-se desde Porto Alegre até Rio Grande. Ela equilibra a água doce que chega dos rios, como o Caí, Taquari e Jacuí, e do Lago Guaíba, com a água salgada proveniente do mar através do canal de Rio Grande.
Segundo declaração do ministro Rui Costa, o estudo buscará alternativas que não causem danos adicionais ao meio ambiente, como a salinidade da lagoa. No entanto, o professor Malabarba alertou que a salinização é um dos principais riscos. Ela poderia afetar áreas da laguna, impossibilitando seu uso, por exemplo, na irrigação de plantações de arroz.
Toda a costa do Rio Grande do Sul possui quatro pontos de saída de água doce: o Arroio Chuí, na fronteira com o Uruguai; a Lagoa dos Patos; o Rio Tramandaí e o Rio Mampituba, em Torres. Todos esses pontos são protegidos por molhes, que são estruturas de contenção para evitar a erosão do solo causada pela força da água. A construção de um novo canal poderia expor a região à erosão causada pelas marés e pela água doce.
Outro risco observado é o assoreamento do canal de Rio Grande, que é o principal acesso para navios de carga e cruzeiros de turismo no estado e um dos principais portos do Brasil. Isso poderia levar ao acúmulo de areia, reduzindo a passagem de água no local.
Além disso, a vida de várias espécies da região também seria afetada. Camarões, bagres, tainhas e corvinas habitam tanto o mar quanto a lagoa, dependendo de ambos os ecossistemas para reprodução e alimentação. Por conta disso, centenas de famílias de pescadores também seriam prejudicadas pois dependem das espécies que envolvem essa atividade econômica.
Por fim, o IBIO ressaltou a necessidade de adotar soluções que integrem a natureza, preservando e restaurando ecossistemas naturais como forma de reduzir o risco e o impacto das enchentes.
É fundamental que qualquer obra que afete em larga escala as condições ambientais da região seja precedida de estudos exaustivos sobre possíveis impactos. Se a solução para as enchentes não levar em consideração os alertas dos especialistas pode-se resolver um problema ao mesmo passo que se cria outro.