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A questionável luta de Albert Einstein contra o racismo
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A questionável luta de Albert Einstein contra o racismo

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Mega Curioso
29/08/2021 18h00
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Apesar de fazer parte de uma época em que cientistas não deveriam expressar sua opinião política ou defender sua posição como cidadão, Albert Einstein nunca foi do tipo que se eximiu de seu papel só porque havia uma placa "cientista de renome" pendurada em seu pescoço. Muito pelo contrário, ele usou sua projeção para tentar fazer alguma diferença no que estava ao seu alcance — ainda que sua luta tenha se deparado com controvérsias futuras.

Como um judeu ciente do sistema discriminatório do qual milhares de pessoas sofriam com o antissemitismo, em 1919, ele se tornou a primeira celebridade do campo científico a usar sua plataforma para tentar frear o preconceito, principalmente o racismo.

Indo contra a maré                  

(Fonte: Hypeness/Reprodução)(Fonte: Hypeness/Reprodução)

Assim que Einstein percebeu sua influência no mundo, ele começou a se manifestar em entrevistas defendendo o fim do militarismo e do serviço militar compulsório na Alemanha, tendo renunciado à cidadania alemã aos 16 anos. No judaísmo, o homem usou de sua fama para arrecadar toneladas de dinheiro para a Universidade Hebraica de Jerusalém, falando frequentemente sobre sua identidade judaica, apesar de nunca ter endossado de maneira clara e direta seu apoio ao sionismo.

Convertido para o nazismo , o físico Philipp Lenard, vencedor do Prêmio Nobel por suas pesquisas sobre os raios catódicos, foi uma das pessoas que tentou sabotar Einstein por sua política de identidade que despertou a ira de muitos alemães nacionalistas, racistas e xenofóbicos ao extremo.

Em 1921, após Einstein declarar que estava fazendo de tudo pelos "irmãos de sua raça que são maltratados", Lenard tentou impedir que o comitê do Prêmio Nobel o laureasse. Devido às confusões nos bastidores e o ódio cultuado por Lenard, naquele ano não foi entregue nenhum prêmio de física.

(Fonte: El País/Reprodução)(Fonte: El País/Reprodução)

Apesar dos amigos do cientista, como Paul Ehrenfest e Max e Hedwig Born, implorarem-lhe para que não alimentasse mais a "besta voraz midiática" para que não sofresse mais ataques, o homem não parou.

Em 1931, Einstein criticou pela primeira vez a segregação racial  dos Estados Unidos e o racismo quando se juntou ao comitê de protestos do escritor Theodore Dreiser para se posicionar ao lado dos nove jovens afro-americanos acusados injustamente de estupro no estado do Alabama, no famoso caso dos Scottsboro Boys.

Com o esforço da Associação Nacional para o Avanço de Pessoas de Cor (NAACP) e o Partido Comunista para apelar o caso na Suprema Corte dos EUA, o sentimento anticomunista de pessoas, como Henry Ford  e Robert Millikan, detonou Einstein por se "associar a elementos de esquerda", com Ford até republicando ensaios alemães difamatórios contra o cientista.

O "refugiado mais afortunado do mundo"

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

No mesmo ano, através de um artigo para a revista The Crisis, a convite do sociólogo afro-americano W.E.B Du Bois, Einstein implorou para que os negros não permitissem que os racistas diminuíssem sua autoestima.

Logo após se mudar para Califórnia ao aceitar uma oferta de trabalho, em janeiro de 1933, Adolf Hitler e seu partido de terror assumiram o controle do governo da Alemanha e instauraram uma lei que proibia judeus de lecionarem nas universidades.

Em seguida, a SS invadiu o apartamento de Einstein e sua casa de veraneio sob o pretexto de estarem procurando por armas, porém a verdadeira intenção surgiu quando eles não encontraram nada e estabeleceram uma recompensa de US$ 5 mil pela cabeça do físico, colocando pôsteres com a frase “ainda não enforcado” por toda Alemanha.

Longe da ameaça nazista e com a fama de "refugiado mais afortunado do mundo", o homem continuou a promover a ideia de liberdade individual das pessoas, que poderia ser destruída em nome do nacionalismo e do patriotismo, principalmente na América do Norte.

(Fonte: VulcanoCafe/Reprodução)(Fonte: VulcanoCafe/Reprodução)

“Há separação entre negros e brancos nos Estados Unidos. Essa separação não é uma doença dos negros, é uma doença de brancos. Não pretendo ficar quieto sobre isso”, disse ele em 1946, quando convidado para discursar aos formandos da Lincoln University — a mais antiga faculdade para negros dos EUA.

Após se estabelecer em Princeton, então uma das cidades mais segregadas do país, Einstein se juntou entrou para a NAACP e a Cruzada Americana Contra Linchamento (ACAL), atuando como co-presidente.

Defendendo os direitos civis igualitários e a legislação nacional anti-linchamento, ele passou a ser vigiado pelo Departamento Federal de Investigação (FBI), então sob o comando de J. Edgar Hoover , que seguia se recusando a investigar a Ku Klux Klan , mas que fazia vistas grossas com qualquer movimento negro.

Até a sua morte, o FBI havia formulado um documento com 1.427 páginas sobre sua conduta, que nunca demonstrou irregularidades criminais. 

O outro lado

(Fonte: Global News/Reprodução)(Fonte: Global News/Reprodução)

Em 2018, foram reunidas várias passagens dos diários de viagens de 1920 de Einstein no livro The Travel Diaries of Albert Einstein, editado por Ze'ev Rosenkrantz, mostrando o lado misógino, xenofóbico e racista do cientista; contrariando tudo o que ele tanto pregou e lutou ao longo de sua vida.

Através de viagens com meses de duração que ele e sua esposa fizeram para o Extremo Oriente e o Oriente Médio, o homem revelou suas opiniões preconceituosas e estereotipadas com relação aos povos que conhecia, descrevendo os chineses, por exemplo, como "imundos" e "membros de uma nação peculiar, parecida com um rebanho, muitas vezes mais autômatos do que pessoas".

Rosenkrantz, editor e diretor assistente do Einstein Papers Project, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, disse em entrevista ao Washington Post: "Seria fácil dizer, sim, que ele se tornou uma pessoa mais esclarecida. Mas também que ele tenha continuado a nutrir opiniões racistas em particular".

Ainda é questionada a maneira como Albert Einstein se envolveu com causas que estavam muito longe de sua realidade transformada do alto de seu privilégio científico, apesar de ser um judeu em um dos períodos mais mortais para o seu povo. 

De qualquer forma, seu legado social, ainda que controverso, ficou refletido em como sua influência e envolvimento impediu que injustiças contra ativistas e líderes negros continuassem.

Leia a matéria original aqui.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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