Como um vírus pode escapar de um laboratório?

Mega Curioso






Com o extremismo político e os gabinetes de disseminação de informações falsas, a pandemia de coronavírus cultivou a ideia de que o vírus causador da doença, o Sars-COV2, tenha sido liberado deliberadamente pelo governo chinês para causar uma "reviravolta política" no cenário mundial — ainda que isso significasse a morte de milhares de pessoas, e ruptura econômica de vários países.
Apesar de essa ideia de bioterrorismo ter sido muito cultuada nos Estados Unidos e no Brasil, no mundo todo reacendeu a questão de como um vírus pode escapar de um laboratório de contenção, como aconteceu com a varíola na Grã-Bretanha e a febre aftosa.
A contenção
(Fonte: Scientific American/Reprodução)
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), os laboratórios de microbiologia que lidam com agentes de alta ameaça, como ebola e antraz, possuem 4 níveis de segurança: do Nível de Biossegurança 1 (BSL-1) ao BSL-4, dependendo do tipo de patógenos que está sendo manuseado.
O nível BSL-3 e 4 operam com os mais rigorosos protocolos de segurança porque lidam com agentes já conhecidos por infectar laboratórios, especialmente ao entrar em contato com o ar. Portanto, foram desenvolvidos ao longo de décadas de estudos recursos de segurança para minimizar as possibilidades de uma patógeno escapar pela porta.
(Fonte: Bulb Laboratories/Reprodução)
Isso inclui controle de engenharia especializada, como operação de ar com pressão negativa e ar de exaustão filtrado; processos de descontaminação de resíduos, como autoclavagem; esterilização a vapor ou incineração; e equipamentos de alta proteção. Além disso, a entrada é restrita a trabalhadores que passaram por rigorosos exames para verificação do quadro de saúde e um treinamento intensivo de repetição.
Cada laboratório possuí seus procedimentos para minimizar as possibilidades de violações da contenção, porém existem 3 maneiras básicas pelas quais um patógeno pode escapar do perímetro de segurança.
Vazamento por aerossol
(Fonte: The Economic Times/Reprodução)
Esse método é considerado improvável, visto que os laboratórios possuem sistemas muito tecnológicos de tratamento de ar, que incluem filtragem de partículas de alta eficiência (HEPA) antes que o ar seja liberado do ambiente. Portanto, se torna muito difícil que um vírus consiga driblar esses filtros, principalmente por patógenos não sobreviverem bem ao entrarem em contato com luz solar.
Sobretudo, cientistas trabalham com pequenos volumes de organismos, então um patógeno se dispersaria rapidamente na atmosfera se acabasse escapando, devido sua insuficiência para causar infecção.
(Fonte: CDC/Reprodução)
Em 1979, na cidade de Sverdlovsk, na União Soviética, uma instalação de armas biológicas, chamada Composto 19, causou a morte de 66 pessoas por inalação a antraz depois que os esporos de patógenos escaparam do laboratório quando um técnico esqueceu de substituir um filtro de ar. Além do erro humano, na época os cientistas trabalhavam com volumes muito grandes do vírus, considerado mais resistente ao ar.
A falha foi encoberta através de um esforço massivo das autoridades soviéticas, usando dados falsos na mídia para provar que a doença foi originada da carne contaminada, que teria causado antraz gastrointestinal.
Exposição acidental
(Fonte: Healthline/Reprodução)
É exatamente porque pessoas cometem erros e os sistemas falham que as medidas de segurança em laboratórios possuem métodos de redundância, como as travas de uma montanha-russa.
A checagem de todos os procedimentos acontecem de maneira meticulosa e cansativa sempre que um cientista vai entrar ou, principalmente, sair de um laboratório. É por isso que os trabalhadores se despem e vestem as roupas antes de entrar no perímetro laboratorial, e removem-nas e tomam banho no fim do expediente. Esta é uma maneira simples de evitar que patógenos sejam transportados para fora através de roupas ou cabelo.
Mas, mesmo assim, eles podem cometer o erro de enviar um patógeno acidentalmente para fora do limite de contenção ao se contaminar com ele. Isso aconteceu em 2004 com Antonina Presnuakova, uma cientista altamente experimente da Rússia, que morreu de doença causa pelo vírus Ebola ao se espetar em uma agulha contaminada.
Liberação proposital
(Fonte: Strickendots/Reprodução)
Esse tipo de bioterrorismo é o primeiro que vem em mente quando o assunto é um vírus mortal, devido às conspirações e o histórico de algumas superpotências ao longo do século XX.
Apesar de laboratórios de contenção possuírem sistemas de monitoramento de vídeo 24 horas, existem histórias de patógenos que foram contrabandeados para fora do perímetro.
Em Dalles (Oregon, EUA), o movimento Rajneesh, um grupo de pessoas que seguem os preceitos de Osho, possuía seu próprio laboratório e buscava melhorar sua posição nas eleições do condado contaminando saladas locais com Salmonella. Essa atitude conseguiu causar diarreia severa em pelo menos 751 pessoas. Mais tarde, o culto acabou se dissolvendo e alguns de seus membros foram presos.
Existem um percentual de possibilidade em cada um dos cenários indicados, porém as diretrizes de segurança e os níveis de tecnologia dos laboratórios tentam garantir a cada dia que nenhuma deles se concretize.


