Covid pode estar estragando o apetite das crianças
Mega Curioso
Especialistas da Universidade de East Anglia (UEA), Reino Unido, detectaram que crianças que estão com dificuldades alimentares e vêm se tornando "chatas" para comer podem estar desenvolvendo distúrbios no paladar e olfato, como parte das sequelas deixadas pela infecção do novo coronavírus.
O efeito colateral, conhecido como parosmia, é um antigo conhecido dos grupos de adultos por ter sido recorrente nas primeiras ondas de contaminação, quando era chamado de "covid longa", e indica estar reaparecendo com mais intensidade em outras faixas etárias.
Até o início de 2022, estima-se que cerca de 25 mil adultos no Reino Unido desenvolveram novas culturas alimentares derivadas da parosmia, reclamando sobre a sensação de odores e sabores desagradáveis oriundos de suas refeições, mesmo que os produtos estivessem em perfeito estado de validade e sem qualquer tipo de alteração.
Parosmia para detectar a covid
Nos primeiros meses de contaminação, o sintoma foi parâmetro para detecção da covid-19 no organismo humano e foi amplamente discutido pelas comunidades científicas, indicando efeitos comportamentais a longo prazo em pessoas já infectadas.
Agora, tudo indica que crianças também estão sentindo os efeitos da parosmia e podem estar ficando "chatas" para comer, alegando sensações ruins enquanto se alimentam e, em casos extremos, parando de realizar refeições cotidianas.
Casos relatados no Reino Unido vêm preocupando especialistas e familiares, e sugerem perda de quilos em pacientes diagnosticados com o distúrbio, além de uma série de outros problemas que podem se agravar caso não sejam devidamente tratados.
(Fonte: Getty Images / Reprodução)
"Para algumas crianças — e particularmente aquelas que já têm dificuldades com a alimentação ou outras condições, como autismo — pode ser bem difícil. Eu imagino que haja muitos pais intrigados e realmente preocupados. Em muitos casos, a condição está afastando crianças da comida, e muitas podem estar tendo dificuldades em comer qualquer coisa", afirma o professor Carl Philpott, da UEA.
Treinamento alimentar
Em parceria com a entidade Fifth Sense, organização responsável por cuidar e tratar pessoas com deficiências no olfato e paladar, Philpott lançou um manual para ensinar os pais a lidar com questões envolvendo sintomas da parosmia nos filhos.
Segundo o autor, manter um diário com uma relação de alimentos seguros, ou seja, que não prejudicam a experiência da criança, e incentivar a procura por comidas de gosto mais leve, são medidas importantes para contornar os sintomas e garantir a saúde de jovens e adolescentes. Além disso, praticar o "treinamento do olfato", que consiste em fazer a criança cheirar vários odores diferentes diariamente e por vários meses, pode auxiliar em uma recuperação mais eficiente.
"Ouvimos de alguns pais, cujos filhos têm enfrentado problemas nutricionais e perderam peso, mas médicos dizem que se trata apenas de crianças chatas para comer", conclui o professor. "Nós estamos muito dispostos a compartilhar mais informação sobre essa questão com o setor de saúde, para que eles estejam cientes de que existe um problema maior aqui."
De acordo com o Abscent, a parosmia é uma parte normal do processo de perda de olfato que ocorre quando a criança está se recuperando e pode chegar a durar de duas a três semanas, sendo bastante intensa em seus estágios iniciais e podendo gerar repulsa alimentar caso não seja adequadamente acompanhada.