Frankenstein: por que o monstro ganhou a cor verde nos filmes?
Mega Curioso
Se você precisa imaginar o monstro de Frankestein , como você monta a aparência da criatura na sua cabeça? É muito provável que algumas características se repitam: a altura, a cabeça quase em formato retangular, os parafusos na altura do pescoço e a tradicional pele na cor verde.
Apesar de essa ser a aparência tida como clássica do personagem, reproduzida com frequência em vários filmes e desenhos, a descrição não bate com o que foi escrito pela autora da obra original. No livro de Mary Shelley (1797-1851), lançado em 1818, ele até tem outra cor — e foi só ao longo dos anos que modificações transformaram radicalmente o visual do monstro. Mas por quê?
O monstro original
A criatura sem nome, criada pelo doutor Victor Frankestein em seu laboratório, é citada por Shelley como um homem de 2,4 metros. Ele tem cabelo escuro e dentes muito brancos que contrastam com seus lábios na cor preta.
Já a pele é amarelada e não há detalhes sobre a existência de cicatrizes ou costuras evidentes — muito menos os parafusos que, posteriormente, seriam adicionados ao visual para indicar por onde a eletricidade foi transportada na criatura.
Mary Shelley. (Fonte: Wikimedia Commons)
Aliás, o primeiro livro "Frankenstein ou o Prometeu Moderno" nem sequer entra nos detalhes científicos, sem explicar como o cientista realizou o experimento que deu vida ao monstro.
Essa abordagem da obra original, entretanto, não sobreviveu por muito tempo. Na adaptação teatral de Richard Brinsley Peake por exemplo, o monstro ganhou uma pele "azul clara ou acinzentada".
A criatura esverdeada
O maior problema em representar a tonalidade da criatura viria com o cinema: em filmes filmados e exibidos em preto e branco, como representar um indivíduo de pele tão peculiar?
O monstro do Edison Studios. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Na adaptação feita em 1910 pelo Edison Studios, de Thomas Edison (1847-1931), a criatura tem uma aparência mais descuidada, inclusive com cabelos desgrenhados — mas sem alterações no tom de pele.
Foi só em 1931 que essa característica se estabeleceu, graças ao longa-metragem Frankestein lançado pela Universal. Dirigido por James Whale (1889-1957), o filme traz Boris Karloff (1887-1969) no papel do monstro pela primeira de muitas vezes.
Karloff durante o longo processo de maquiagem para Frankenstein.
Entre a equipe técnica, o responsável pelo figurino do monstro foi Jack Pierce (1889-1968), que trabalhou em outras películas de horror do estúdio. Pierce criou o visual que foi imortalizado, com o formato retangular e os parafusos.
A cor verde foi adotada por motivos práticos: no filme em preto e branco, tons de verde se transformavam em uma tonalidade pálida, quase cadavérica, que trazia um ar assustador ao personagem e o diferenciava dos demais atores.
Os pôsteres da franquia com a cor verde já oficializada. (Fonte: Universal Studios)
A maquiagem foi reproduzida em pôsteres de divulgação da obra e, ao longo dos anos e das sequências, virou parte integral da criatura. O terceiro filme da franquia, O Filho de Frankenstein (1939), quase foi rodado em cores — e um teste de maquiagem com Karloff com o rosto esverdeado pode ser visto no YouTube .
Até o Frank, personagem da Turma da Mônica, homenageia a criatura de pele verde. (Fonte: Maurício de Souza Produções)
A Universal foi a detentora dos direitos do personagem por décadas, embora outros estúdios tenham lançado as suas próprias versões com modificações.
É o caso de A Maldição de Frankenstein, de 1957, que traz o ator Christopher Lee interpretando uma versão da criatura com a pele mais pálida e ferida.
O Frankestein de Lee. (Fonte: Hammer Films)
O sucesso dos filmes da Universal, a boa ideia de Pierce adaptada para os filmes coloridos e, posteriormente, a adição do personagem em outros inúmeros produtos culturais fizeram com que a cor verde fosse imortalizada no monstro.