Harmônica de vidro: o belo e controverso instrumento musical
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Benjamin Franklin (1706–1790) não foi apenas o pai fundador dos Estados Unidos, cientista, filósofo, escritor e inventor, mas também tinha um exímio talento para a música, sabendo tocar violão, harpa e viola da gamba.
Em 1761, porém, foi o ano em que o polímata deu um passo a mais em sua gama de talentos, quando compareceu a um concerto em Londres onde o músico principal tocou um conjunto de taças de vinho. Enquanto se deleitava com aquele som lindo e único, ele refletiu que o instrumento não era exatamente funcional.
Foi então que Franklin decidiu resolver o problema criando uma versão mais avançada do instrumento, mas que preservasse a beleza daquele som. Assim nasceu a harmônica de vidro.
A revolução acústica
(Fonte: John Roach/Reprodução)
O instrumento era constituído de uma barra de ferro com uma espécie de tigelas que se encaixavam uma dentro da outra, todas presas com cortiça. A haste que mantinha o conjunto preso era atada a uma roda, girada manualmente por meio de um pedal.
Os tamanhos variados dessas tigelas permitiam que vibrassem em diferentes tons quando o músico mergulhava os dedos na água e tocava a borda de cada uma delas conforme o instrumento girava.
(Fonte: Benjamin Franklin House/Reprodução)
Franklin codificou essas tigelas com cores que representavam notas diferentes, tornando possível ir além das notas simples e incorporar vários acordes e melodias ao instrumento, aprimorando ainda mais aquela nova versão.
Com esse requinte todo, não demorou muito para que a harmônica de vidro começasse a ser usada de maneira profissional por grandes músicos e compositores, como Beethoven e Mozart, se consolidando como um ícone no mundo da música.
Até que os problemas começaram a aparecer.
Belo desastre
(Fonte: Vice/Reprodução)
De repente, de algo bonito e requintado, a harmônica de vidro recebeu a alcunha de o instrumento mais mortal do mundo quando os artistas que o operavam, supostamente, começaram a morrer.
A harmônica superestimulava a complexidade do cérebro, causando tonturas, nervosismo, alucinações e cãibras entre os artistas que treinavam várias horas por dia. Em 1808, quando a tocadora alemã Marianne Kirchgessner faleceu, muitas pessoas atribuíram a causa de sua morte aos efeitos nocivos provocados pela invenção de Franklin, como o envenenamento por chumbo devido ao contato constante com a tinta usada para pintar a cor de cada tigela.
Após provocar estragos nos corpos e mentes dos artistas, os danos então passaram a afetar o público que ouvia o som do instrumento. Uma criança na Alemanha morreu durante uma apresentação onde a harmônica era tocada, resultando na proibição definitiva do instrumento em algumas cidades do país.
Em meio a toda essa histeria coletiva, o instrumento também ganhou um aspecto sobrenatural. Muitos passaram a acreditar que o som agudo invocava espíritos, causando até possessões daqueles que a tocavam — como se a loucura alegada já não fosse o suficiente.
No final das contas, nenhuma dessas afirmações jamais foram comprovadas, inclusive o próprio Benjamin Franklin decidiu por ignorá-las e seguir tocando sua invenção até o dia de sua morte, em 17 de abril de 1790.
As 5 mil peças que foram construídas, acabaram desaparecendo entre o tempo, conforme o instrumento foi sendo banido e esquecido por pura superstição e medo.