Jeanne Baret: a primeira mulher a circunavegar o mundo
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Na Idade da Exploração, navegar pelos sete mares era um trabalho exclusivo para os homens. Mesmo assim, isso não impediu a francesa Jeanne Baret de driblar todas as expectativas e marcar seu nome na história como a primeira mulher a explorar o mundo em um navio no ano de 1774.
Botânica por profissão, Baret almejava desbravar outros lugares pelo planeta, mas sempre esbarrou na proibição da marinha francesa sobre a presença de mulheres em suas embarcações. Foi então que com seu amante e ex-chefe, Dr. Philibert Commerson, os dois elaboraram um plano para colocá-la em alto mar.
História de amor
(Fonte: Google/Reprodução)
Nascida em julho de 1940 na cidade de La Comelle, Baret nasceu em uma pobre família camponesa. Embora sem grandes privilégios financeiros, sua vida no ambiente rural e o trabalho de seu pai fizeram com que ela desenvolvesse uma paixão por plantas, o qual lhe rendeu o apelido de "mulher das ervas" quando jovem.
Sua curiosidade pela botânica fez com que ganhasse uma vaga trabalhando para Commerson. Em primeiro lugar, ela deveria atuar como doméstica, mas mesmo assim poderia acompanhar de perto todas as atividades de um importante naturalista francês.
Por conta de suas atividades, Philibert precisou se locomover até a cidade natal de Jeanne para coletar alguns espécimes de plantas e nesse meio tempo se viu apaixonado por sua empregada após a morte de sua esposa em 1762. Com o tempo, os dois desenvolveram uma família e se mudaram para Paris.
Na capital francesa, Baret passou a dar aulas de botânica para seu par amoroso, que havia desenvolvido grande parceria com alguns membros da elite da cidade. Como resultado, o naturalista acabou sendo convocado para ser um importante membro em uma missão de exploração de novos territórios em 1766 — mas desejava a companhia de sua amada.
Navegando pelo mundo
(Fonte: Wikimedia Commons)
Quando Commerson foi convidado pelo Almirante Louis-Antoine de Bougainville a viajar pelo mundo, ele logo passou a insistir que sua mulher pudesse acompanhá-lo no trajeto. Como resposta, o pesquisador ouviu que a marinha francesa tinha regras estritas sobre o tema e nenhuma exceção poderia ser concedida para que uma mulher entrasse no navio.
Mas isso não impediu os planos dos apaixonados. Como forma de criar um disfarce, os dois optaram por amarrar um tecido em volta da região do peito de Baret para esconder sua silhueta e vesti-la em roupas mais largas de marinheiro. Assim, Commerson poderia apresentar sua mulher como um marujo em potencial.
Inacreditavelmente, o plano acabou dando certo. Por conta de todos seus equipamentos científicos, os dois puderam se alojar nos aposentos do capitão e escreveram seus nomes na história na circunavegação — essa foi a primeira expedição de todos os tempos a ter um naturalista a bordo.
Após partir de Nantes em 1766, a embarcação fez sua primeira parada na América do Sul. Durante a viagem, Philibert acabou ficando doente e Baret foi quem teve que descer para coletar amostras. Em uma de suas expedições locais, ela descobriu uma curiosa trepadeira florida que ficou batizada como Bougainvillea brasiliensis em homenagem ao almirante do navio.
Queda do disfarce
(Fonte: Wikimedia Commons)
Durante todo seu tempo com a tripulação, Jeanne utilizou o nome de "Jean" para esconder sua identidade dos demais membros da expedição. O disfarce chegou a dar certo por mais de um ano, mas passou a ser questionado quando o navio chegou ao Pacífico Sul.
Como Commerson e Baret dividiam a mesma acomodação, era mais fácil para os dois evitarem serem descobertos. Entretanto, como nenhum dos marinheiros havia visto o suposto homem urinar em público ou trocar de roupa na frente deles, alguns burburinhos começaram a rolar pelo convés.
Historicamente, poucos arquivos falam a respeito sobre como Baret foi descoberta por seus colegas marinheiros. Uma das teorias indica que tudo aconteceu quando um taitiano subiu a bordo do navio e imediatamente se referiu a ela com uma palavra que significa "travesti", uma prática que era comum no Taiti.
Outra história sugere que membros da tripulação a encurralaram em Nova Guiné e a estupraram. A evidência para isso estaria no fato de Baret ter sido mantida em isolamento por nove meses e parido assim que a embarcação chegou nas Ilhas Maurício, no Oceano Índico. Após 22 meses viajando pelo mundo, Jeanne e Commerson foram expulsos do navio.
Legado para as próximas gerações
(Fonte: Wikimedia Commons)
Durante os sete anos seguintes, Baret montou morada nas Ilhas Maurício. Lá, ela deu seu segundo filho para a adoção e viu seu amado morrer em 1773. Posteriormente, acabou se casando com outro homem francês e eventualmente acabou retornando à França em 1774, completando sua jornada marítima.
Em sua volta para casa, a bióloga foi gratificada com uma bela recompensa financeira por seus trabalhos pela família de Commerson. Mas a maior surpresa veio em 1785, quando passou a receber uma pensão da marinha francesa, que a reconheceu como uma "mulher extraordinária".
Apesar de todo seu trabalho inacreditável para desbravar o mundo, Baret só foi ser verdadeiramente reconhecida pelos seus feitos na última década. Em 2010, a biografia A Descoberta de Jeanne Baret foi publicada pela primeira vez e uma nova espécie de erva-moura sul-americana foi batizada de Solanum baretiae em sua homenagem em 2012.