Mergulho de saturação: uma das profissões mais arriscadas do mundo
Mega Curioso
Eles são responsáveis por desempenhar tarefas submarinas, como intervenção, instalação e descomissionamento de poços de petróleo, em até 300 metros abaixo da superfície do mar. Para qualquer outra pessoa que olha o lado bom da profissão, ou seja, os zeros que pode acumular na conta bancária no final do mês, acaba ficando impressionado. Isso porque o salário dessas pessoas varia entre US$ 30 mil a US$ 45 mil por mês, gerando uma renda fixa de mais de US$ 180 mil por ano, com acréscimos e bonificações.
Os trabalhadores vivem, literalmente, sob uma pressão imensa em uma cisterna com 12 pessoas por um período de 28 dias, por vezes trabalhando em trios com um total de quatro equipes mergulhando em um período de 8 horas consecutivas.
Essa é a profissão dos mergulhadores de saturação, um dos trabalhos menos conhecidos e mais perigosos do mundo.
Enfrentando a escuridão
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
“O primeiro mergulho, que por lei só pode durar 8 horas, dois mergulhadores ficam na água e outro ficará no sino, para emergências, chamamos essa pessoa de mergulhador resgate”, relatou o mergulhador de saturação Sam Archer, em entrevista ao The Guardian.
Esses profissionais precisam viver em uma câmara pressurizada no meio de um navio ou na superfície da água, próximo ao convés, por no máximo 28 dias, pois é o limite do corpo humano para operar em tais condições. Diariamente, quando é o momento de mergulhar, eles são transferidos para uma cápsula pressurizada menor chamada sino, que desce até o fundo do mar para a realização das tarefas.
“Quando acaba o dia de trabalho, a pessoa tem direito a um banho e uma refeição, preparada e enviada na hora. Depois de uma viagem, por lei, a pessoa precisa ter no mínimo um mês de folga antes de poder voltar, mas a maioria das pessoas fica bem menos”, declarou Archer.
(Fonte: Atlas Obscura/Reprodução)
O risco da profissão é o resultado da única saída para a indústria de petróleo e gás, que precisa ir até o fundo do mar para realizar manobras, como manter ou desmontar poços, plataforma e oleodutos offshore; inverter fluxo de válvulas e apertar parafusos com macacos hidráulicos. Tudo o que veículos operados remotamente não tem a precisão ou o juízo necessário para realizar.
Foi em meados de 1930 que experimentos mostraram que o corpo humano fica totalmente saturado com gás inerte após certo tempo sob pressão, podendo se manter assim de maneira indefinida, desde que o corpo passe por um longo processo de descompressão no final.
Na década de 1964, foi construído o primeiro Laboratório Marítimo, um alojamento envolto em metal que ficava a uma profundidade de 58 metros no fundo do mar, ocupado por aquanautas navais. Foram eles que provaram aos engenheiros e cientistas que era possível se movimentar sem muito esforço pela casa subaquática pressurizada, dando um passo promissor em direção ao que seria a profissão de mergulho de saturação.
Ficou claro que seria mais fácil e barato monitorar e dar suporte aos mergulhadores se essas estruturas não ficassem no fundo do mar, mas fizesse uma descida até lá.
Uma profissão para poucos
(Fonte: PerthNow/Reprodução)
Muitas pessoas que encaram o trabalho são como Archer, sonharam com isso desde criança, em alguns casos porque o mergulho em alto mar é o mais próximo que alguém pode chegar do espaço na Terra, andando em partes do mundo que o homem nunca pisou, bem como vendo coisas que poucas pessoas verão.
Apesar disso, o mergulho por saturação exige muito mais do que amor. É necessário inteligência aguçada, com entendimento de matemática e física muito acima da média, fora o esforço físico. Os mergulhadores precisam ter músculos resistentes e estar em forma para conseguir, por exemplo, operar tubos de 20 quilômetros com parafusos que podem pesar até 90 quilos cada.
“Também é preciso ser corajoso. Isso ajuda. Significa muito você sair de um sino de mergulho debaixo d’água no breu total. Não é para qualquer um”, ressalta Archer.
(Fonte: The Independent/Reprodução)
A todo o momento, os mergulhadores pairam sobre a linha tênue da morte devido ao ambiente no qual estão inseridos. Qualquer erro ou não inspeção de um protocolo de segurança, cujos exercícios são desempenhados a todo o momento e precisam de checagem quando alguém está do lado de fora do sino, pode levar a um resultado catastrófico.
Esse é só mais um dos motivos pelo qual não há espaço para tensão entre os mergulhadores. Todos precisam se dar bem e ter uma relação de irmandade, portanto, a tolerância, como parte do convívio, é essencial para um trabalho bem feito. Sobretudo quando há tanto dinheiro e competitividade para ganhar destaque ou faturar ainda mais em um espaço tão reduzido, onde a vida de um depende do profissionalismo do outro.
Ou seja, no final das contas, não se trata apenas de mergulhar, esse, provavelmente, é o último requisito na lista de competências e exigências. O mergulho por saturação pode ser uma carreira infernal, principalmente por poucos conseguirem empregar o papel.