Por que mulheres ricas furtavam roupas na Era Vitoriana?
Mega Curioso
Durante o século XVIII, uma epidemia tomou conta das ruas no Reino Unido. Com o crescimento das indústrias, a produção em massa e a expansão das lojas e comércios, o número de furtos passou a crescer vertiginosamente por todas as praças. O problema, porém, é que boa parte dos responsáveis não eram pessoas necessitadas.
Nessa época da sociedade, o consumismo se estabelecia cada vez mais como uma tendência entre aqueles com maior poder aquisitivo e ostentar era mais uma forma de mostrar seu lugar social. Por conta disso, não eram raros os casos de mulheres de famílias ricas furtando roupas durante a Era Vitoriana.
Aparição de grandes lojas
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em meados do século XIX, lojas de departamentos começaram a pipocar por vários cantos da Grã-Bretanha. O que antes necessitava de uma pesquisa pelo bairro para adquirir, agora poderia ser feito no mesmo lugar. A ideia era o preceito do que hoje conhecemos como os shopping centers.
Portanto, pela primeira vez na história as pessoas poderiam ir para um prédio de cinco andares para comprar um único item e serem forçadas a passar por diversos outros produtos no meio do caminho. Não demorou muito para que consumir se tornasse um sinônimo de poder aquisitivo e a necessidade deixasse de ser regra.
Por esse motivo, parte dos furtos durante a Era Vitoriana ocorriam principalmente entre mulheres por volta dos 30 anos e casadas, conforme descreve o livro Shoplifting (2018), de Shelley Tickell. Mesmo assim, era mais comum que as pequenas lojas fossem alvo de crimes do que os luxuosos novos comércios.
O principal motivo para isso era porque esses locais despertavam menos atenção de terceiros e a familiaridade com os vendedores permitia aos "clientes" roubarem peças sem serem notados enquanto isso.
Moda feminina
(Fonte: Lewis Walpole Library)
Mas se boa parte das ladras vinha de famílias ricas, por que esses crimes aconteciam? Nesse período da história, a disparidade entre classes era menos brutal do que acontece nos dias de hoje. Portanto, mulheres mais abastadas financeiramente ainda tinham obrigações com a família para cumprir e os salários ainda eram relativamente baixos — especialmente para aquelas classificadas como classe média.
Roubar algo que você poderia comprar se tornou algo tão comum nessa região que pela primeira vez na história essas mulheres foram chamadas de "cleptomaníacas" — vítimas de uma condição médica e da sociedade consumista em vez de seres criminosas convictas.
A cleptomania foi rapidamente entendida como uma condição inerentemente feminina, prova de instabilidade e inferioridade. Entretanto, esse era um rótulo utilizado somente entre as classes mais altas para que essas mulheres com status social não fossem simplesmente chamadas de ladras, enquanto a parcela da população mais pobre continuaria sendo marginalizada.
Feminilidade no crime
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em geral, a origem do termo cleptomania tornou-se um amuleto para o machismo e para o classicismo. Homens também eram vistos furtando lojas, mas só eram descritos como cleptomaníacos quando sofriam um trauma na cabeça ou de algum tipo de doença, enquanto isso era algo inerente as mulheres.
Entretanto, a participação de mulheres no roubo de lojas pode ser explicada por dois fatores importantes. Em primeiro lugar, o aparato de vestimenta feminino tornava muito mais fácil esconder coisas de dentro de um comércio do que as simples calças usadas pelo público feminino. Por esse motivo, elas possuíam maior taxa de sucesso.
Além disso, a maioria das lojas de departamento e espaços de moda eram vistos pela sociedade como ambientes exclusivamente femininos, o que permitia com que as ladras se misturassem com facilidade. Isso fez com que uma pequena parcela da população feminina na Era Vitoriana até mesmo se especializasse na arte do crime e repetissem esses atos com o incentivo de sentirem adrenalina pela possibilidade de serem pegas.
Conclusão: furtar não era uma questão única de necessidade, mas também de afirmação social, imposição de valores, desejo de autoafirmação e vontade de correr riscos.