Por que Stalin perseguiu e torturou centenas de médicos?
Mega Curioso
Quando o chefe máximo de uma nação começa a ficar paranoico com o poder qualquer coisa é possível, principalmente se as situações envolvem líderes autoritários. Um exemplo disso foi o ditador soviético Josef Stalin que, em 1953, prendeu, torturou e mandou executar vários dos melhores médicos de Moscou — além dos muitos que morreram na prisão.
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Para o líder soviético, esses profissionais estavam conspirando para assassinar altos funcionários comunistas. Não se sabe exatamente quantos foram perseguidos por Stalin, mas, para alguns pesquisadores, podem ser centenas.
O grupo principal era composto de 37 médicos e suas esposas, presos entre 1951 e janeiro de 1953, sendo que até março desse ano vários outros foram capturados. Essa perseguição implacável aos profissionais da Saúde foi batizada de Conspiração dos Médicos. Mas o que estava por trás disso?
A morte do amigo
Em agosto de 1948, Andrey A. Zhdanov morreu, ele era um importante funcionário do partido comunista e amigo próximo de Stalin. Inicialmente a morte de Zhdanov foi considerada natural. Porém, 4 anos mais tarde, surgiram boatos de que ele recebera cuidados médicos impróprios, o que teria agravado seu quadro causando a morte.
Tudo piorou para os médicos de Moscou quando, em 13 de janeiro de 1953, os jornais Pravda e Izvestiya publicaram que nove médicos que atendiam lideranças soviéticas importantes foram presos.
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Entre eles, seis eram judeus. Aliás, Stalin não via com bons olhos a solidariedade internacional direcionada aos judeus após a fundação do Estado de Israel. Esses profissionais foram acusados de envenenar Andrey A. Zhdanov e de serem traidores que trabalhavam para os serviços de inteligência da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. Segundo a imprensa, todos assinaram suas confissões de culpa.
A paranoia de Stalin
Os motivos para as ordens de prisão e torturas contra os médicos remontam ao que aconteceu após o fim da Segunda Guerra Mundial: a Guerra Fria. Além disso, depois da vitória contra Hitler , o líder soviético foi acometido por algum tipo de colapso físico que exigiu que ele se afastasse das atividades políticas.
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Doente, Stalin temia que qualquer um de seus tenentes conquistasse o poder dominante, assumindo o papel de ser seu herdeiro indiscutível. Para alguns pesquisadores, a Conspiração dos Médicos foi o início de uma série de prisões que revelaram conspirações mais complexas e a paranoia do ditador soviético em manter o poder.
Alguns até sugerem ser possível que esses eventos direcionados contra médicos judeus fossem uma desculpa ou apenas o começo de outras possíveis iniciativas que Stalin pretendia implementar para limpar o partido de potenciais inimigos e concorrentes.
Às vezes, as decisões de Stalin eram conflitantes. Um exemplo foi o caso da cientista judia Lena Shtern, julgada em 1952 com base em acusações forjadas. Stalin poupou a vida dela, mas a manteve presa por 5 anos, sendo solta muito provavelmente porque era a maior especialista em longevidade da União Soviética , um campo que intrigava o líder já idoso.
Em alguns casos, a nacionalidade nem importava. Dmitri Shostakovich, um dos mais importantes compositores soviéticos do século XX, relatou em suas memórias o caso do psiquiatra de renome mundial, Vladimir Bekhterev, que, aos 70 anos, foi chamado para avaliar a saúde do ditador. O bom médico concluiu que o líder de seu país estava doente e, talvez, paranoico. E não estava errado: Bekhterev morreu pouco tempo depois envenenado pelo próprio Stalin.
A salvação
Yakov Rapoport, um dos médicos sobreviventes, escreveu um livro sobre seu calvário: O complô dos médicos de 1953, publicado em 1988. (Fonte: BBC/ Reprodução)
O calvário dos médicos perseguidos por Stalin acabou de uma maneira inusitada: com a morte do ditador. O povo soviético, especialmente os judeus do país, ainda tiveram outra surpresa, quando, cerca de 1 mês após a notícia do falecimento, seu sucessor, Nikita Khrushcev, admitiu que Stalin havia inventado as acusações e mandou libertar os médicos que ainda estavam vivos.