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'Renascer' e outras 10 novelas que inovaram ao falar de preconceito
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'Renascer' e outras 10 novelas que inovaram ao falar de preconceito

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Mega Curioso
21/10/2021 17h30
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Recentemente, a Globo disponibilizou a clássica novela Renascer, de Benedito Ruy Barbosa, em seu serviço de streaming. Entre a saga rural de José Inocêncio (Leonardo Vieira/Antônio Fagundes), havia o drama da jovem Buba. Lá pelas tantas, em uma cena emocionante, Buba revela seu grande segredo: ela é "hermafrodita" (termo já em desuso para pessoas intersexo).

Buba havia nascido com as duas genitálias, masculina e feminina, mas seu pai decidiu lhe criar como menino, batizando-a como Alcides. Porém ela não se identificava dessa forma e decidiu viver como mulher — porém seus documentos continuaram masculinos. Ela também sonhava em ser mãe de um filho de seu amado e cuida de uma menina de rua para adotar seu filho.

A história comoveu o público da época e transformou a carreira da atriz Maria Luísa Mendonça, que viveu Buba. Mas essa não foi nem a primeira, nem a última vez que os autores de novelas usaram suas histórias para falar das transformações da sociedade no que diz respeito a gênero e sexualidade. Nessa lista, a gente mostra outras dez produções que inovaram nesse sentido, em ordem cronológica.

Essa lista foi inspirada no especial Orgulho Além da Tela, sobre a representatividade LGBTQIA+ nas novelas. Lançado recentemente, ele está disponível no Globoplay, em três episódios.

1. Assim na Terra como no Céu (1970)

Imagem: Globo/ReproduçãoImagem: Globo/Reprodução

O primeiro personagem claramente homossexual das novelas foi vivido por Ary Fontoura nessa novela de Dias Gomes . A história central era a investigação do assassinato de uma moça, noiva de um homem largou a batina para se casar. Já o personagem de Ary, Rodolfo Augusto, era um costureiro parte do núcleo cômico, completamente alheio à trama central. 

Todos os registros da novela se perderam em incêndios na Globo nos anos 1970, mas conta-se que o personagem acabou sendo caricato — já que essa era a única maneira que o público iria aceitar esse personagem. A censura até implicou com Rodolfo Augusto, mas ele permaneceu.

2. O Rebu (1974)

Imagem: Rede Globo/ReproduçãoImagem: Rede Globo/Reprodução

Essa história de Bráulio Pedroso é inovadora em vários sentidos e já entrou na nossa lista dos melhores quem matou das novelas . Ela também tinha um caso homossexual, ainda que muito velado: com o passar dos capítulos, descobre-se que o velho Mahler (Ziembinski) sustentava o garotão Cauê (Buza Ferraz) e tinha ciúmes dele. O caso ficava implícito.

Esse é o motivo que leva Mahler a matar Sílvia (Bete Mendes), como é descoberto no final da história. Durante toda a novela, os dois personagens aparecem tristes, como se o caso fosse um peso em suas vidas. Mesmo assim, Bráulio Pedroso inovou com essa abordagem — além disso, duas personagens secundárias saem juntas da festa do último capítulo, sugerindo uma possível paixão entre as duas.

Depois de O Rebu, houve outro personagem que sofria por ser homossexual nas novelas: Agenor, vivido por Rubens de Falco em O Grito (1975). Porém, tudo era feito de forma bem implícita, sem que ninguém falasse disso diretamente, para não incomodar a censura .

3. Brilhante (1981)

Rede Globo/ReproduçãoRede Globo/Reprodução

Em 1978, Gilberto Braga escreveu seu primeiro personagem gay: o mordomo Everaldo, de Dancin' Days. Mas o próprio Giba admite que era algo caricato, já que era o possível para a época. Ainda assim, poucos anos depois, ele tentou fazer uma abordagem mais séria.

A novela Brilhante era centrada na família Newman, comandada pela rígida matriarca Chica (Fernanda Montenegro). Ela quer, a qualquer custo, que seu filho Inácio (Denis Carvalho) tome jeito na vida, se case e assuma a direção das empresas da família. Só que o rapaz é gay.

Chica tenta contratar a mocinha da novela (Vera Fischer) para casar com o rapaz por dinheiro, mas ela recusa. Leonor (Renata Sorrah) acaba aceitando, porém o casamento não dá certo e Inácio acaba terminando a novela viajando com um "amigo".

Claro que nada disso foi falado abertamente durante a novela. Chica só se mostrava incerta sobre o filho e precisava pagar para uma moça casar com ele... Tudo nas entrelinhas. Só em um capítulo Vera Fischer menciona o termo "problemas sexuais" e a cena não foi censurada.

4. Vale Tudo (1988)

Imagem: Rede Globo/ReproduçãoImagem: Rede Globo/Reprodução

Mais uma inovação com Gilberto Braga, dessa vez com duas moças lésbicas. Embora Laís e Cecília não trocassem carinhos e nunca afirmassem ser um casal, elas estavam sempre juntas e tinham uma pousada em Búzios "em sociedade". Pra bom entendedor...

Há uma lenda urbana de que Laís (Lala Deheinzelein) foi morta porque o público não aceitou o casal lésbico. Isso é mentira: o plano dos autores era mesmo matar a personagem e mostrar o drama de Cecília (Cristina Prochaska), que perde a pousada das duas. O casamento entre duas pessoas do mesmo sexo era impossível, na época, então os cônjuges não tinham direitos. 

Já pelo meio da novela, o drama é resolvido e Cecília fica com a pousada. No fim da história, ela até conhece outra moça. Por mais que as palavras "lésbica" ou "casal" nunca tenham sido usadas para se referir às duas, o tema já pode ser tratado mais abertamente.

7. Tieta (1989)

A história de Tieta é simples: a personagem-título é escorraçada de Santana do Agreste por ser muito moderna e volta, 20 anos depois, para virar a cidade de cabeça para baixo. Ela tem "negócios" em São Paulo, que a deixam rica, que são cuidados por sua procuradora Ninete.

O assunto do preconceito é abordado quando Ninete — citada inúmeras vezes ao longo dos capítulos — brota em Santana do Agreste lá pelo meio da história. Ela é vivida por ninguém menos que Rogéria. Numa cena hilária, Ninete é assediada por um homem num bar e revida com um soco na cara dele, dizendo: "E fique sabendo que meu nome é Waldemar!"

No capítulo seguinte, a cidade inteira está falando disso. Há outra cena sensacional em que Tieta (Betty Faria) discute com Ricardo (Cassio Gabus Mendes) sobre Ninete: ele é contra e ela diz que todos devem viver sem preconceitos. É a cena embedada logo acima. 

6. A Próxima Vítima (1995)

Imagem: Rede Globo/ReproduçãoImagem: Rede Globo/Reprodução

Com a redemocratização e o fim da censura (Vale Tudo foi a última novela a sofrer com isso), os autores tiveram mais liberdade para tratar desses assuntos. Alguns personagens puderam aparecer, como José Luís (de Mico Preto, 1990) e a própria Buba, que citamos no início. 

Anos depois, outro grande progresso aconteceu quando Jefferson e Sandrinho (Lui Mendes e André Gonçalves) viveram o primeiro casal gay que discutiu o tema abertamente nas novelas. 

O autor Sílvio de Abreu teve o cuidado de mostrar os meninos como bons filhos, construir bem a amizade dos dois, até chegar na revelação da sexualidade. A mãe de Sandrinho o aceita e a família de Jefferson tem mais dificuldade — mas os dois acabam juntos e felizes. É interessante citar que Jefferson era negro, na primeira família negra de classe média alta das novelas. Outro tipo de preconceito abordado com essa história.

7. As Filhas da Mãe (2001)

Depois da aceitação de Jefferson e Sandrinho em A Próxima Vítima, Sílvio de Abreu achou que o público já estava mais receptivo e trouxe um casal de lésbicas na sua novela seguinte, Torre de Babel (1998). Sabia-se que uma das duas ia morrer e a outra ia se aproximar da personagem de Glória Menezes, como amiga. 

A ideia de Sílvio era mostrar a amizade de uma pessoa gay e outra hétero. Mas a imprensa logo espalhou que Glória Menezes "ia virar sapatão" e a rejeição foi tão grande que o autor precisou matar as duas na explosão do shopping, que era o mistério da novela .

Em 2001, o mesmo autor foi escrever uma comédia para o horário das sete, As Filhas da Mãe. Era a história de três herdeiras de uma mãe sumida, que brigavam por um resort. Só que uma delas tinha nascido menino: Ramon virou Ramona, vivida por Cláudia Raia. Logo nas primeiras cenas, ela já chega mostrando as provas de sua cirurgia. Ela vive um romance com Leonardo, um homem machista e preconceituoso, até que os dois têm um final feliz.

Vale mencionar que antes de Ramona, tivemos Sarita Witt (Floriano Peixoto), da novela Explode Coração (1995). Ela era meio drag queen, meio transexual, sem definir sua identidade... Mesmo assim, abriu caminho para que outros personagens surgissem.

8. Mulheres Apaixonadas (2003)

Aqui já estamos chegando na atualidade — com o tema sendo retratado de forma muito mais aberta e honesta. Com isso, as adolescentes Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) se tornaram uma das principais histórias da novela, movendo a torcida do público. A mãe de Clara era preconceituosa e tentava tratar a filha, além de impedir o romance das meninas.

Logo depois, em Senhora do Destino (2004), houve mais um passo: Jennifer e Eleonora têm um romance um pouco mais adulto. Em América (2005), Júnior é o filho de uma fazendeira que busca masculinizar o filho. Ele se envolve com o peão Zeca e a torcida por um beijo dos dois no último capítulo foi grande. O beijo foi gravado, mas não foi exibido.

9. Amor à Vida (2013)

Imagem: Rede Globo/ReproduçãoImagem: Rede Globo/Reprodução

Essa entrou na lista das novelas que pararam o Brasil e entra aqui pelo mesmo motivo: o beijo de Felix e seu "Carneirinho", no último capítulo. Felix (Mateus Solano) começa a novela como o vilão, mas se regenera e angaria a torcida do público. No fim, compreende-se que ele era uma vítima do preconceito do pai, César (Antônio Fagundes). A última cena — em que os dois dizem "eu te amo" — é uma das mais comoventes da teledramaturgia brasileira. 

10. A Força do Querer (2017)

Imagem: Rede Globo/ReproduçãoImagem: Rede Globo/Reprodução

Essa foi reprisada recentemente e está fresquinha na memória do público, então vamos só relembrar: uma das tramas paralelas era a de Ivana (Carol Duarte), uma menina arredia e meio masculinizada. Ao longo da história, ela entende que, na verdade, é um homem trans, Ivan. 

A novela colocou o ator Tarso Brant para ser um dos amigos de Ivan, que o ajuda na sua descoberta. Também trouxe Nonato (Silvero Pereira) — um homem que se transforma na exuberante Elis Miranda à noite. Além disso, escalou a atriz trans Maria Clara Spinelli num papel apenas de mulher, sem discutir transexualidade. Afinal, ela é uma atriz e pode fazer qualquer papel. 

Para terminar, poderíamos citar várias outras novelas recentes que abordaram esse assunto: Insensato Coração (2011), Em Família (2014), Segundo Sol (2018), A Dona do Pedaço (2019) e por aí vai... A questão é que as pessoas LGBTQIA+ fazem parte da sociedade e vivem histórias como qualquer outra pessoa. Se tantas histórias são feitas sobre pessoas heterossexuais e cisgêneras, por que não contar um pouco das outras, também?

Leia a matéria original aqui.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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