Saiba quais são as modalidades paralímpicas e como funcionam
Mega Curioso
No sétimo dia das Paralimpíadas de Tóquio — faltando mais cinco para o final das competições —, o Brasil atingiu uma marca histórica: somou 100 medalhas de ouro. Nosso país é uma grande potência paralímpica, figurando sempre no Top 10 do quadro de medalhas e tendo vários atletas multimedalhistas: só o nadador Daniel Dias tem 14 ouros. No futebol de cinco, fomos campeões em todas as edições, além de sermos bicampeões no goalball masculino.
Mas, calma aí... Futebol de cinco, goalball: que esportes são esses? Quais são as modalidades paralímpicas, afinal?
Se você leu nosso post sobre como surgiram os Jogos Paralímpicos , sabe que tudo começou em 1948, com o tiro com arco. Desde então, o evento cresceu muito e, hoje, tem 539 eventos em 22 esportes diferentes. Alguns são versões adaptadas de esportes que já conhecemos, mas há algumas modalidades exclusivas para atletas com deficiência.
Daniel Dias é o maior medalhista paralímpico do Brasil, com mais de 25 medalhas, entre outros, pratas e bronzes (Imagem: Rede Brasil Atual)
Os esportes adaptados
O futebol de cinco é um exemplo de esporte adaptado: ele é baseado no futebol para atletas sem deficiência, mas com regras específicas para permitir que atletas cegos joguem. Os times são menores (cinco jogadores, em vez de onze), todos usam vendas (para garantir que atletas que veem vultos, por exemplo, não tenham vantagem) e a bola tem guizos, para fazer barulho e os jogadores se localizarem. Além disso, o campo é menor e tem "bandas" nas laterais, que impedem que a bola saia e deixam o jogo mais dinâmico.
Para-ciclismo tem categorias para cegos e para pessoas com deficiência física, que usam handbikes (Imagem: Wikimedia Commons)
O vôlei paralímpico é o vôlei sentado, com uma rede mais baixa. O ciclismo e o triatlo são disputados em handbikes, pedaladas com a mão. Já os atletas cegos do ciclismo utilizam bikes com dois lugares, sendo um para o guia. Os guias também são presentes no atletismo de pista e ganham medalhas com os atletas cegos. Mas há uma regra importante: o guia nunca pode ir à frente do atleta cego, puxando-o.
Outro esporte adaptado bem conhecido é basquete em cadeira de rodas: a quadra e a maior parte das regras são aquelas já conhecidas do basquete, com a diferença de que os jogadores estão sentados em suas cadeiras. Desse modo, a regra de movimentação com a bola não leva em conta os passos, mas sim os toques na cadeira: só valem dois, antes de passar ou quicar a bola. Os equipamentos também são padronizados e os atletas são classificados segundo suas deficiências, para evitar que um time tenha vantagem sobre outro.
O basquete em cadeira de rodas têm regras bem parecidas com a do esporte original (Imagem: Comitê Paralímpico Internacional)
Confira a lista completa de esportes paralímpicos adaptados:
- Atletismo;
- Badminton;
- Basquete em cadeira de rodas;
- Canoagem;
- Ciclismo;
- Esgrima em cadeira de rodas;
- Futebol de cinco;
- Hipismo;
- Judô;
- Levantamento de peso;
- Natação;
- Remo;
- Rugby em cadeira de rodas;
- Taekwondo;
- Tênis de mesa;
- Tênis em cadeira de rodas;
- Tiro com arco;
- Tiro esportivo;
- Triatlo;
- Vôlei sentado;
Os esportes 100% paralímpicos
Além dos vinte esportes acima, existem outros dois que são apenas paralímpicos — e não têm equivalentes nas Olimpíadas.
A bocha paralímpica, como o nome sugere, é semelhante àquele jogo que muitos pais e avós jogam em canchas e bares por todo o Brasil. Cada competidor precisa jogar suas bolas o mais perto possível da bola-alvo, que é branca. As bolas mais perto do alvo valem mais pontos e o competidor que tiver mais pontos ao fim da partida, vence.
Contudo, sendo um esporte oficial, a bocha paralímpica tem regras mais definidas sobre o tamanho da quadra (12,5 m × 6 m) e a bola (de couro, com 275 gramas), do que o jogo informal que vemos por aí. Os competidores são pessoas com deficiências físicas, em cadeira de rodas, divididos em quatro categorias, de BC1 a BC4. Também há disputa em duplas e equipes.
Já o goalball é um esporte coletivo, para times de três pessoas, todas cegas. Cada time fica de um lado da quadra, protegendo um enorme gol com nove metros de largura. Um jogador lança a bola para o lado adversário com as mãos, tentando acertar o gol. Para isso, ele pode lançar a bola com efeito ou quicando e, para proteger seu gol, o time defensor pode sentar ou deitar na quadra — mas cada um fica do seu lado da quadra.
A bocha é um dos dois esportes que só existem nas Paralimpíadas (Imagem: Agência Brasil/Reprodução)
Como funciona a classificação?
Outra adaptação importante das Paralimpíadas é a classificação dos atletas de acordo com testes físicos, musculares e de movimentos necessários para cada modalidade. As entidades de cada esporte fazem esses testes e dão a chamada "classificação funcional" — que analisa quanto o grau de deficiência impacta no desempenho do atleta.
Assim, pessoas com diferentes tipos de deficiência — amputação, paraplegia, paralisia cerebral e outras — podem competir juntas, mas sem que pessoas com limitações mais severas deixem de competir. Uma pessoa com paralisia cerebral da classe S10 da natação disputa com alguém que tem pé torto congênito, mas os dois têm o mesmo nível de limitação física, que é diferente de um nadador com amputação ou má formação nos membros, da classe S5.
Nos esportes coletivos, a classificação funcional rende pontos para cada competidor e o time inteiro não pode passar de uma pontuação total: no basquete em cadeira de rodas o limite é 14 pontos e no rugby é 8 (para homens) e 8,5 (para mulheres).
Em esportes para apenas um tipo de deficiência — como o futebol de cinco e goalball, para cegos — não é preciso fazer essa classificação, mas há a obrigatoriedade de vendas, para que pessoas com problemas de visão diferentes tenham as mesmas condições.
- Leia também: Quanto ganha um atleta paralímpico por medalha?
No goalball, apenas atletas com deficiência visual competem, mas todos vendados, para não haver qualquer vantagem (Imagem: Wikimedia Commons)
Entendendo as classes nas Paralimpíadas
As classes geralmente têm uma letra e um número. A letra remete ao nome do esporte em inglês (S para natação e T para atletismo de pista, por exemplo). Os números correspondem ao grau de deficiência do atleta e dependem da modalidade, já que cada uma permite diferentes tipos de deficiência. Na natação, um dos principais esportes paralímpicos, as classes são:
- 1 a 10: categorias para deficiências físicas, sendo 1 os atletas que possuem limitações mais severas;
- 11 a 13: atletas com deficiências visuais, de acordo com o grau de comprometimento;
- 14: atletas com deficiência intelectual.
No atletismo as divisões são diferentes, englobando atletas cadeirantes ou andantes, assim como no tênis de mesa e badminton. Já o ciclismo tem a classe "B" para atletas cegos, várias classes "H" para quem compete com handbike, além de classes "T" para quem tem problemas de equilíbrio e classes "C" para amputados.
O tênis de mesa paralímpico tem categorias para atletas cadeirantes e andantes (Imagem: Confederação Brasileira de Tênis de Mesa)
Com tantas classes, os Jogos Paralímpicos acabam entregando mais medalhas (cerca de 1600, contra pouco mais de 1000 das Olimpíadas), mas o objetivo é que mais pessoas, com diversas deficiências, possam ser incluídas no evento esportivo.
Por fim, é importante observar que todas as modalidades paralímpicas tem competidores de alto rendimento, que dedicam suas vidas ao esporte e traçam estratégias para dar seu melhor em quadra — assim como os atletas olímpicos. É muito interessante acompanhar as disputas e observar que a emoção e superação do esporte estão sempre presentes, independentes das deficiências. Por isso, vale a pena acompanhar os esportes paralímpicos.