Transplantado com coração de porco pode ter morrido por vírus suíno
Tecmundo
O diretor do Centro Médico da Universidade de Maryland, Bartley Griffith, que ficou conhecido mundialmente em janeiro deste ano por realizar o primeiro transplante de um coração de porco em um ser humano, participou de um webinar da American Society of Transplantation em abril. Na conferência em vídeo, o cirurgião explicou que um vírus do porco pode ter sido o responsável pela morte do paciente, ocorrida 57 dias depois da cirurgia.
“Estamos começando a entender por que ele faleceu”, disse Griffith, afirmando que o vírus, com o qual travou uma guerra desesperada para derrotar, “talvez tenha sido o ator, ou possa ser o ator, que desencadeou tudo isso”. Agora a MIT Technology Review publicou, no dia 5 de maio, uma reportagem na qual afirma que o coração de David Bennett Sr. foi afetado pelo citomegalovírus suíno, uma infecção evitável, porém devastadora em transplantes.
Fonte: Universidade de Maryland/Divulgação
O transplante do coração do porco
Quando Bennett recebeu o coração de porco na histórica operação do dia 10 de janeiro, livrou-se da morte iminente, mas não imaginou que passou a carregar dentro do peito um citomegalovírus suíno que, teoricamente, não é capaz de infectar células humanas. No entanto, esclarece a reportagem, pode estar associado a reações capazes de causar prejuízos tanto ao órgão transplantado quanto ao receptor.
Alguns dias após o transplante, Bennett posou para fotos sentado na cama. Ao seu lado, o dr. Griffith declarava orgulhoso que o coração novo estava funcionando “fantasticamente” e bombeando sangue como uma “estrela do rock”. Mas, em um exame de rotina realizado 20 dias depois do procedimento, sinais de vírus foram detectados e o paciente ficou gravemente doente.
No dia 8 de março, a universidade divulgou um comunicado, informando a morte de David Bennett Sr., de 57 anos. De acordo com o porta-voz, “não havia nenhuma causa óbvia identificada no momento de sua morte”, mas um relatório completo seria divulgado oportunamente.
Fonte: Shutterstock/Reprodução.
Um grande teste de xenotransplante
A cirurgia pela qual Bennett passou, assim como a preparação do órgão transplantado, marcaram a concretização das pesquisas dos xenotransplantes, transplante de tecidos entre espécies distintas. Como a cirurgia de um porco comum geraria uma rejeição hiperaguda pelo sistema imunológico, os animais para transplante são modificados geneticamente através de bloqueios e adições de genes.
Para evitar que genes responsáveis pela produção de açúcares possam gerar uma rejeição, os cientistas os bloqueiam em células de porcos recém-nascidos, e inserem genes humanos, para moderar a resposta imune do paciente, em um óvulo sem núcleo.
No entanto, uma regra de ouro que parece não ter sido seguida é que esses porcos especialmente criados para fornecer órgãos a seres humanos deveriam estar completamente livres de vírus. Até o momento, a empresa Revivicor, que cedeu o órgão para Bennett, ainda não se manifestou.