Golfinhos fêmeas sentem prazer com estimulação do clitóris, sugere estudo
Tecmundo
Um estudo publicado nesta segunda (10) no periódico científico Current Biology sugere que golfinhos fêmeas sentem prazer com a estimulação do clitóris. Ao analisar a anatomia do órgão, cientistas encontraram diversos nervos sensitivos e corpos eréteis, estruturas similares às do clitóris humano.
Os órgãos, grandes e bem desenvolvidos, ficam localizados na entrada da vagina. O estudo afirma que a localização pode favorecer a estimulação durante a penetração; também há relatos de fêmeas que utilizam seus focinhos e nadadeiras para estimular outras fêmeas.
"Sabíamos que os golfinhos fazem sexo não apenas para se reproduzir, mas também solidificar os laços sociais, por isso parecia provável que o clitóris pudesse ser funcional", afirma a pesquisadora principal do estudo, Patricia Brennan.
Foram analisados clitóris de 11 golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) mortos por causas naturais. Como o animal possui uma pelve muito diferente da do ser humano, os pesquisadores se surpreenderam ao encontrar estruturas bastante similares às humanas.
Entre elas, foram registrados diversos nervos sensitivos, estruturas responsáveis por receber estímulos e levá-los até o Sistema Nervoso Central. Alguns tinham mais de meio milímetro de diâmetro, sugerindo que o clitóris do golfinho é uma área bastante sensível à estimulação tátil.
Pesquisadores encontraram diversos nervos no clitóris do golfinho, incluindo nervos com até meio milímetro de diâmetro
Os cientistas também estudaram corpos eréteis, áreas que se enchem de sangue durante a excitação. Segundo Brennan, seu formato muda conforme o golfinho se torna adulto e é “surpreendentemente semelhante” aos dos seres humanos.
Além disso, o estudo aponta para corpúsculos genitais muito parecidos com o dos seres humanos, similares aos já encontrados no clitóris humano e na ponta do pênis, estruturas envolvidas na resposta de prazer.
Lacunas no estudo da sexualidade feminina
A motivação para o estudo surgiu quando a equipe de Brennan estudava a evolução da vagina dos golfinhos. "Toda vez que dissecávamos uma vagina, víamos este clitóris muito grande, e estávamos curiosos se alguém o havia examinado em detalhes para ver se funcionava como um clitóris humano", diz a pesquisadora.
São poucos os estudos sobre a sexualidade feminina na natureza — o próprio clitóris humano só foi totalmente descrito nos anos 90. Para Brennan, a negligência no estudo da sexualidade feminina deixa uma imagem incompleta da verdadeira natureza dos comportamentos sexuais. “É uma parte fundamental da compreensão da experiência animal e pode até ter aplicações médicas importantes no futuro", afirma a pesquisadora.
Brennen e os demais pesquisadores esperam que o estudo seja um de vários sobre a sexualidade feminina de golfinhos e outros vertebrados, contribuindo para a compreensão do significado do prazer sexual no contexto da evolução e do papel do orgasmo feminino.
ARTIGO Current Biology: doi.org/10.1016/j.cub.2021.11.020