Mineração F.C.: Como a indústria criou um importante time capixaba
Aventuras Na História
Em 1902 o governo federal permitiu a criação da Companhia Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), empresa que construiria uma ferrovia ligando a capital capixaba, Vitória, à cidade mineira de Peçanha, para escoar café e madeira ao litoral.
O primeiro trecho, até Diamantina, foi inaugurado em 1904. Com a presença de grandes jazidas de minério de ferro na região de Itabira, Minas Gerais, a partir de 1909 vários grupos de investidores ingleses adquiriram extensas porções de terras.
Foi criada a Brazilian Hematite Syndicate (BHS), empresa que visava explorar as terras e obter o controle acionário da EFVM, com o trajeto da estrada de ferro para a zona ferrífera.
Em 1911, o empresário americano Percival Farquhar adquiriu todas as ações da BHS, transformando-a na Itabira Iron Ore Company (IIOC), formada em sua maioria por ex-funcionários da EFVM e a primeira a ser autorizada a explorar a região.
Como resposta a movimentos que defendiam que o minério brasileiro deveria ser explorado pelo país e pelo desenvolvimento da indústria nacional, foi promulgado um decreto-lei que transferiu de volta ao governo brasileiro a posse de todas as jazidas, ao mesmo tempo que criou a empresa Companhia Vale do Rio Doce, que além das minas passou a ser dona também da Estrada de Ferro Vitória-Minas.
Em pouco tempo os funcionários da nova empresa resgataram um hábito dos tempos dos ferroviários ingleses que trabalharam na região no começo do século 20, jogar futebol. Em novembro de 1942, em Itabira, moradores que trabalhavam na em presa criaram o Valeriodoce Esporte Clube.
No ano seguinte, outros funcionários fundaram a Associação Atlética Vale do Rio Doce, a Vale. Em agosto de 1945, outro time, o Ferroviário Sport Club. Em novembro de 1951, foi a vez do Esporte Clube Guarany. Por fim, em agosto de 1957, foi criada a Associação Atlética Cauê.
Algumas equipes participaram de campeonatos estaduais de futebol, como a Vale, que chegou a ser vice-campeã em 1948, e do Ferroviário, que também chegou às finais em 1959. Os líderes das equipes chegavam a oferecer emprego na CVRD para ter jogadores melhores nos times, o que era um problema.
Além disso, a rivalidade entre as equipes provocava animosidades na organização. Para resolver as duas questões, em janeiro de 1963, Lino dos Santos Gomes, assessor da diretoria de operações da CVRD, foi incumbido de promover a fusão entre todas as equipes capixabas, resultando na Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce.
Para incentivar a união, a CVRD prometeu construir um estádio para uso do clube em regime de comodato — o uso seria temporário com posterior restituição. A inauguração do estádio, com capacidade para mais de 30 mil torcedores, aconteceu em 16 de janeiro de 1966.
Boa parte das despesas do clube era bancada pela CVRD, mas havia também contribuições mensais, descontadas em folha de pagamento, de milhares de funcionários da empresa. A Desportiva passou a ser considerada “o primo rico” do futebol capixaba, fazendo frente ao tradicional Rio Branco, fundado 50 anos antes, em 1913.
A situação começou a mudar a partir de julho de 1982, quando por determinação do governo federal houve o congelamento da verba destinada ao clube. Com a drástica redução do apoio financeiro da Vale, resultante dessa determinação, ao final de 1988, foi escolhido para ser o presidente do clube um nome não indicado pela empresa.