Superliga da Europa? Clubes brasileiros já tentaram fazer algo parecido
Manual Do Homem Moderno
De tempos em tempos, times de futebol se unem por algum motivo: uma campanha de conscientização social, um protesto, a organização de um campeonato. Agora foi a vez de clubes tradicionais da Europa criarem a Superliga, uma espécie de NBA europeia do futebol. Não é a primeira vez na história que gigantes do futebol se juntam para criar uma liga. Já funcionou, mas em algumas ocasiões isso deu bastante errado.
Primeiro, uma contextualização. Caso você tenha perdido, um movimento puxado por 12 clubes – Manchester United, Manchester City, Chelsea, Arsenal, Tottenham, Liverpool, Milan, Juventus, Internazionale de Milão, Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid – resultou na criação de um novo campeonato: a Superliga da Europa (o nome talvez seja provisório). A ideia é reunir todos os endinheirados e as estrelas do futebol em um campeonato sem acesso ou rebaixamento. Com 12 ou 15 participantes fixos e alguns convidados.
A tal Superliga da Europa imediatamente desagradou torcedores e jogadores de futebol pelo mundo que ainda prezam pela esportividade nos campeonatos. Mas não é a primeira vez que algo do tipo acontece, inclusive no Brasil. Vejamos alguns exemplos.
English Premier League e ligas nacionais
A competição nacional moderna da Inglaterra foi criada em 1992, após a decisão dos clubes profissionais de romperem com a Football League, originalmente fundada em 1888 e que organizava o campeonato até então. O objetivo era aumentar as receitas de todos os envolvidos, negociando direto com as TVs os direitos transmissão da liga.
Deu muito certo. A Premier League é hoje a liga de futebol mais popular e valiosa do mundo, com alto nível de competitividade e uma distribuição razoável de dinheiro entre os clubes envolvidos. Não à toa virou modelo. Apenas um terço dos campeonatos nacionais pelo mundo é organizado pelos clubes. Mas entre os que são, estão os mais famosos: as ligas de Alemanha, Espanha, Alemanha, Itália e França, além da Inglaterra. Na América, campeonatos como o da Argentina, dos Estados Unidos e do México também são geridos pelos times.
Clube dos 13 e o Brasileirão de 1987
Já ouviu falar no Clube dos 13? Ele foi criado em 1987 por grandes clubes brasileiros para defender seus interesses políticos e comerciais à parte da CBF – mais ou menos como aconteceria na Inglaterra em 1992. A união de Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco resultou em toda a confusão do Campeonato Brasileiro de 1987.
O Clube dos 13 organizou para aquele ano a Copa União, o que deveria substituir o Campeonato Brasileiro. Mas a CBF também organizou seu Brasileirão. No fim das contas, cada um deles virou um Módulo diferente do mesmo campeonato. E é por isso que temos dois campeões nacionais em 1987: o Flamengo (vencedor da Copa União/ Módulo Verde do Campeonato Brasileiro) e o Sport (vencedor do Módulo Amarelo do Campeonato Brasileiro.
Depois dessa bagunça – mal resolvida até hoje, com a indefinição de quem seria o real campeão nacional de 1987 -, o Clube dos 13 acabou se dedicando somente às negociações de direitos de TV e o Campeonato Brasileiro voltou a ser organizado pela CBF.
Copa João Havelange
Com a CBF impedida pela Justiça de organizar o Campeonato Brasileiro graças a uma confusão na edição de 1999, coube ao Clube dos 13 organizar pontualmente a competição em 2000. O nome foi uma homenagem ao ex-presidente da CBF e da FIFA João Havelange.
Sem querer se comprometer muito com acesso e rebaixamentos, a organização acabou criando o maior Campeonato Brasileiro de todos os tempos, com 116 clubes de três divisões em um único torneio. Quem se deu bem nessa foram times que “pularam” a disputa da série B naquele ano, como o Fluminense, Gama e Juventude.
Foi a última vez que o Clube dos 13 organizou o Campeonato Brasileiro e uma das últimas em formato mata-mata. Três anos depois a CBF adotaria a disputa por pontos corridos, formato de ligas gigantes como as europeias.
Primeira Liga
Depois que o Clube dos 13 foi implodido – pelo mesmo motivo que levou a sua criação, disputa por dinheiro -, outra organização de clubes surgiu no Brasil. A Primeira Liga nasceu da reedição da Copa Sul-Minas, com a chegada de Flamengo e Fluminense. Foi até chamada de Copa Sul-Minas-Rio antes de ganhar o nome de liga. A ideia era reunir clubes descontentes com o público e as rendas dos seus respectivos campeonatos estaduais.
Foram duas edições, com o Fluminense campeão em 2016 e o Londrina vencedor em 2017. Sem o apoio da CBF, a organização – que chegou a ter 21 clubes – acabou espremida entre as datas de outras competições oficiais – não serviu para substituir os campeonatos estaduais, nem outros. A edição de 2018 foi cancelada antes de começar.