A história dos Jogos Olímpicos: Atlanta 1996
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1996 – XXVI Jogos Olímpicos – Atlanta – Estados Unidos
Abertura: 19.jul.1996 – Encerramento: 04.ago.1996
Abertura Oficial: Presidente Bill Clinton
Juramento dos Atletas: Teresa Edwards
Juramento dos Árbitros: Hobie Billingsly
Acendimento da Pira: Muhammad Ali
Países Participantes: 197
Total de Atletas: 10318 Homens: 6806 – Mulheres: 3512
Brasil (Atletas): 225 Homens: 159 – Mulheres: 66
Esportes: 31 – Eventos: 271
Quadro geral de medalhas, os 5 primeiros colocados e o Brasil
Criadores dos Jogos Olímpicos, os gregos imaginaram que Atenas naturalmente abrigaria as Olimpíadas comemorativas aos 100 anos de restauração dos Jogos.
Após a eliminação de Toronto, Melbourne, Manchester e Belgrado, no Congresso que escolheu a sede, as diferenças eram gritantes, enquanto Atenas apresentava como trunfo a tradição, a cidade norte-americana de Atlanta apoiada nas gigantes Coca-Cola e CNN - a rede mundial de televisão a cabo – esbanjou dinheiro e marketing.
Os argumentos dos norte-americanos facilmente sagraram-se vencedores.
Do orçamento de 1,7 bilhão de dólares, a maior parte foi utilizada na infraestrutura da cidade - principalmente na ampliação do metrô, que durante os Jogos funcionou pessimamente -, e na construção do Estádio Olímpico, que após as Olimpíadas passou a ser o local para as partidas de Beisebol do Atlanta Braves, em substituição ao antigo estádio Fulton County.
Várias instalações foram aproveitadas: o ginásio Omni, usado pelo Atlanta Hawks na NBA, foi palco do Voleibol, e o Georgia Dome, utilizado pelos Atlanta Falcons no Futebol Americano, dividido ao meio, abrigou o Basquetebol e a Ginástica.
No dia 19 de julho, na cerimônia de abertura demorada e sem criatividade, com Evander Holyfild entrando no estádio com a tocha, teve como pontos altos e emocionantes, Muhammad Ali acendendo a pira olímpica e a homenagem ao centenário ginasta iugoslavo Leon Stukelj.
O presidente americano Bill Clinton declarou abertos os Jogos, com a participação de 197 nações e 10.318 atletas.
Mesmo com o grande aparato policial – eram 13.000 policiais, 8.500 militares, 2.500 agentes federais e 1.000 agentes civis -, na madrugada do dia 18 de julho, com milhares de pessoas se divertindo no Parque Centenário, próximo a um dos palcos de shows, no qual apresentava-se o grupo californiano “Jack Mack e o Ataque Cardíaco”, o terror voltou a atacar os Jogos.
A explosão de uma bomba matou Alice Hawthorne, norte-americana de 44 anos e, de ataque cardíaco, morreu o turco Melih Uzonyol, aos 40 anos de idade.
O FBI logo suspeitou dos grupos de direita, Richard Jewell que incialmente foi aclamado como herói por ter descoberto a bomba, foi posteriormente, falsamente implicado como suspeito foi preso, mas nada contra ele foi provado. Em 2005, Eric Robert Rudolph que assumiu a autoria do atentado foi condenado.
Uma breve cerimônia fúnebre foi realizada, a bandeira olímpica hasteada a meio pau e a famosa frase: “The games most go on” – os Jogos devem continuar –, novamente pronunciada. E assim ocorreu.
No dia 4 de agosto, com a realização de mais uma cerimônia de encerramento sem graça, Atlanta - que apresentou uma das piores organizações na história dos Jogos -, dava adeus aos Jogos Olímpicos.
A medalha de 1996
Frente: idêntica à medalha de 1928, exceto pela inscrição: “XXVI OLYMPIAD ATLANTA 1996” (´XXVI Olimpíadas ATLANTA 1996´).
Verso: o emblema oficial dos Jogos de 1996, acima da colcha de folhas. Para cada esporte, adicionado o respectivo pictograma posicionado no centro da colcha de folhas.
Maiores medalhistas
Atleta | País | Esporte | Total | Ouro | Prata | Bronze | |
Alexei Nemov | Rússia | Ginástica | 6 | 2 | 1 | 3 | |
Amy Van Dyken | Estados Unidos | Natação | 4 | 4 | 0 | 0 |
Destaques
Carl Lewis, tetracampeão do salto em distância
O dia 29 de julho de 1996 entrou para a história do atletismo, pois Carl Lewis, aos 35 anos, que no dia anterior classificara-se com muitas dificuldades obtendo apenas a oitava e última marca na fase classificatória, conseguiu sua quarta medalha de ouro consecutiva na prova do salto em distância, com 8,50 metros, igualando o feito de Alfred “Al” Oerter no lançamento do disco, outro americano tetracampeão olímpico.
Esta foi a nona medalha de ouro olímpica de Lewis, pois não passou de esperança sua presença na equipe do revezamento 4 x 100 metros, mesmo com a atitude de Dennis Mitchell (que em 1988 fora suspenso por quatro anos por doping) de ceder seu lugar para Lewis, com o técnico Ver Hunt não o escalando.
Tetracampeonato do americano F. Carlton “Carl” Lewis no Salto em Distância
Ano Distância
1984 8,54 m
1988 8,72 m
1992. 8,67 m
1996. 8,50 m
Canadá no topo do revezamento, Brasil com o bronze
Coincidência ou não, a prova foi vencida pela equipe canadense, formada por Donovan Bailey, Robert Esmie, Glenroy Gilbert e Bruny Surin com o tempo de 37 segundos e 69 centésimos. Em segundo lugar ficaram os Estados Unidos.
O Brasil, formado por Robson da Silva, Edson Ribeiro, André e Arnaldo da Silva – que apesar do mesmo sobrenome não são parentes -, ganhou a medalha de bronze salvando o prestígio do esporte que mais medalhas olímpicas trouxe para o país.
Donovan Bailey, o jamaicano campeão pelo Canadá
Apesar de ter competido pelo Canadá, Donovan Bailey declarou: “eu sou primeiramente jamaicano, não existe dúvida disto. Eu nasci na Jamaica e me tornei um corredor canadense”, logo após a prova dos 100 metros rasos, quando ele estabeleceu o novo recorde mundial com 9.84 segundos, que significou uma velocidade de 33,8 quilômetros por hora.
País com grande tradição de sprinters tais como Herbert McKenley, Lennox Miller e Donald Quarrie que, de fato, competiram por seu país.
Pela terceira vez consecutiva um jamaicano venceu a prova mais rápida e importante dos Jogos Olímpicos. Os outros dois foram Ben Johnson, em Seul (ganhou, mas não levou), que também competiu pelo Canadá, e Lindford Christie, em Barcelona, correndo pela Grã-Bretanha. Em Atlanta, Lindford foi eliminado na final, pois queimou a largada duas vezes.
Michael Jonhson, dourado nos pés e no peito
Em junho de 1996 Michael Johnson estabeleceu o tempo de 19.66 nos 200 metros e quebrou o então mais longo recorde mundial que pertencia desde 1979 ao italiano Pietro Mennea.
Em Atlanta, após a vitória, com a nova marca olímpica dos 400 metros, Johnson venceu os 200 metros e melhorou ainda mais seu recorde, com o tempo de 19.32.
Como ele sentiu uma fisgada no músculo da perna direita ao final desta prova, ficou de fora do Revezamento 4 x 400 metros e não conseguiu sua terceira medalha de ouro.
Em 1997, Bailey e Johnson disputaram um tira-teima na distância de 150 metros para estabelecer qual dos dois era o mais veloz. Quando a vantagem do canadense era bastante grande, Johnson sentiu novamente a perna direita abandonando a disputa.
Krisztina iguala o feito de Dawn Fraser
Durante os sete dias de competição o torneio feminino foi pontuado por grandes vitoriosas. A maior delas foi a húngara Krisztina Egerszegi, de 22 anos, que alcançou sua terceira vitória consecutiva nos 200 Metros Costas, igualando-se à australiana Dawn Fraser como as únicas tricampeãs olímpicas da história da Natação, marca que nenhum homem até hoje conseguiu.
Tricampeonato da húngara Krisztina Egerszegi nos 200 Metros Costas:
Ano Tempo Recorde
1988 2:09.29 Olímpico
1992 2:07.62 Olímpico
1996 2:07.83
Os Novos Senhores dos Mares: Robert Schidt, Torben Grael e Marcelo Ferreira
Em 1996, três conquistas foram marcadas por vários adjetivos: recuperação após o fracasso em Barcelona, técnica apuradíssima, qualidade, dedicação, paixão. Enfim, vários componentes levaram a equipe brasileira de Iatismo a encerrar sua participação nas águas do Iate Wassaw Sound, em Savannah, em primeiro lugar no quadro de medalhas, com dois ouros e um bronze.
O paulista Robert Scheidt - à época bicampeão mundial, pois em 1997 sagrara-se tricampeão - mesmo sendo eliminado da última regata, junto com o britânico Bem Ainslie, tinha uma vantagem tão folgada de pontos que conquistou o nosso primeiro triunfo na Classe Laser, na estreia olímpica desta classe.
A vitória do norueguês Peer Morberg, nesta última regata, lhe assegurava o segundo lugar; mas como ele cruzou a linha de chegada em 11º, ficou apenas com o bronze. A prata foi de Ainslie.
Com os americanos Mark Reynolds e Hal Haenel - prata em Seul e ouro em Barcelona - e os canadenses Ross MacDonald e Eric Jespersen - apontados inicialmente como grandes favoritos -, a dupla brasileira Torben Grael e Marcelo Ferreira cruzou em terceiro lugar na última regata, levando o ouro com 25 pontos de vantagem.
A conquista de Torben, além de redimi-lo do fracasso em Barcelona, deu-lhe uma posição de destaque entre os cinco maiores campeões olímpicos do Brasil, atrás apenas de Ademar Ferreira da Silva e à frente de Joaquim Cruz e Aurélio Miguel. É ele também o único brasileiro a possuir uma medalha de cada cor: ouro em Atlanta, bronze em Seul, ambas na Classe Star, e prata em Los Angeles, no Soling.
Seu irmão Lars, em trágico acidente provocado por uma lancha conduzida por piloto embriagado que invadiu a área de competição de uma regata em Vitória, no Espírito Santo, em setembro de 1998, teve uma perna amputada.
Sua recuperação e seu apego à vida e ao esporte após o acidente, bem como sua dignidade ao encontrar-se com o responsável por seu acidente durante a audiência, são um exemplo de coragem e dignidade humana.
A zebra é mesmo africana
Em uma competição de melhor nível, com a liberação de três jogadores com mais de 23 anos que já haviam disputado Copas do Mundo, o Torneio Olímpico de futebol foi marcado por algumas surpresas, principalmente para os brasileiros.
Primeiro foi a derrota para o Japão por 1 a 0, no erro conjunto de Aldair e Dida. Depois a falta de conhecimento (mais uma vez) do treinador Zagallo, que não armou a seleção de maneira adequada para enfrentar a Nigéria na semifinal.
A bem da verdade, quando o placar apontava 3 a 1 para o Brasil, Ronaldo driblou o goleiro Oliseh mas chutou para fora, chance que decretaria a vitória e carimbaria o passaporte para a final.
Contudo, o que se viu foi uma inspiradíssima partida de Nwankwo Kanu, que marcou o gol na prorrogação, disputada no sistema de “morte súbita”, levando a Nigéria para a final, na qual por 3 a 2, com gols de Babayaro, Amokachi e Amunike, derrotou a Argentina e conquistou a inédita medalha de ouro olímpica em esportes coletivos para um país africano.
Em 1998, na Copa da França, após um início muito bom, a Nigéria - com praticamente o mesmo time de Atlanta -, fora eliminada nas quartas-de-final pela Dinamarca por 4 a 1.
Quanto à seleção brasileira, outro fato lastimável foi o descaso da equipe e da comissão técnica para com a premiação de medalhas, após a conquista do bronze. Desta seleção, Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos, Bebeto e Roberto Carlos sagraram-se vice-campeões mundiais na França em 1998.
Americanas boas de bola
O primeiro torneio de Futebol feminino confirmou o favoritismo da melhor e mais preparada equipe do mundo: os Estados Unidos.
Comandadas por Shanon MacMillan e Tiffeny Milbrett, que anotaram os dois gols de seu país, as americanas venceram as chinesas por 2 a 1. O único gol chinês foi marcado por Sun Wen, em final assistida por um público de 78.481 presentes ao Estádio Stanford, localizado na cidade de Athenas, Estado da Georgia.
Sem limites
Ana Quirot, que apesar de ser cubana sempre recebeu um carinho especial do público e da mídia americanos por causa de sua força de vontade ao superar um terrível acidente com queimaduras, melhorou sua atuação em relação a Barcelona.
No entanto ficou apenas com a prata na prova dos 800 metros pois foi vencida pela russa Svetlana Masterkova - outra que brilhou intensamente com duas medalhas de ouro, a segunda nos 1.500 metros.
O Campeão Assassinado
A luta nos Estados Unidos foi muito abalada quando, a 26 de janeiro desse ano, o excêntrico milionário John E. du Pont, no centro de treinamento para lutadores americanos, montado por ele próximo à Philadelphia, assassinou o campeão olímpico de 1984 na categoria meio-pesado David Schultz.
A solidariedade da equipe americana para com a viúva Nancy pode ser definida na frase do lutador Rob Eiter: “ela será sempre membro de nossa família e nós seremos parte de sua família”.
Uma heroína nacional Kerri Strug
Os Jogos Olímpicos sempre foram palco de diversas manifestações das qualidades e dos defeitos do ser humano. Entre os atos de coragem, e até mesmo de heroísmo, temos o exemplo do ginasta japonês Shun Fujimoto que mesmo com a perna e o joelho fraturados participou dos exercícios em mais dois aparelhos, ajudando o Japão a ser medalha de ouro por equipes em 1976; da suíça Gabriela Anderson arrastando-se por cinco minutos para percorrer os últimos 200 metros na Maratona em 1984; e do alemão Konrad Freiher von Wangenheim completando a prova com a clavícula quebrada, após a queda do cavalo, com a Alemanha sagrando-se campeã por Equipes.
A atuação da pequena Kerri Strug em Atlanta soma-se a esta galeria: logo após o penúltimo salto sobre o cavalo, ela pousou de mau jeito e contundiu o tornozelo esquerdo. Com um grande esforço realizou o último salto e conseguiu a nota 9,712, com os Estados Unidos, depois de anos de investimento e de trabalho do técnico Béla Karolyi, conseguindo o primeiro lugar na prova por Equipes, com uma vantagem de apenas 821 milésimos de ponto sobre a Rússia, que teve a primeira derrota nesta prova desde 1952 - a Romênia venceu em 1984 sem a participação da União Soviética, devido ao boicote.