A história dos Jogos Olímpicos: Barcelona 1992
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1992 – XXV Jogos Olímpicos – Barcelona - Espanha
Abertura: 25.jul.1992 – Encerramento: 09.ago.1992
Abertura Oficial: Rei Juan Carlos I
Juramento dos Atletas: Luis Doreste Blanco
Juramento dos Árbitros: Eugenio Asensio
Acendimento da Pira: Antonio Rebollo
Países Participantes: 169
Total de Atletas: 9356 Homens: 6652 – Mulheres: 2704
Brasil (Atletas): 197 Homens: 146 – Mulheres: 51
Esportes: 29 – Eventos: 257
Quadro geral de medalhas, os 5 primeiros colocados e o Brasil
Depois de tentar sediar os Jogos, várias vezes, Barcelona derrotou Paris, Brisbane, Belgrado, Birmingham e Amsterdã, e foi escolhida como sede dos Jogos em outubro de 1983 e mais de cem mil pessoas festejaram nas ruas da bela capital da Catalunha.
De Seul para Barcelona e nos anos seguintes, o mundo mudou muito. Em 26 de dezembro de 1991, oficialmente deixou de existir a União Soviética.
Dois anos antes, com a queda do muro de Berlim, a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental reunificaram-se.
Na Iugoslávia explodiu uma dramática guerra civil e surgiram a Bósnia-Herzegovina, a Croácia, a Eslovênia e a Macedônia, tudo isso poucos meses antes dos Jogos.
A Tchecoslováquia em 1993 foi dividida em dois países: República Checa e Eslováquia.
Além dos retornos de Cuba e da Coréia do Norte, com o fim do regime racial do apartheid, a África do Sul voltou a disputar os Jogos.
Melhor disto tudo, finalmente não houve boicote. A exceção foi a Iugoslávia que não participou por recomendação da ONU. Entretanto, o COI permitiu a participação de atletas individuais iugoslavos como “independentes”.
Apesar de ter acabado a União Soviética, sua sombra ainda continuou existindo, pois doze das repúblicas que a formavam reuniram-se para formar a equipe da
Comunidade dos Estados Independentes – CEI, com representantes da: Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Geórgia, Moldávia, Quirguistão, Rússia, Tadjiquistão, Turcomênia, Ucrânia e Uzbequistão, usando a bandeira olímpica.
A Lituânia, a Letônia e a Estônia participaram com equipes próprias.
Os ventos da mudança também atingiram o COI e a ridícula proibição da participação dos atletas profissionais acabou, e a NBA mandou para Barcelona sua seleção, apelidada de “Dream Team”.
Novidades no programa, a inclusão definitiva do Badminton e do Beisebol.
Com muito dinheiro público e privado, o Comitê Organizador reativou uma área tradicionalmente portuária, na qual ergueu a Vila Olímpica batizada de “Área del Parc del Mar”, a dez minutos do centro.
Na montanha de Montjuic, foi construído o Anel Olímpico, formado pelo Estádio Olímpico para 83.100 pessoas, o Palau San Jordi para as disputas de Voleibol e Ginástica, as piscinas Bernat Picornell e o Instituto Nacional de Educação Física.
No dia 25 de julho com uma grande e magnífica festa, os Jogos Olímpicos de Barcelona foram abertos. Desfilaram 9.356 atletas de 169 países e o rei Juan Carlos abriu oficialmente os Jogos.
O espanhol Juan Antonio San Epifanio, o “Epi”, jogador de Basquete, correu o último trecho com a tocha, quando ao seu lado surgiu o arqueiro paraolímpico Antonio Rebollo, que acendeu a ponta da flecha na tocha e com grande pontaria acertou a pira, acendendo-a.
No dia 9 de agosto, em meio a uma cerimônia sem graça - animada por cômicos da cidade -, Barcelona disse adeus aos Jogos e a bandeira
A medalha de 1992
Frente: a deusa Nike da vitória, segurando uma palma na mão esquerda e uma coroa de louros do vencedor em sua direita. A figura da deusa da vitória em estilo modernista, com a inscrição específica: "XXV OLIMPIADA BARCELONA 1992” (´XXV Olimpíadas BARCELONA 1992´).
Verso: o emblema oficial dos Jogos.
Maiores medalhistas
Atleta | País | Esporte | Total | Ouro | Prata | Bronze | |
Vitaly Scherbo | União Soviética | Ginástica | 6 | 6 | 0 | 0 | |
Krisztina Egerszegi | Hungria | Natação | 3 | 3 | 0 | 0 |
Destaques
O maior espetáculo da terra
Em abril de 1989 a FIBA aprovou, por 56 votos a favor e 13 contra a participação dos jogadores profissionais da NBA nos Jogos Olímpicos.
É errônea a ideia de que tal aprovação tenha sido manipulada pelos americanos devido ao orgulho nacional ferido após as derrotas em Seul e no Pan-Americano de Indianápolis em 1989, quando foram derrotados pelo Brasil.
A verdade é que os Estados Unidos foram um dos treze países contrários à ideia, pois a USA Basketball, organização responsável pelas seleções deste país, tinha duas objeções contra a participação dos profissionais: os doze milionários da NBA poderiam inibir os esforços de desenvolvimento das equipes de juniores e do feminino e que a presença dos profissionais nas Olimpíadas poderia diminuir o interesse das televisões e do público pelo campeonato da NBA.
Dirigido por Chuck Daly, o denominado “Dream Team”, time dos sonhos, desde sua convocação venceu todas as oito partidas, marcando mais de cem pontos, média de 117.25 pontos por partida, e todas com diferenças de mais de trinta pontos.
Esta seleção dos Estados Unidos era formada por onze monstros da NBA, estrelas da maior grandeza como Earvin Magic Johnson - que um ano antes anunciara ser portador do vírus da AIDS -, Larry Bird, em fim de carreira, ao lado de Michael Jordan - o maior jogador de Basquetebol de todos os tempos - e Patrick “Pat” Ewing, os dois últimos, campeões olímpicos em 1976, David Robinson - o único remanescente dos fracassos no Pan de 1987 e dos Jogos de 1988 -, e mais Scottie Pippen, Clyde Drexler, Karl Malone, John Stockton, Christopher Mullin, Charles Barkley e pelo universitário Christian Laettner.
A final contra a Croácia, do grande Drazen Petrrovic, falecido num acidente de carro em 1993, foi muito mais um espetáculo do que uma final como as anteriores nas Olimpíadas, apresentando o placar de Estados Unidos 117 e Croácia 85.
Na verdade, para os jogadores do Dream Team, que tiveram um verão de férias mais curto, o torneio olímpico não significou muita coisa: apenas mais uma reunião de amigos para se divertirem, ou melhor, por questões contratuais que os obrigavam a participar, junto com suas famílias eles conseguiam fazer com que o tempo passasse mais rápido.
Campanha do “Dream Team” na conquista da medalha de ouro em 1992:
Jogos Vitórias. Derrotas Pts a favor Média Pts a favor Pontos contra Média pts contra
8 8 0 938 117,3 588 73,5
Seis vezes campeão: Vitaly Chtcherbo
A grande expressão e figura máxima individual em Barcelona - perdendo em prestígio apenas para o “Dream Team” de Basquetebol masculino dos Estados Unidos - foi Vitaly Chtcherbo da Bielorrússia que, competindo pela CEI - Comunidade dos Estados Independentes, obteve seis medalhas de ouro.
Vitaly nasceu em Mindk no dial 13 de janeiro de 1972, medindo 1,68m é filho de um casal de baixa estatura, seu pai com 1,60m e sua mãe com apenas 1,50m.
Sóbrio, seguro, potente, mesmo sem conseguir realizar as mesmas apresentações que garantiram seu triunfo pela CEI na prova por equipes, Vitaly converteu-se no grande favorito do público no Individual geral. Nas argolas, já no último aparelho, quando estava atrás do campeão mundial Grigori Misioutine, arriscou mais e, com uma apresentação brilhante, superou Grigori que pousou mal no triplo mortal de saída.
Exceto na barra fixa onde não participou, Vitaly simplesmente venceu em quatro aparelhos: argolas, cavalo com alças, salto sobre o cavalo e barras paralelas. A única exceção foi o solo, onde o chinês Li Xiaosahuang, realizando pela primeira vez na história um triplo mortal, alcançou a medalha de ouro.
As 6 vitórias do bielorrusso Vitaly Chtcherbo em 1992:
Prova Pontuação
por Equipes 598.60*
Individual geral. 59.025**
Cavalo com Alças 9.45**
Barras Paralelas 9.90**
Argolas 9.937**
Salto sobre o Cavalo 9.856**
* Total de pontos acumulados pela equipe da Comunidade dos Estados Independentes, da qual a Bielo-Rússia participou.
** Sistema de pontuação alterado a partir desta edição.
Fu Minxia e o martírio infantil
Fu Mingxia, aos 9 anos de idade, foi praticamente arrancada de casa, na cidade de Wuhan, e colocada em uma escola de saltos ornamentais em Pequim, a 960 quilômetros de distância. Treinava sete dias por semana para corrigir sua postura e seus joelhos arqueados, sendo obrigada a sentar-se com a coluna reta e as pernas estendidas em um banco à sua frente.
Então um adulto sentava-se em seus joelhos e a obrigava a execrar a dor. Ela visitava seus pais apenas duas vezes por ano e indagada em Barcelona sobre o trabalho deles respondeu que não sabia.
Fu venceu os Jogos da Amizade de 1990, doze dias antes do seu aniversário de 12 anos, e o mundial de 1991 com 12 anos e meio. Seu sucesso fez com que a FINA abrisse uma exceção à regra de idade mínima de 14 anos para a disputa dos Jogos Olímpicos.
Em Barcelona, com um céu azul e a igreja da Sagrada Família Barcelona ao fundo, ela assumiu a liderança da prova da plataforma no terceiro salto e conseguiu a mais significativa vantagem em 60 anos de história: 49,80 pontos à frente da russa Yelena Miroshina.
Em 18 de dezembro de 1995 Yelena, aos 21 anos, suicidou-se ao jogar-se do quinto andar de um prédio em Moscou.
As quatro medalhas de ouro de Fu Mingxia:
Ano Prova
1992 Plataforma
1996 Trampolim
1996 Plataforma
2000 Trampolim
Vitória contra o câncer
Nos 100 metros Livres feminino, com o público e os especialistas concentrados na americana Gwen Torrence e na jamaicana Merlene Ottey, a também americana Gail Denvers, que correu na raia 2, alcançou nos 50 metros a russa Irina Privalova, que chegaram juntas com mais outras três corredoras.
Quando o photo-finish foi revelado, a vencedora, com um tempo de 10.82 segundos, era Gail, apenas 1 centésimo de segundo à frente de Irina e dois da jamaicana Juliet Cuthbert.
Gail, que em 1991 quase perdera as pernas com um câncer de tiróide e por não se adaptar ao tratamento com radiação, teve muita força de vontade, voltando a competir e vencer.
Ao estar próxima de reeditar o feito histórico da holandesa Francina Fanny Blankers-Koens em Londres, em 1948, vencendo também os 100 metros Livres com Barreiras, ela tropeçou no último obstáculo e caiu, conseguindo apenas o quinto lugar.
Os meninos de ouro
Depois de oito anos a final de Los Angeles pôde ser esquecida e a “geração de prata” - grande inspiradora da massificação do voleibol e das novas gerações de jogadores brasileiros, representada na quadra por Amaury - teve a alma lavada pela conquista do primeiro título olímpico coletivo do Brasil. Nem mesmo as seleções de Futebol conseguiram esta proeza.
Liderados fora da quadra por José Roberto Guimarães - antigo treinador de quadros femininos -, que assumiu a equipe menos de um ano antes dos Jogos, e contando com o capitão Carlão, Mauricio (eleito o melhor jogador do torneio), Negrão, Tande, Giovanne e Paulão, o nosso “dream team” realizou a melhor campanha de todos os tempos nos torneios olímpicos: oito vitórias, vinte e quatro sets a favor, três contra, 395 pontos a favor e 263 pontos contra.
A inesquecível final, de 3 a 0 sobre a Holanda, com parciais de 15-12, 15-8 e 15-5, ficará para sempre gravada na memória do nosso país, com nossa torcida, de forma inédita nos Jogos Olímpicos, invadindo a quadra para comemorar a vitória junto com os jogadores brasileiros.
Campanha do Brasil na conquista da medalha de ouro em 1992:
Jogos Vitórias Derrotas Sets a favor Sets contra Pontos a favor Pontos contra
8 8 0 24 3 395 263
A agradável surpresa: Rogério Sampaio
Seguindo a tradição de um esporte com grande número de medalhas para nosso país, o palmeirense Henrique Guimarães chegou à medalha de bronze perdendo apenas uma luta - para o húngaro Jozsef Csak que já havia sido derrotado na final, em Barcelona, por Rogério Sampaio Cardoso.