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Ataques hackers ao setor de energia podem ser 'desastrosos'
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Ataques hackers ao setor de energia podem ser 'desastrosos'

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Tecmundo
16/07/2021 14h00
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Depois de muito tempo, termos como "apagão" voltaram a se tornar presentes nos noticiários brasileiros. Um dos principais motivos para deixar o cenário neste estado é a crise hídrica, já que a falta de chuvas acaba desabastecendo os reservatórios das hidrelétricas, que são a principal matriz energética do país.

Com esse contexto, que pode condenar os brasileiros a um severo racionamento, o setor energético também se preocupa com possíveis novos ataques cibernéticos. Para contornar um problema futuro, entidades governamentais e empresas privadas estudam possibilidades e ações para evitar que o Brasil volte a ficar no escuro, como o que ocorreu no início deste século.

Desde o início da pandemia de coronavírus, em março de 2020, o mundo viu o número de crimes virtuais crescer e os usuários comuns estiveram entre as principais vítimas. O Brasil sofreu no começo deste ano, por exemplo, um dos maiores supostos vazamentos de sua história, que teria exposto dados sensíveis de mais de 200 milhões de pessoas, incluindo falecidos — hoje, essa versão acabou não se sustentando com tanta força: a comunidade de cibersegurança percebeu que se tratava de um compilado de informações sensíveis antigas, nada além disso.

Mas, com as estruturas sociais mais fragilizadas e sistemas ainda "sambando" em implantar novidades (como o Pix), os cibercriminosos aproveitam para explorar os problemas de segurança. Neste cenário, praticamente ninguém ficou a salvo e as empresas também foram atacadas.

Chilli Beans, EA Games, Bose, JBS, Colonial Pipeline, Toshiba, CD Projekt Red e dezenas de outras tiveram dados roubados, sites e páginas colocados fora do ar ou sofreram outros tipos de prejuízos. 

Hackers

E como não poderia deixar de ser diferente, os órgãos públicos também foram visados. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Biblioteca Nacional estiveram entre os alvos.

E o modus operandi dos criminosos tem tido um padrão: o ransomware. Ele é um tipo de malware que infecta sistemas e criptografa os arquivos, tornando-os "reféns". Para liberar novamente o acesso, os cibercriminosos cobram um valor (geralmente em bitcoin) para que as empresas façam o "resgate" e retomem os arquivos ou servidores trancados.

Com a mira completamente sem direção, os chamados "black hats", que são hackers mal-intencionados, e cibercriminosos no geral também fizeram vítimas empresas e órgãos públicos do setor de energia do Brasil.

Foram pelo menos cinco instituições que sofreram ataques desde março do ano passado: EDP, Enel, Light, Copel e Eletronuclear. As ações criminosas não chegaram a afetar a distribuição ou fornecimento de energia, mas vazaram dados e afetaram os sistemas administrativos das empresas.

O setor está preocupado: o cenário atual soma a conta de luz que está mais cara (por causa da crise hídrica) e em que o racionamento é uma possibilidade (o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, chegou a pedir "uso consciente" da água e energia elétrica).

Estação de energiaEstação de distribuição de energia elétrica brasileira

Júlio Oliveira, gerente de tecnologia da Hitachi ABB Power Grids, empresa global de fornecimento de energia, explica ao TecMundo que as companhias do setor elétrico viraram alvo (assim como de água, óleo e gás) porque ataques bem-sucedidos nestes campos podem trazer grande repercussão, já que paralisações podem efetivamente prejudicar o cotidiano da população.

Sobre os riscos efetivos, ele argumenta que são variados, já que dependem do tipo de ação criminosa. Contudo, Oliveira especifíca dois ataques que podem comprometer seriamente a operação de uma estrutura de energia elétrica.

O primeiro são os ataques que causam a indisponibilidade do Sistema de Supervisão e Aquisição de Dados (SCADA) e Dispositivos Eletrônicos Inteligentes (IEDs), ferramentas utilizadas na automação das plantas.

Usina Hidrelétrica Itaipu Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional

"Uma invasão que possa corromper, apagar ou substituir arquivos usados nestes processos ou equipamentos compromete de forma crucial a operação de uma planta industrial ou de uma subestação de energia, impedindo a execução de manobras ou acionamentos por parte dos operadores quando essas ações são demandadas", conta.

No caso dos ransomwares, o executivo afirma que os black hats podem tomar, de certa forma, o controle das plantas e subestações em um golpe mais sério. Nessa situação hipotética, a empresa de energia ou companhia ficaria sem autonomia para tomar decisões operacionais, já que o cibercriminoso pode criptografar as informações do sistema e exigir um pagamento para devolver o acesso.

Sobre o risco de os brasileiros serem efetivamente afetados por possíveis novos ataques bem-sucedidos ao setor de energia, o gerente de tecnologia da Hitachi ABB Power Grids é taxativo: "uma vez que não há mais controle sobre o sistema, as consequências podem ser desastrosas".

O executivo pontua que, em contrapartida, não se pode impedir que um ataque cibernético ocorra, já que os script kiddies/lammers (usuários de internet com conhecimento raso em cibercrime) e cibercriminosos investem tempo e recursos de maneira incessante para achar brechas nos sistemas. Os chamados Industrial Control Systems (ICS), inclusive, têm se tornado alvo deste público desde 2010, após o Stuxnet, um ataque cibernético israelense-americano, lembra Oliveira.  

"Mas ainda há muito o que fazer para proteger esses ativos, principalmente no que concerne na compreensão de que investimentos para este propósito podem evitar problemas de disponibilidade dos serviços prestados e de imagem em um futuro próximo", finaliza.

A torcida e esperança dos brasileiros é que as ações tomadas pelas empresas e órgãos públicos sejam o suficiente para evitar que todos voltem, depois de quase duas décadas, a ficar na escuridão.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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