Guardians of the Galaxy é uma aventura genérica, mas divertida
Tecmundo
Se você voltasse uns 10 anos no tempo, praticamente ninguém ao seu redor reconheceria o nome dos Guardiões da Galáxia. Fora o nicho mais aficionado pelos quadrinhos da Marvel, esse time de heróis espaciais no máximo fazia parte do nível C ou D entre os personagens da editora, o que só mudou depois da estreia do seu filme lá em 2014.
Para o bem ou para o mal, a visão do diretor James Gunn fisgou um lugar cativo no imaginário da cultura pop, e a sua formação da equipe contando com o Senhor das Estrelas, Drax, Gamora, Rocky e Groot passou a aparecer nos gibis, figuras de ação e desenhos animados desde então.
Afinal, poucas marcas hoje em dia têm o mesmo poder e influência que o Universo Cinematográfico da Marvel, o que às vezes pode até atrapalhar outras obras. O recente jogo dos Vingadores, para todos os seus problemas, foi um que sofreu demais nas primeiras impressões da galera justamente porque não conseguia evocar a mesma estética, tom e até feições dos atores dos filmes.
Essa fracasso acabou empurrando muito ceticismo também para cima do lançamento de Marvel Guardians of the Galaxy. Mas será que o novo jogo da Casa das Ideias teve melhor sorte? Descubra na nossa análise completa a seguir!
Heróis feitos do jeito certo
Não fossem universos tão próximos, seria até injusto comparar os Vingadores com os Guardiões da Galáxia, já que eles não compartilham sequer a mesma desenvolvedora! Enquanto Avengers foi feito pela Crystal Dynamics, Guardians of the Galaxy ficou a cargo da Eidos Montreal, também responsável pela aclamada franquia Deus Ex.
Se a Crystal Dynamics acabou sofrendo com a pressão de entregar um jogo como serviço contínuo, repleto de microtransações abusivas e com um multiplayer toscamente colado junto da história principal, a Eidos teve melhor sorte e conseguiu tocar um projeto muito mais focado, com um escopo limitado e, até mesmo por isso, mais coeso, o que já fica claro na primeira hora de gameplay:
A sua aventura estelar é totalmente single player, não há DLCs nem formas externas de tirar o seu dinheiro depois da compra inicial, e a campanha é totalmente linear, estruturada em capítulos bem curtinhos e agradáveis. Como os próprios roteiristas tinham me contado em entrevista aqui pro Voxel, a narrativa e o roteiro são o carro chefe dessa jornada em terceira pessoa!
Ainda bem, então, que o enredo é justamente a parte que melhor funciona em todo o game. Se você gosta do humor dos filmes, certamente vai dar boas risadas por aqui também conforme os Guardiões interagem entre si. E olha, como eles interagem, hein? Ao longo de toda a campanha você mal vai ter um segundo de silêncio, já que os personagens nunca calam a boca.
Só que seja com uma piadinha ou provocação inofensiva, ou mesmo em diálogos que se aprofundam no seu passado e personalidade, é um prazer passar um tempo com a equipe. E aí, mesmo que você só controle diretamente o Senhor das Estrelas, o tempo todo se sente junto dos seus companheiros.
Sozinho, mas nunca solitário
Até porque, durante os segmentos de ação, cada um dos outros guardiões é associado a um atalho no joystick. Enquanto você luta, pode dar ordens para a Gamora, Groot, Drax e Rocky, que desferem poderosos ataques especiais movidos a cooldowns, o que te impede de abusar demais deles. Confira o sistema de combates em ação:
O Senhor das Estrelas, por sua vez, só pode dar uns socos meio imprecisos de perto ou atacar com as suas clássicas pistolas de longe, o que acaba sendo o seu golpe principal. Ao acumular golpes o bastante, você também pode ativar um especial que agrupa o seu time e então ativa bônus conferindo ainda mais poder para eles. Isso é especialmente legal de fazer porque também ativa uma das dezenas de músicas licenciadas do game!
Em toda a minha experiência, nunca vi um jogo que reuniu tantas bandas legais dos anos 80 de uma só vez, nem mesmo nas rádios de GTA! É uma seleção de grandes nomes que vai desde A-ha e Tears for Fears até Europe e Wham!, então é um prato cheio se você curte a sonzeira dessa época, como eu e o Senhor das Estrelas.
Com uma trilha sonora e roteiro tão bons, você deve estar se perguntando "como está o resto do jogo"? A resposta acaba sendo um pouco cruel, porque ela bem poderia ser… “bom, que resto?!”. Se você tira esses elementos da equação, acaba restando muito pouco para se apreciar por aqui, o que pode ser um problemão dependendo das suas expectativas.
Apostando tudo na narrativa
Você até vai esbarrar com um ou outro puzzle aqui e ali, precisa ocasionalmente dar ordens aos seus amigos para liberar novos caminhos, e pode correr atrás de componentes espalhados pelo cenário para construir umas melhorias com o Rocky, mas isso importa muito pouco devido a extrema facilidade e raridade das batalhas.
Cada luta que você encontra no jogo parece mais um pequeno filler até você poder chegar logo no que interessa, que é ver mais da história. Aliás, voltando às comparações com o universo Marvel, a trama é muito mais inspirada nas histórias em quadrinhos do que nos filmes do James Gunn, o que acaba funcionando a favor do jogo. Se você gosta especialmente da fase do Dan Abnett, vai amar o ritmo e reviravoltas da trama!
Outra sacadinha legal é que frequentemente aparece um prompt na tela com ramificações de diálogo para o Senhor das Estrelas intervir ou não em uma conversa. Na maioria das vezes isso só serve para fins humorísticos, mas em outras ocasiões você pode gerar pequenas e médias bifurcações no caminho, como você pode ver nesse gameplay:
Por exemplo, em certo ponto os Guardiões precisam atravessar um abismo cuja ponte só pode ser ativada do outro lado. Drax sugere arremessar o Rocky até o outro lado, e o guaxinim obviamente reclama disso. Você pode tomar o partido de qualquer um dos dois. Arremessando o Rocky, o problema é resolvido de cara, mas ele fica irritado com você. Protegendo o Rocky, ele fica mais leal e feliz, mas você precisa solucionar um pequeno puzzle alternativo para cruzar o caminho.
Em outra das decisões com maior impacto, você pode decidir se o Rocky ou Groot serão usados em um grande golpe para tentar vender um monstro para a Lady Hellbender. A escolha é toda sua, e vale a pena usar a ferramenta de seleção de capítulos para revisitar essas ramificações depois!
Só que mesmo isso acaba sendo um incentivo muito pequeno para justificar a compra de um título com campanha tão curta e sem maiores atrativos. Para piorar, ao menos antes do lançamento, o jogo está cheio de bugs chatos que podem ou travar o seu progresso ou, ainda pior, fazer você empacar porque algum puzzle não foi ativado do jeito que deveria, o forçando a reativar um antigo checkpoint.
Vale a pena jogar?
Se você não liga, ou quem sabe até mesmo busca um jogo daqueles em que você basicamente só precisa apertar para frente e X até zerar, Marvel Guardians of the Galaxy é uma ótima recomendação, já que o seu enredo e trilha sonora ficam facilmente entre os melhores da geração, com direito a bastante fanservice e referências abundantes para saciar os fãs dos personagens.
Mas o seu combate sem sal, excesso de bugs e simplicidade da jornada dificultam justificar uma compra por preço cheio. No fim das contas, a Eidos Montreal conseguiu o que queria, que era criar uma boa história e honrar esses personagens icônicos. Se isso está de bom tamanho para você, pode embarcar na nave Milano sem hesitar, porque você provavelmente vai se divertir bastante!
Nota Voxel: 83
Pontos positivos
Diálogos afiados e muito engraçados
História cheia de sacadas legais
Boas ramificações narrativas
Trilha sonora inspirada cheia de hits dos anos 1980
Pontos negativos
Muitos bugs e glitches
Combate muito fácil, genérico e burocrático
Poucos motivos para jogar de novo