Paciente com paralisia total volta a se comunicar após implante no cérebro
Tecmundo
Uma equipe de médicos da Universidade de Tübingen, na Alemanha, realizou um implante em um paciente com esclerose lateral amiotrófica (ELA) que o tornou capaz de se comunicar novamente. O implante permite captar o homem imaginando o movimento dos seus olhos e, então, traduzir em palavras por meio de um computador.
Os resultados do estudo foram publicados na terça-feira (22) na revista científica Nature Communications.
Os sistemas mais comuns de comunicação para pacientes de ELA, como o do cientista Stephen Hawking (1942-2018), usam um computador para rastrear o movimento dos olhos e traduzir em palavras. A nova conquista é notável justamente por conta do implante captar apenas a imaginação do movimento dos olhos do paciente.
O experimento foi conduzido pelo engenheiro biomédico Ujwal Chaudhary e por Niels Birbaumer, ex-neurocientista da Universidade de Tübingen.
Os pesquisadores implantaram dois eletrodos com 3,2 milímetros de largura no cérebro do homem e, no início, os resultados foram inconsistentes. Contudo, após três meses de esforços, o paciente conseguiu usar o implante para responder questões simples de "sim" e "não" e, então, criar frases como "eu amo meu filho legal".
O implante foi realizado no córtex motor do paciente
“Para comida, quero curry com batata, depois bolonhesa e sopa de batata”, disse o homem de 34 anos após alguns meses do implante. Ele escolheu letra por letra para formar a frase.
Apesar dos resultados positivos, os cientistas afirmaram que o sistema é totalmente personalizado para o homem e que ainda demorará bastante até que a tecnologia esteja à venda para pessoas com ELA. Por isso, a fundação de Chaudhary está buscando financiamentos para criar implantes semelhantes e ajudar mais pessoas — em média, o sistema custa US$ 500 mil (cerca de R$ 2,4 milhões na cotação atual) durante os primeiros dois anos de uso.
Passado polêmico
De qualquer forma, é importante salientar que ambos neurocientistas já participaram de polêmicas no passado ao publicarem estudos com declarações falsas e sem dados completos — após a polêmica, os estudos foram removidos pela Fundação Alemã de Pesquisa.
“Este trabalho, como outros trabalhos de Birbaumer, deve ser visto com uma enorme montanha de sal, dada a sua história”, disse a pesquisadora da Universidade da Califórnia em San Diego, Brendan Allison, ao The New York Times.
A esclerose lateral amiotrófica é uma doença degenerativa progressiva que reduz a funcionalidade dos músculos e, em última instância, acarreta a paralisia motora irreversível. Assim, os pacientes com a doença perdem a capacidade de se movimentar, falar, engolir e até respirar.
ARTIGO Nature Communications: doi.org/10.1038/s41467-022-28859-8