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Quem tem medo do home office?
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Quem tem medo do home office?

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Tecmundo
16/05/2022 23h00
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Não demorou muito tempo depois que as restrições provocadas pela pandemia se afrouxassem, para que várias empresas orientassem seus funcionários e funcionárias para a volta aos escritórios. A prática do trabalho remoto, antes associada a um elemento que integraria “o futuro do trabalho”, passou a ser preterida e apontada como uma saída meramente contingencial. Mas por que essa pressa em se livrar desse esquema de trabalho? Afinal, quem tem medo do home office?

A tendência de retorno aos escritórios tem sido encabeçada pelas gigantes da tecnologia nos Estados Unidos, como apontado por recentes reportagens na imprensa. As grandes empresas do Vale do Silício, que já há alguns anos dão o tom da cultura corporativa a ser seguida em boa parte do mundo, tinham adotado o home office no início da pandemia; algumas chegaram a apontar o modelo como uma solução permanente, que permitiria flexibilidade e bem estar aos seus trabalhadores e trabalhadoras, que podiam agora passar mais tempo com suas famílias, cônjuges, animais de estimação, além de eliminar de vez o tortuoso período diário no deslocamento casa-trabalho-casa.

home office

Mas tão logo os índices da crise da covid-19 se atenuaram, a história mudou. Subitamente, as empresas iniciaram protocolos de retorno gradual às suas sedes, estimulando suas equipes com encontros festivos, jogos, cupons de desconto em aplicativos de delivery, snacks gratuitos, dentre outros pequenos presentes. Em alguns casos, as estratégias de persuasão ganharam tons agressivos: houve empresas que ameaçaram funcionários e funcionárias que preferiam trabalhar em casa com redução de salário e corte de benefícios, deixando-os sem muita alternativa.

Mas, afinal, por que tanto interesse em voltar para como as coisas eram antes?

Tenho algumas hipóteses. Em primeiro lugar, arrisco dizer que nunca foi um objetivo de fato das empresas a adoção do trabalho remoto de forma definitiva. Quando se ressaltavam as qualidades do home office, elas o faziam para dar um sentido de normalidade a uma nova configuração de trabalho num contexto caótico e imprevisível. Afinal, era preciso passar a mensagem que, mesmo numa crise de saúde global sem muitos precedentes, ainda havia boas formas de trabalhar e seguir a rotina.

Em segundo lugar, acredito que o retorno aos escritórios diz respeito ao apego dos gestores e gestoras a um modo de condução das empresas relacionada a estruturas de hierarquia, vigilância e controle. Distante das pretensões de alcançar um modo de trabalho mais horizontalizado e com responsabilidades compartilhadas, com a autonomia e confiança individuais decorrentes ao home office, este movimento parece uma volta ao que costumávamos entender como o modo mais eficiente de gestão. 

Os benefícios do home office, porém, se cristalizaram na vida das pessoas. Passar mais tempo com a família, ter mais autonomia na gestão do próprio tempo, poder cozinhar todo dia ao invés de se alimentar na rua, tudo isso são aspectos positivos, entre práticos e subjetivos, difíceis de negociar. Poder trabalhar para empresas fora do seu entorno imediato; pessoas da Bahia podem se candidatar para vagas em São Paulo sem ter que se preocupar em sair de seus endereços e se distanciar de família e amigos.

Tem muita gente, por exemplo, que aproveitou o tempo livre aberto pela falta de deslocamento que há no home office para se qualificar para novas carreiras, para se dedicar a interesses pessoais e até para empreender. Conheço pessoas que, aproveitando o tempo livre e a privacidade do trabalho remoto, abriram empresas e ampliaram sua área de atuação.

 

Como simplesmente tirar isso das mãos das pessoas? Não questiono aqui os benefícios das atividades presenciais - como o contato humano, a maior espontaneidade do encontro entre as pessoas, o maior afinamento de ideias e o melhor aproveitamento da cultura corporativa - , mas sim a súbita mudança de narrativa adotada pelas tendências corporativas.

Mais e mais, acredito que a cultura corporativa precisa entender que as demandas das pessoas devem ser compreendidas e dialogadas, aumentando o espaço de negociação entre os colaboradores e colaboradoras de uma empresa. Se o home office se provou uma boa novidade na vida das pessoas, seguir com o modelo talvez seja uma forma das empresas provarem que confiam em suas equipes, fortalecendo seu vínculo com elas e permitindo uma maior fluidez na condução do seu trabalho.

Não estamos mais, afinal, na era dos comandos verticais, da paranoia em relação ao controle e vigilância dos funcionários e funcionárias. Entender que vivemos num momento de mudanças delicadas nas relações de trabalho e do lugar que o trabalho está no cotidiano das pessoas é primordial para o avanço dessa discussão. Ninguém precisa ter medo do home office, afinal.

***
Eduardo Cosomano
é fundador da EDB Comunicação, agência especializada em assessoria de imprensa e produção de conteúdo, e coautor do livro “Saída de Mestre: estratégias para compra e venda de uma startup”, lançado pela Editora Gente.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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