Stradivarius: violino mais famoso do mundo teve tratamento químico
Tecmundo
Considerados os instrumentos mais perfeitos do mundo, os violinos Stradivarius são objetos de veneração entre os músicos não apenas pela sua qualidade musical e sonoridade incomparável, como também pelo seu elevado valor de mercado, sendo arrematados em leilões internacionais por valores nunca menores do que US$ 10 milhões, cerca de R$ 53 milhões.
Publicada recentemente na Angewandte Chemie, a principal revista de química da Alemanha, uma pesquisa conseguiu finalmente confirmar a hipótese de um professor da Universidade do Texas A&M (TAMU). Para Joseph Nagyvary, o segredo do som único produzido pelos violinos fabricados por Antonio Stradivari e Guarneri “del Gesù" nos séculos XVII e XVIII estaria em um tratamento com produtos químicos.
A identificação desses produtos químicos, porém, causou uma surpresa ainda maior, pois comprovou outra teoria de Nagyvary: a de que os produtos usados pelos fabricantes eram uma espécie de inseticida para combater uma infestação de cupins.
Professor Nagyvary colhe preciosas amostras de um autêntico Stradivarius (Fonte: Texas University A&M/Divulgação.)
As descobertas da pesquisa
As descobertas da equipe internacional liderada pelo professor Hwan-Ching Tai, da National Taiwan University, revelou que os componentes químicos utilizados por Stradivari e Guarneri são bórax, zinco, cobre e alúmen de potássio , junto com água de cal. Coautor da nova pesquisa, Nagyvari explica em comunicado da TAMU que “o bórax tem uma longa história como conservante, que remonta aos antigos egípcios, que o usavam na mumificação e mais tarde como inseticida”.
Para o professor emérito, esses químicos indicam uma parceria entre os luthiers (fabricantes de violinos) e a botica e o farmacêutico local da época. O que o estudo atual revela é que Stradivari e Guarneri tinham o seu método exclusivo de tratamento da madeira. “Eles podem ter percebido que os sais especiais que usavam para impregnar a madeira também conferiam a ela alguma resistência mecânica benéfica e vantagens acústicas", diz Nagyvary.
Como não havia patentes naquela época, os materiais e os métodos utilizados foram mantidos em segredo. O mistério se manteve ao longo do tempo, pois a simples inspeção visual do produto nada revela. Somente agora, com o uso de técnicas espectroscópicas, microscópicas e químicas das placas de som cremonesas, foi possível esclarecer a questão.
Nagyvary, que aprendeu música em um violino que pertenceu a Albert Einstein , disse que passou grande parte dos seus 87 anos pesquisando os Stradivarius, e que a maior dificuldade encontrada foi obter amostras. Afinal, tirar uma casquinha em um objeto de dezenas de milhões de dólares não deve ser uma tarefa fácil.
ARTIGO Angewandte Chemie: doi.org/10.1002/anie.202105252