Estudo sugere origem para a descoberta do corante roxo

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O Livro do Êxodo relata que Deus ordenou aos israelitas que ofertassem, entre outros bens, fios azuis, roxos e escarlates. Essas cores, sobretudo o roxo — pigmento raro e símbolo de realeza —, sempre despertaram curiosidade entre estudiosos e arqueólogos, intrigados sobre como povos antigos produziam tecidos tão sofisticados. Agora, uma nova descoberta em Israel lança luz sobre esse mistério milenar.
Pesquisadores revelaram que Tel Shiqmona, um sítio arqueológico localizado nos arredores de Haifa, na costa norte de Israel, abrigou a única fábrica conhecida de corante roxo em escala industrial da Antiguidade.
O estudo, publicado na revista PLOS One, mostra que o local foi um importante centro de tingimento durante a Idade do Ferro, entre 1100 e 600 a.C.
Nenhum outro sítio conhecido possui uma variedade tão grande de artefatos ligados à produção de corante roxo”, afirma Golan Shalvi, arqueólogo da Universidade de Chicago e autor principal da pesquisa, ao Times of Israel.
Foram identificados mais de 135 objetos manchados de púrpura, o dobro do total encontrado em todos os outros locais arqueológicos semelhantes combinados.
Origem
Até recentemente, os estudiosos acreditavam que a produção industrial de corante roxo só havia começado na época romana, por volta do século 1 d.C. Mas as evidências de Tel Shiqmona indicam que o processo já ocorria em grande escala no século 9 a.C.
“Não se trata apenas de um artesão tingindo roupas para a realeza, mas de uma operação comercial consolidada”, destaca ao portal Ayelet Gilboa, coautora do estudo e professora da Universidade de Haifa.

A púrpura de Tiro — nome dado ao corante — era extraída de caracóis marinhos da família Muricidae. Quando ameaçados, esses moluscos liberam um fluido esverdeado que, ao oxidar em contato com o ar, adquire tonalidade roxa. O processo de extração e fixação da tinta nos tecidos era complexo e emitia um odor forte e desagradável, como descreve Shalvi à New Scientist.
Tel Shiqmona estava estrategicamente posicionada para se transformar de uma vila fenícia de pescadores em uma potência regional. Escavações revelaram enormes tonéis de mais de um metro de altura e capacidade para cerca de 360 litros, utilizados para tingir tecidos em grande quantidade.
Em determinados períodos, entre 15 e 20 tonéis funcionavam simultaneamente. “Identificamos um sistema de produção completo, com ferramentas especializadas para otimizar cada etapa do tingimento”, explica Gilboa ao Ynet.
A estrutura industrial encontrada ajuda a entender como o Reino de Israel consolidou sua influência no Oriente Médio antigo. A produção de tecidos de luxo com pigmento roxo estava diretamente associada ao poder e prestígio da monarquia israelita.


