Hominídeos faziam ferramentas com ossos bem antes do que se imaginava

Um estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira, 5, revelou que nossos ancestrais já produziam ferramentas de ossos há 1,5 milhão de anos, antecipando em mais de um milhão de anos a estimativa anterior para essa prática. A descoberta, feita no Desfiladeiro de Olduvai, na Tanzânia, sugere que hominídeos primitivos desenvolveram essa tecnologia bem antes do que se imaginava.

Os pesquisadores envolvidos no estudo identificaram um total de 27 ferramentas confeccionadas a partir de ossos de grandes mamíferos, como elefantes e hipopótamos. Os hominídeos utilizavam pedras como martelos para modelar os instrumentos, criando peças de até 1 kg, com comprimentos variando entre 20 e 40 centímetros.

"Há um desejo claro de modificar a forma do osso para transformá-los em ferramentas muito pesadas e longas", afirmou Francesco d’Errico, arqueólogo da Universidade de Bordeaux, na França, em entrevista à Agência France-Presse (AFP).

Antes dessa descoberta, acreditava-se que a produção sistemática de ferramentas de ossos só havia se estabelecido há cerca de 500 mil anos. No entanto, a nova evidência indica que essa prática já ocorria na mesma época em que hominídeos fabricavam instrumentos rudimentares de pedra na região.

"É o mesmo grupo de hominídeos fabricando ferramentas de pedra e, ao mesmo tempo, produzindo ferramentas de osso", explicou Jackson Njau, paleoantropólogo da Universidade de Indiana Bloomington, nos Estados Unidos, à Science.

Os pesquisadores sugerem que esses instrumentos eram usados para cortar carne e quebrar ossos em busca do tutano, uma fonte energética essencial. A escolha dos ossos como matéria-prima, vale destacar, não se deve apenas à sua disponibilidade, mas também às suas propriedades físicas.

"As pernas de grandes animais eram bem moldadas para ferramentas de impacto e muito mais leves que pedras de tamanho equivalente", destacou Ignacio de la Torre, arqueólogo do Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha e autor principal do estudo.

Diferentes materiais

Para os cientistas, a descoberta não só expande a linha do tempo da tecnologia de ferramentas ósseas, mas também indica que os primeiros hominídeos já possuíam conhecimento sobre diferentes materiais e suas aplicações.

"É uma mudança significativa do ponto de vista cognitivo, porque eles precisavam entender as propriedades do osso, que são diferentes das da rocha", acrescentou Njau.

Agora, a equipe busca identificar novos vestígios dessa tecnologia em outros sítios arqueológicos, o que pode fornecer mais detalhes sobre a evolução do comportamento humano. "Vamos encontrar muito mais porque agora sabemos o que estamos procurando", concluiu.

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