Não é o que parece: A curiosa história do 'menor dinossauro do mundo'
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Em março 2020, um artigo publicado na revista Nature foi o pontapé para um debate na comunidade científica. Isso porque, no estudo, foi descrito a descoberta de um crânio envolto em âmbar de 99 milhões de anos em Mianmar, que supostamente seria do menor dinossauro já descoberto.
O animal foi nomeado pelos pesquisadores de Oculudentavis khaungraae, e o estudo destacava que a forma dos ossos, especialmente ao redor dos olhos, não parecia seguir o mesmo padrão evolutivo de outros pássaros ou dinossauros. Por isso, outros paleontólogos começaram a questionar o artigo, em uma discussão se que prolongou por algum tempo na comunidade científica.
Novo estudo
Foi em junho de 2020 que outra equipe de cientistas publicou uma pré-impressão no bioRxiv, que afirmou que aquele crânio era mais semelhante com o de uma lagartixa. Já no mês seguinte, o primeiro artigo que descrevia como o "menor dinossauro do mundo" foi removido da Nature.
Então, em agosto de 2020, um estudo totalmente revisado foi lançado como uma pré-impressão na revista Current Biology, feito por uma terceira equipe. Agora, os pesquisadores confirmaram que o chamado O. khaungraae era, de fato, um tipo de lagarto.
Para este terceiro artigo, os pesquisadores se basearam em outro espécime mais bem preservado, de um fóssil que também foi encontrado em Mianmar, datado de cerca de 99 milhões de anos, com o crânio mais bem preservado e com meia polegada de comprimento.
O fóssil foi descrito como uma espécie diferente do mesmo gênero do O. khaungraae, nomeada Oculudentavis naga, e que ambas eram apenas espécies de lagartos estranhos, em vez de pequenos dinossauros.
Lagarto estranho
Em comunicado, o herpetologista e coautor do estudo, Juan Diego Daza, da Sam Houston State University, no Texas, alegou que o lagarto se trata de "um animal muito estranho. É diferente de qualquer outro lagarto que temos hoje".
Vale mencionar que, durante o período Cretáceo, época dos dinossauros e também quando os fósseis foram formados, surgiram grupos de lagartos e cobras. No entanto, eles ainda não tinham evoluído para as características que possuem hoje; como resultado, eram como "intermediários" entre espécies, o que certamente dificulta a identificação.
É por isso que eles podem nos enganar. Eles podem ter características deste ou daquele grupo, mas, na realidade, não combinam perfeitamente", acrescenta Juan Diego Daza no comunicado.
Além disso, a forma como os fósseis acabaram preservados no âmbar deformou os crânios de ambos os espécimes de Oculudentavis, contribuindo ainda mais para dificultar a identificação, bem como para o mal-entendido inicial.
No caso do O. khaungraae, parte do focinho acabou distorcido, adquirindo um formato de cone mais estreito, semelhante a um pássaro; já no caso do O. naga, a parte superior do crânio ficou mais achatada durante a fossilização, ficando mais evidentemente parecido com um lagarto.