Seres humanos têm até 33 sentidos, diz pesquisa
Bons Fluidos

Vivemos grande parte do dia presos às telas, atentos quase exclusivamente ao que vemos e ouvimos. Ainda assim, o corpo segue trabalhando em segundo plano com os seus sentidos. Ele percebe a aspereza de uma superfície, a tensão acumulada nos ombros, a maciez de um alimento recém-cortado. Logo pela manhã, há o frescor da água do chuveiro, o aroma do shampoo, o leve ardor da pasta de dente e, pouco depois, o cheiro do café que se espalha pela casa.
Durante séculos, aprendemos que existiam apenas cinco sentidos: visão, audição, tato, paladar e olfato. Mas hoje, a ciência moderna também ampliou essa compreensão. Pesquisadores indicam que podemos ter dezenas de sentidos diferentes atuando ao mesmo tempo.
O corpo percebe o mundo de forma integrada
Quase nenhuma experiência é vivida por um único sentido isolado. O cérebro combina informações de diferentes canais para construir uma percepção única da realidade. Aquilo que sentimos influencia o que vemos; o que vemos pode alterar o que ouvimos e assim por diante.
Um exemplo curioso está nos aromas. Um simples cheiro adicionado a um shampoo pode modificar a sensação da textura do cabelo. O perfume de rosas, por exemplo, costuma fazer os fios parecerem mais macios ao toque. O mesmo acontece com alimentos: certos aromas conseguem tornar iogurtes com baixo teor de gordura mais encorpados ao paladar, sem alterar sua composição.
Quantos sentidos temos, afinal?
Segundo o professor Charles Spence, do Laboratório Intermodal da Universidade de Oxford, neurocientistas estimam que o ser humano possua entre 22 e 33 sentidos. Entre eles está a propriocepção, que nos permite saber onde estão braços e pernas sem precisar olhar, e o sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio e pela orientação espacial.
Há também a interocepção, que nos faz perceber sinais internos do corpo, como fome, sede ou alterações nos batimentos cardíacos. Outro sentido menos conhecido é a sensação de controle e pertencimento do próprio corpo – algo que pode ser afetado em pessoas que sofreram um AVC, levando à estranha impressão de que um braço ou uma perna “não pertence” mais a elas.
Sabores vão muito além da língua
Mesmo sentidos considerados “clássicos” são, na verdade, combinações complexas. O tato envolve dor, temperatura, pressão e até coceira. Já o paladar é uma construção ainda mais elaborada. Quando provamos algo, o cérebro reúne informações da língua, do nariz e da textura do alimento.
A gustação detecta cinco qualidades básicas: doce, salgado, azedo, amargo e umami. Mas sabores como morango, manga ou framboesa não estão “programados” na língua. Eles surgem da interação entre paladar e olfato. Grande parte do que chamamos de gosto vem, na verdade, do cheiro – percebido quando compostos aromáticos sobem da boca para o nariz durante a mastigação.
A textura também importa. A preferência por uma gema mais mole ou mais firme, ou pela cremosidade do chocolate, é resultado dessa conversa constante entre tato, olfato e paladar.
Quando ouvir muda o que vemos (e sentimos)
Sentir é mais complexo (e bonito) do que parece
Em exposições interativas como Sentidos Desvendados, em Londres, o público pode experimentar ilusões que revelam o quanto nossas percepções enganam. Objetos de tamanhos diferentes, mas com o mesmo peso, costumam parecer mais pesados ou mais leves apenas por causa da aparência.
Esses exemplos mostram que sentir não é um processo simples nem automático. É uma construção rica, dinâmica e surpreendente. Parar por alguns instantes para notar aromas, texturas, sons e sabores é também uma forma de presença. Na próxima caminhada ou refeição, talvez valha a pena desacelerar e observar como todos esses sentidos trabalham juntos para criar a experiência de estar vivo.
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