9 revelações bombásticas do tribunal no caso Activision Blizzard e Microsoft
Tecmundo
A Microsoft começou a enfrentar em 22 de junho uma de suas batalhas judiciais mais complicadas dos últimos tempos. Na data, teve início uma série de audiências nos Estados Unidos que teve como centro a aquisição de quase US$ 70 bilhões da Activision Blizzard .
O negócio foi anunciado em janeiro do ano passado e precisava passar pela aprovação dos órgãos reguladores. O Brasil foi um dos primeiros mercados a chancelar o acordo , seguido por outros legisladores da Coreia do Sul e Europa , por exemplo.
Contudo, no caso dos EUA, a Federal Trade Commission (FTC), que é o órgão que legisla sobre monopólio e concorrência, não enxergou com bons olhos a compra da dona do Xbox e decidiu levar o caso para os tribunais.
Phil Spencer, o chefão da divisão Xbox, chegou sorridente para falar no tribunal em San Francisco, na Califórnia (Imagem: Getty Images/Loren Elliott)
As audiências em San Francisco não têm previsão para terminarem, mas a expectativa é de que uma decisão seja tomada no máximo até o início da próxima semana. E é importante explicar que não será decidida a aprovação ou não da compra, mas sim se será concedida ou não uma liminar que trava temporariamente o negócio.
E a gigante da tecnologia de Redmond corre contra o tempo porque se a decisão temporária for concedida, ela terá que desembolsar US$ 3 bilhões. O valor é uma espécie de multa estipulada em contrato que a Microsoft teria que pagar à Blizzard caso o acordo não fosse para frente na Justiça até 18 de julho deste ano.
Ademais, a Microsoft também se preocupa porque as dificuldades impostas pela FTC e Competition and Markets Authority (CMA), órgão regulador do Reino Unido, aliadas a uma derrota judicial podem fazer o acordo bilionário “melar” de vez.
As sessões na justiça norte-americana ouviram diversas pessoas envolvidas não só no acordo, mas outros importantes players da indústria de jogos eletrônicos. Até mesmo Jim Ryan, CEO da Sony, prestou depoimento.
O debate na corte trouxe à tona diversas revelações do mundo dos games. Questões que estavam em trocas de e-mails, documentos corporativos, contratos e até conversas casuais foram divulgadas para que os juízes decidam se a FTC poderia receber a liminar ou não.
A história da compra pela Microsoft "abafou" um pouco os casos de assédio que caíram sob a Activision Blizzard nos últimos anos (Imagem: Getty Images/Mario Tama)
Confira, a seguir, 9 revelações bombásticas do tribunal no caso Xbox e Activision Blizzard. O Voxel utilizou em grande parte a excelente cobertura feita em tempo real pelo site The Verge:
Para tentar convencer os legisladores que a compra da Activision Blizzard vai fortalecer seus serviços, que seriam o foco atual, a Microsoft disse ter “perdido a guerra de consoles”. Documentos levados à corte mostram que desde que o primeiro Xbox foi lançado, ela ficou praticamente o tempo todo atrás de PlayStation e Nintendo nas vendas.
No tribunal, Phil Spencer, chefe da divisão Xbox, contou que a aquisição da Zenimax (dona da Bethesda) se deu muito por causa da Sony. A marca japonesa assinou acordos de exclusividade para o PlayStation e Spencer revelou que a Microsoft não queria que isso acontecesse com Starfield, assim como tinha acontecido com Deathloop e Ghostwire: Tokyo.
“Nós não podemos estar em uma posição, como o terceiro console mais vendido, onde ficamos ainda mais para trás em nossa propriedade de conteúdo, então tivemos que assegurar algum tipo de conteúdo para permanecer viável no negócio”.
Os documentos mostrados no tribunal revelaram que a Microsoft esteve de olho em vários outros estúdios de video game. Uma lista de 2021, por exemplo, é composta por nomes como Hello Games (No Man's Sky), Team Cherry (Hollow Knight), Ember Lab (Kena: Bridge of Spirits), Hazelight Studios (It Takes Two) e Striking Distance Studios (The Callisto Protocol).
Outros arquivos mostram que Phil Spencer mandou um e-mail para Satya Nadella, CEO da Microsoft, solicitando a abertura de negociações de compra de marcas como Sega (Sonic), Bungie (Destiny), Supergiant Games (Hades), Niantic (Pokémon Go), IO Interactive (Hitman) e até Square Enix (Final Fantasy). As aquisições serviriam para deixar o Game Pass ainda mais atraente.
Xbox quase comprou Sega, Bungie e mais estúdios; veja lista
Documentos comerciais do caso Microsoft e Activision Blizzard revelaram a expectativa de lançamento do hipotético PlayStation 6 e do próximo Xbox. De acordo com os arquivos, os hardwares estão sendo planejados para chegar ao mercado em 2028, oito anos após o lançamento do PS5 e Xbox Series.
Em 21 de fevereiro deste ano, houve uma reunião a portas fechadas da CMA com vários agentes da indústria de games. Neste encontro, estavam Jim Ryan e Bobby Kotick, CEO da Activision, por exemplo. Na ocasião, Ryan teria dito a Kotick que gostaria que os órgãos reguladores bloqueassem a compra bilionária. No julgamento desta semana, Ryan confirmou o que havia dito.
“[Na ocasião] eu disse a ele [Kotick] que achava que a transação era anticompetitiva, que esperava que os reguladores fizessem seu trabalho e a bloqueasse”, argumentou.
E apesar de Call of Duty ser grandemente utilizado como um argumento da Sony contra o negócio, Ryan disse não acreditar que o acordo é necessariamente sobre exclusividade. “Eles estão pensando mais do que isso e têm dinheiro para fazer movimentos como este. Passei bastante tempo com Phil [Spencer] e Bobby [Kotick] e tenho certeza de que continuaremos a ver Call of Duty no PlayStation por muitos anos”, salientou.
Em outra fala importante, Jim Ryan afirmou no tribunal que as publishers não gostam do Game Pass. “Eu falei com várias publishers e todas elas unanimemente não gostam do Game Pass, já que seu valor é destrutivo”. “Essa é uma visão muito comum entre as publishers”, acrescentou.
Depois da fala, o CEO da Activision Blizzard, Bobby Kotick, foi nessa linha e declarou que tem “aversão” a serviços de assinatura. “Talvez parte disso seja por eu estar em Los Angeles e ter grandes empresas de mídia transferindo seu conteúdo para esses serviços de streaming por assinatura e os resultados dos negócios estarem sendo prejudicados”.
Um dos momentos mais curiosos da briga para aprovação do negócio não aconteceu nem com a Microsoft e nem com a Activision Blizzard, mas sim com a Sony. Como já dito anteriormente, vários documentos confidenciais e internos são levados ao tribunal para que um ponto A ou B seja provado por algum depoente.
Só que parece que os advogados da Sony não souberam como rasurar seus papéis e cometeram uma gafe. Um arquivo levado para o tribunal foi rasurado com caneta e depois escaneado, só que mesmo assim era possível enxergar as informações.
Estes documentos revelaram que The Last of Us 2 custou US$ 220 milhões, enquanto Horizon Forbidden West teve custos de cerca de US$ 212 milhões.
O depoimento de Bobby Kotick foi bastante focado no Nintendo Switch, já que a japonesa também acompanha o desenrolar da história toda. De acordo com o executivo, a Activision Blizzard “subestimou” o Switch e por isso que decidiu não lançar Call of Duty para o console. “Ele é provavelmente o segundo maior console da história”, defendeu Kotick.
O julgamento foi além e trouxe à tona documentos que mostraram trocas de e-mail entre o chefão da Activision Blizzard e Shuntaro Furukawa, presidente da Nintendo. Nas mensagens, Kotick fala que o próximo Switch terá “alinhamento mais próximo [com] plataformas da 8ª geração”. Ou seja, o hipotético Nintendo Switch 2 deve ter hardware e desempenho parecido com PlayStation 4 e Xbox One.
Um dos depoimentos mais aguardados foi de Satya Nadella, presidente da Microsoft e um dos principais executivos de tecnologia do mundo. A participação no tribunal foi bastante tranquila e ele não fez grandes revelações.
Contudo, um ponto interessante que ele citou é que a Microsoft não gostaria de ter jogos exclusivos de Xbox. “Eu adoraria me livrar de todo tipo de exclusividade nos consoles, mas isso não cabe a mim definir, especialmente como um player de baixa participação no mercado de consoles em que o player dominante [Sony] definiu a concorrência usando exclusivos. Eu não gosto desse mundo”, revelou.
Nadella ainda reiterou a promessa que a companhia já havia feito, de que Call of Duty continuará chegando no PlayStation se a compra da Activision Blizzard avançar. “Não faz sentido econômico ou estratégico [não lançar CoD no PlayStation]. Nosso objetivo com a Activision em particular, em seu conteúdo e em nosso conteúdo, é colocá-los em mais plataformas. Isso é o que fizemos com o [Microsoft] Office e é isso que eu quero fazer com os jogos”.