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Botão do esquecer? Cientistas desenvolvem técnica para 'apagar' memórias
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Botão do esquecer? Cientistas desenvolvem técnica para 'apagar' memórias

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Tecmundo
21/01/2025 19h30
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Já dizia Pitty em sua música Memórias: "memórias, não são só memórias, são fantasmas que me sopram aos ouvidos coisas que eu nem quero saber." Nem sempre as informações retidas no nosso cérebro são agradáveis e podem nos trazer muito desconforto, ou mesmo danos psicológicos e sociais quando são evocadas. 

Uma queda na rua, um assalto, uma mordida na abelha intrometida que estava no seu sorvete, podem trazer consequências que ultrapassam o nível de "memórias ruins" e podem gerar traumas.

Mas essa capacidade que nosso cérebro possui de guardar acontecimentos "bons e ruins" desempenha uma função crucial no nosso modo de viver e ser. Por exemplo, você sempre irá dar uma conferida se tem algum inseto na sua comida antes de dar uma bocada.  

As danadinhas gostam de se meter em lugares inconvenientes. Fonte: GettyImages.
As danadinhas gostam de se meter em lugares inconvenientes. (Fonte: Getty Images)

Uma nova pesquisa começa a dar os primeiros passos em direção à substituição de recordações ruins. Venha saber como isso é possível e se de fato essa lembrança poderá cair no esquecimento como Bing Bong no filme Divertidamente. Essa é uma memória que eu gostaria de esquecer. 

Como as memórias são formadas? 

As recordações são um processo bastante interessante e não totalmente esclarecido. A neurociência tem se debruçado em entender como somos capazes de armazenar e recuperar informações, assim como quais são os mecanismos que farão com que um fato seja consolidado, ou não. 

Para alguns estudiosos, acontecimentos que provoquem sentimentos e emoções fortes, assim como ter imagens específicas associadas ao fato, são os melhores candidatos a serem conservados no nosso cérebro com possibilidade de rápida recuperação. 

Ao longo da vida, as recordações de fatos vivenciados vão moldando nossa forma de ser e agir. Fonte: GettyImages.
Ao longo da vida, as recordações de fatos vivenciados vão moldando nossa forma de ser e agir. (Fonte: Getty Images)

Isso explicaria em parte o motivo pelo qual você não consegue se lembrar da matéria insuportável da escola, mas, ao mesmo tempo, se estimula a estudar por recordar que o professor é uma pessoa exigente e que você deve aprender o conteúdo para não reprovar.

Nesse jogo de positividade e negatividade, nossas recordações vão aos poucos moldando nossa forma de ser e agir. Por isso, nem sempre pessoas que compartilharam a mesma vivência irão se lembrar da mesma forma do fato ocorrido. Para algum outro aluno da mesma turma, a disciplina e professor podem ser ótimos e era um prazer estudar para aquela matéria. 

E a vivência é apenas a primeira parte da "aquisição" da memória. Há quem divida esse processo em três fases, enquanto outros estudos dividem em quatro ou cinco, singularizando cada passo, mas aqui por uma questão de generalização, dividiremos em três, sendo: experiência, consolidação e recuperação.

Certeza que a maioria das trilhas sonoras dos desenhos animados está guarda na sua memória, enquanto a equação de segundo grau é só conteúdo para pesadelos. Fonte: GettyImages.
Certeza que a maioria das trilhas sonoras dos desenhos animados está guarda na sua memória, enquanto a equação de segundo grau é só conteúdo para pesadelos. (Fonte: Getty Images)

A experiência é tudo aquilo que você vive em um dia, seja de maneira positiva ou negativa. A segunda fase é a consolidação, que se acredita ser realizada durante o sono, quando nosso cérebro faz uma espécie de flashback para reforçar tudo aquilo que ele considera útil, reforçando os arranjos neuronais que irão guardar essa vivência na memória de longo prazo.

Já a terceira é quando você de fato lembra. Essa lembrança pode ser espontânea, quando você busca recordar ou evocada, que é quando algum acontecimento, cheiro ou imagem trazem a memória à tona. 

Para os pesquisadores da Universidade de Hong Kong, a potencialidade de substituir memórias, está na segunda fase, onde lembranças aversivas poderiam ser substituídas por recordações melhores.

Selecionar e substituir

O grupo de pesquisa buscou compreender se memórias ruins poderiam ser substituídas por recordações menos perturbadoras durante o sono não REM. Para isso, participaram do grupo de estudo 37 pacientes, sendo 25 mulheres e 12 homens, submetidos a um experimento aprovado pelo comitê de ética da universidade.

O experimentou consistiu em apresentar imagens que evocassem sentimentos ou situações negativas ao mesmo tempo que eram associadas às palavras. Para cada imagem, uma palavra específica, formando 48 pares de palavras/imagens. 

Por exemplo, uma imagem de acidente deveria ser associada com a palavra
Por exemplo, uma imagem de acidente deveria ser associada com a palavra "fronha". (Fonte: Getty Images)

Os participantes passavam por duas rodadas de apresentação a esses conjuntos, sendo o primeiro a noite, logo antes de dormir e o segundo pela manhã, após acordarem e realizarem os ritos matutinos de higiene e alimentação. Durante o experimento, todos dormiram no laboratório e depois saíam para seguir sua rotina diária. 

O sono foi monitorizado por eletrodos que forneceram leituras de ativação neuronal. Durante a noite, as palavras que haviam sido associadas às imagens ficava tocando, com intuito de evocar e reforçar a memória

Em um segundo momento, o grupo de pesquisadores substituiu metade das imagens perturbadores por cenas mais afetivas e confortadoras, utilizando o mesmo conjunto de palavras que antes estava associada a imagens ruins.

Se antes a imagem de acidente estava associado com a palavra fronha, agora a mesma palavra estava associada à uma tarde divertida na praia. Fonte: GettyImages.
Se antes a imagem de acidente estava associado com a palavra fronha, agora a mesma palavra estava associada a uma tarde divertida na praia. (Fonte: Getty Images)

A monitorização das noites seguintes apontou uma alteração nas ondas cerebrais responsáveis pelo processamento da memória emocional. Após a substituição da imagem, o cérebro se mostrou mais propenso a responder à palavra que evocava, nesse momento, uma lembrança "melhor".

Para a equipe, esse é um indício satisfatório de que memórias ruins possam ser substituídas, se não "deletadas" diante de um estímulo de positivo, que altere a lembrança.

Uma memória condicionada se difere significativamente de uma vivência guardada e constantemente
Uma memória condicionada se difere significativamente de uma vivência guardada e constantemente "revivida" em históricos de trauma. (Fonte: Getty Images)

Contudo, é importante salientar que o estudo apresenta limitações importantes. As memórias a serem substituídas foram condicionadas aos participantes, não sendo algo que eles temiam ou que representassem traumas pessoais.

Além disso, o número da amostra e o tempo experimental são pequenos, assim o resultado não pode ser generalizado.

Deletando traumas através do sono?

Ainda que o resultado obtido pela Universidade de Hong Kong possa ser questionado em muitas frentes, a pesquisa nesse campo se mostra benéfica ao tentar compreender como os mecanismos de substituição, ou deleção, de memórias poderia ser manipulado para fins terapêuticos.

Se as pessoas pudessem aos poucos substituir memórias ruins por experiências mais "felizes" enquanto dormem, seria uma técnica, talvez, menos onerosa emocionalmente para os pacientes.

Terapias de exposição por exemplo, podem trazer grandes abalos emocionais antes de surtir, se é que vai surtir, resultados. Fonte: GettyImages.
Terapias de exposição, por exemplo, podem trazer grandes abalos emocionais antes de surtir, se é que vai surtir, resultados. (Fonte: Getty Images)

As memórias, no entanto, não podem ser efetivamente deletadas, elas permanecerão lá, apenas menos significativas e menos acessíveis à evocação rápida. Contudo, não garante que uma nova experiência negativa não possa desencadear os mesmos traumas.

Por enquanto, o botão de deletar do cérebro ainda não pode ser acessado sem causar prejuízos à saúde e nem por busca espontânea, portanto, continue visitando seu psicólogo ou outro profissional da saúde mental, credenciado e capacitado, por favor.

E se você quer saber como manter seu sistema nervoso central limpinho e funcional, saiba que você precisa dormir! Boa soneca e memórias melhores para você!

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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