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César Lattes: conheça o legado do brasileiro que marcou a ciência e física mundial
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César Lattes: conheça o legado do brasileiro que marcou a ciência e física mundial

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Tecmundo
17/02/2025 14h06
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©Getty Images
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“Brasileiro não sabe fazer ciência”. Em algum momento, essa ideia pode ter passado pela sua cabeça, ou ainda, ter chegado aos seus ouvidos. Mas essa afirmação não poderia ser mais falsa. Existem muitos cientistas brasileiros que alcançaram grande destaque em suas vidas acadêmicas e hoje contaremos um pouco sobre um que chegou perto de um Nobel: César Lattes.

Esse físico brasileiro trabalhou com grandes nomes da ciência e esteve à frente de projetos de incentivo à pesquisa tupiniquim, contribuindo para muito da ciência produzida hoje na América Latina.

Em 2024, ano de seu centenário de nascimento, foi incluído no Livro de Heróis e Heroínas da pátria em reconhecimento às suas contribuições à ciência, pesquisa e ensino. Figura controversa em algumas ocasiões, sem dúvidas, Lattes foi um prodígio que trouxe um novo olhar sobre o que mantém nosso mundo coeso. 
Saiba mais sobre esse grande ícone da ciência brasileira.

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O céu, às vezes, tem as melhores respostas. (Fonte: Getty Images)

César Lattes e o ingrediente para o Nobel

Cesare Mansueto Giulio Lattes, ou apenas César Lattes, nasceu em Curitiba, 11 de julho de 1924, filho de imigrantes italianos. Com apenas 15 anos ingressou no curso de física da Universidade de São Paulo, obtendo grau em 1943, com apenas 19 anos.

Durante seu tempo de formação, teve contato com aquele que lhe abriria o caminho para o campo experimental, Giuseppe Occhialini. A colaboração, que se iniciou na USP, em um ano chegaria ao laboratório da Universidade de Bristol, Inglaterra.

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Brasileiro sabe e faz ciência muito bem! (Fonte: Picryl)

Após sua formatura, Lattes permaneceu na instituição como assistente. Seu campo de estudo examinava o comportamento de partículas que interagiam com um equipamento chamado de Câmara de Wilson, também conhecida como Câmara de Nuvens.

Dentro desse dispositivo selado há um ambiente saturado de vapor, que pode ser de álcool ou água. Ao incidir radiação ionizante no sistema, as partículas com maior energia irão interagir com o vapor e gerar rastros de sua passagem.

Lattes enviou alguns de seus resultados para o antigo professor, agora colega, demonstrando os registros que havia realizado. A resposta de Occhialini foi o envio de resultados ainda melhores para detecção de partículas e um convite de colaboração em Bristol. E lá se foi nosso Lattes para Inglaterra.

O trabalho com essas placas fotográficas era muito interessante. Lembre-se que nos anos 1940 não existiam grandes detectores eletrônicos, e mesmo os aceleradores de partículas estavam ainda nos primórdios de desenvolvimento. A detecção de partículas carregadas era bastante rudimentar, quase uma alquimia.

Mais aprimorada do que na Câmara de Wilson, esse experimento exigia uma placa fotográfica e uma emulsão produzida com alguns compostos químicos que estimulavam a reação das partículas quando estas atingissem o aparato.

Então, você precisava de uma fonte de radiação, uma emulsão nuclear, uma placa fotográfica, um longo tempo de exposição e um pouco de sorte para que você tivesse feito tudo certo e pudesse registrar algum traço.

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Sim, era o jeito mais tecnológico de tirar fotos de partículas, inclusive o princípio básicos dos Raios-X. (Fonte: Getty Images) 

Durante esses experimentos, Lattes sugeriu a Occhialini inclusão de Borato de Sódio nas emulsões nucleares. Esse aprimoramento foi testado sob o maior chuveiro atômico do mundo: nossa atmosfera

O Sol e todo o universo joga contra nosso planetinha raios cósmicos. Ao atingirem nossa atmosfera, as partículas presentes nesses raios sofrem interações com os elementos presentes no nosso escudo protetor, gerando decaimento desses elementos. 

Em uma viagem à Montanha Pic Du Midi, nos Pirineus, Occhialini levou dois conjuntos de placas, um tradicional e o outro com a sugestão de César. Há mais 2,8 mil metros de altitude, as placas de Lattes apresentaram algo que ainda não havia sido detectado.

Visando investigar se aqueles resultados realmente eram confiáveis, a dupla aumentou a aposta. Em 1946, tempo depois dos resultados nos Pirineus, em uma altitude de 5.421 metros, no Monte Chacaltaya, nos Andes Bolivianos, César Lattes obteve o resultado digno de Nobel, ele provou experimentalmente a existência do méson pi.

Nobel para todos, menos para Lattes

Em meados de 1934, Hideki Yukawa, cientista japonês, propôs a existência de uma partícula intranuclear capaz de gerar força suficiente para manter o núcleo atômico coeso. Contudo, esse fantasma nuclear ainda não havia sido detectado. 

Com os experimentos de Lattes e Occhialini ficou clara a existência desse ente atômico, com um rastro específico. Além disso, eles chegaram à conclusão de que quando essa partícula decaía, ela liberava um neutrino. Você já está soltando fogos pelo potencial Nobel brasileiro? Segura aí. 

Acontece que o laboratório onde César Lattes colaborava era comandando por outra pessoa: Cecil Frank Powell, e bem, nos termos de 2024, Lattes seria o ‘et al.’ do ‘et al.’ Em 1949, Hideki Yukawa foi laureado com o Nobel por sua teoria. Em 1950, o ganhador foi Powell, que segundo fontes, não se envolveu ativamente nos experimentos. 

Anos mais tarde, Lattes disse que o verdadeiro merecedor do prêmio deveria ser Giuseppe Occhialini, mas bom, nenhum dos dois foi incluso na honraria.

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A justificativa é de que o prêmio privilegia chefes de departamento e instituições. (Fonte: Getty Images) 

Mas como todo bom brasileiro, Lattes foi em frente, e adivinha, ele fez de novo. Após os eventos em Bristol, ele se tornou colaborador no Laboratório Nacional Lawrence Berkeley. Trabalhando com o avô dos colisores, ele novamente foi capaz de detectar, agora laboratorialmente, os queridos píons, a cola que mantém tudo o que conhecemos no universo

Mais um Nobel? Quase! Acontece que Eugene Gardner, físico com quem Lattes fazia parceria em Berkeley teve uma morte prematura, devido à exposição prolongada a berílio. E como, normalmente, uma andorinha sozinha não faz verão, mais uma vez César ficou de fora. “Me tungaram duas vezes”, é como Lattes se referia às suas quase laureações.

César Lattes no Brasil

Mesmo sem o prêmio, Lattes foi um físico muito reconhecido mundialmente, e poderia ter permanecido fora do país, porém, ele queria que seu país também desenvolvesse ciência de ponta, assim, formou parcerias de sucesso com o Japão para estudo de raios cósmicos e com nossos vizinhos na América Latina.

Seu renome ajudou a fundar instituições essenciais para o avanço da pesquisa brasileira, como o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em 1949, e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em 1951.

Em 1999, uma plataforma de currículos científicos foi formada, sim, a temida Plataforma Lattes foi nomeada em homenagem a um dos físicos mais fantásticos que esse mundo já teve a oportunidade de hospedar: César Lattes.

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Já atualizou seu Lattes hoje? Fique atento pesquisador. (Fonte: Wikimedia)

Mas claro, com toda genialidade, sempre vem um pouco de excentricidade. Lattes lecionou na USP durante alguns anos e mais tarde, transferiu-se para a UNICAMP, onde permaneceu até sua aposentadoria. Ele gostava de levar seu cão, o Gaúcho, para dar aulas e participar das bancas de defesa.

Ele viveu muitas aventuras e algumas polêmicas. Acredita-se que possuía Transtorno Bipolar, o que às vezes o fazia permanecer recluso por meses e dar algumas declarações afiadas contra Albert Einstein. Porém, quem vive no mundo acadêmico sabe que embates e discordâncias fazem parte do jogo. 

Sem sombra de dúvidas, César Lattes foi uma grande personalidade, pessoal e acadêmica, e seu legado está segurado nas gerações passadas e nas que estão por vir no mundo do ensino, pesquisa e extensão. 

Se você ainda não atualizou seu Lattes, esse era o sinal que você estava esperando. Aliás, César Lattes não possui um Lattes e nunca defendeu um doutorado. 

Caso você tenha alguma sugestão sobre personalidades marcantes do nosso Brasil, nos conte em nossas redes sociais! Continue acompanhando o TecMundo e até mais! E mais um presentinho extra: Uma biografia gratuita lançada em 2017 pela CBPF!
 

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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