Clube do Empréstimo PicPay é confiável? Investimento gera polêmica na internet; entenda
Tecmundo
Na última terça-feira (19) viralizou no X (antigo Twitter) uma publicação falando sobre o Clube do Empréstimo PicPay . Ele é uma modalidade de empréstimo de pessoa física para pessoa física que promete juros atrativos para quem pega o dinheiro e rendimentos de até 162% ao ano para os investidores.
O post viral foi feito pelo influencer Jefinho (Jéferfon Menezes), que se disse “fascinado” pelo sistema. Ele comparou o modelo de negócios ao Uber, já que o que o PicPay faz é apenas intermediar quem está precisando do dinheiro com quem que tem dinheiro sobrando para investir.
Na thread, Jefinho afirma que o negócio é voltado para pessoas que estão com muitos problemas financeiros, já que os juros podem não ser tão baixos quanto os prometidos. Além disso, ele explica sobre a taxa de administração que é cobrada pela plataforma de quem está emprestando o dinheiro.
Eu tô fascinado por um serviço do PicPay chamado "Clube do Empréstimo".
É um uber de agiotagem, onde o Picpay faz a intermediação (modelo que as techs arrumaram pra se isentarem de responsabilidade em tudo) de empréstimos, prometendo retornos de 42%
OBVIAMENTE tá dando ruim pic.twitter.com/h73Bq4szKw
Outra curiosidade revelada por ele é que há um movimento no YouTube de pessoas que estão ensinando a descobrir o endereço da pessoa que pegou o dinheiro e não pagou.
Na rede social, Jefinho ainda mostra capturas de telas de supostos investidores cobrando o valor de quem não efetuou o pagamento.
Veja também: PicPay vai passar a cobrar taxa de contas inativas
Com o post do influencer passando de 340 mil visualizações, muita gente ficou na dúvida se o sistema é legal e se é confiável. O TecMundo fez uma pesquisa sobre o tema e te explica como funciona o Clube do Empréstimo PicPay.
Primeiro de tudo é importante explicar que o empréstimo de pessoas físicas para pessoas físicas é permitido pelo Banco Central (BC). Em 2018, a entidade criou as Sociedades de Empréstimos entre Pessoas (SEP), que são instituições que realizam estes tipos de operações.
O modelo de negócio se chama P2P Lending, lógica emprestada de sistemas como o torrent, que funciona em uma rede descentralizada e interligada de usuários baixando e enviando pedaços de arquivos para outros.
Segundo o Banco Central, as SEP podem emprestar no máximo R$ 15 mil para uma pessoa física. As operações podem ser realizadas por fintechs, que agem justamente como intermediadoras dos contratos entre quem empresta e tomadores de crédito.
O Banco Central tem diversificado as operações de crédito no país (Imagem: Rmcarvalho/Getty Images)
No caso do PicPay, a empresa oferece o produto do Clube de Empréstimo como correspondente bancário da Crednovo Sociedade de Empréstimo entre Pessoas S.A.
Assim como qualquer operação do tipo, o usuário deve pensar bastante antes de pegar dinheiro no Clube do Empréstimo PicPay. O app de serviços financeiros promete taxas a partir de 3% ao mês, valor que até parece baixo. Contudo, vale contextualizar esta informação.
Quando se fala sobre taxas, o ideal é comparar as médias ou pelo menos as taxas máximas, e não os valores iniciais. O TecMundo entrou em contato com o PicPay para saber a taxa média dos empréstimos P2P Lending, mas a empresa não informou (veja o comunicado completo da empresa ao final da matéria).
Sem este dado do PicPay, a comparação com os outros empréstimos acaba ficando prejudicada. Mas só para se ter uma ideia, vamos comparar as taxas do PicPay com o empréstimo pessoal e empréstimo consignado (que são as modalidades mais comuns do mercado).
O PicPay promete agilidade e facilidade no empréstimo de pessoa para pessoa (Imagem: Reprodução/YouTube PicPay)
De acordo com o Procon-SP, a taxa média do empréstimo pessoal dos principais bancos do país é de 7,96% ao mês (começo de dezembro). No caso do consignado, a taxa máxima é de 1,80% ao mês, segundo deliberação do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS).
Ainda sobre os benefícios da operação, o PicPay garante que os tomadores de empréstimo podem pagar em até 15 parcelas e que a pessoa não precisa nem ter conta em banco para pegar o dinheiro.
Antes de investir o dinheiro no Clube do Empréstimo PicPay, o aplicativo mostra informações como a taxa de risco de quem está precisando da grana. Ou seja, o cliente que está pedindo o dinheiro é avaliado de 1 (muito risco) a 7 (pouco risco). Com isso, teoricamente quem for avaliado no risco 1 tem muita chance de não pagar o empréstimo, enquanto quem for do risco 7 a chance de liquidar a dívida é alta.
Segundo o PicPay, o risco de investimento “inclui a consulta a órgãos de proteção ao crédito públicos ou privados. Basicamente, é um cálculo com base em informações relevantes para a análise de crédito, que leva em consideração os dados cadastrais, dados negativos e positivos e hábitos financeiros”.
Por causa disso, neste sentido a opção de investimento é parecida com o mercado mais tradicional que oferece opções de baixo risco (CDI e Poupança, por exemplo) e de alto risco (ações na Bolsa de Valores e Day Trade).
Veja também: Qual é a diferença entre investimento e aplicação financeira?
O Clube do Empréstimo PicPay foi lançado no começo de 2022 (Imagem: Divulgação/PicPay)
No caso dos empréstimos para pessoas com risco mais alto, o que chama a atenção é que o PicPay oferece retornos de mais de 100% ao ano. Em uma simulação feita pela reportagem era possível comprar cotas com retorno de investimento de 115%, o que equivale a quase 980% da CDI/ano. A cota era de uma pessoa classificada como risco 4.
E apesar de chamativo, os interessados devem ficar atentos a uma regra em específico. Como dito na thread de Jefinho, alguns investidores não estão recebendo o dinheiro de quem tomou o empréstimo. E isso pode se tornar uma grande dor de cabeça.
O Clube de Empréstimo de PicPay é mostrado na aba de investimentos do app (Imagem: Reprodução/Carlos Palmeira)
Como respondido pelo próprio PicPay a uma pessoa no Reclame Aqui, ao aceitar os Termos de Uso, o investidor concorda em correr o risco de perder totalmente os valores investidos.
Isso acontece porque o PicPay diz que “apenas aproxima o tomador e o investidor e não assume nenhuma responsabilidade e nem concede garantia de pagamento dos empréstimos”. A única coisa que o PicPay se dispõe a fazer, como o contrato diz, é cobrar da pessoa que tomou o empréstimo e negativar o nome dela caso seja necessário.
Por causa disso, investir o dinheiro no Clube do Empréstimo PicPay é bastante arriscado mesmo em casos de empréstimos para pessoas com fator de risco mais baixo, já que se ela não pagar, o investidor ficará inteiramente com o prejuízo.
Como o PicPay já respondeu a um usuário, os termos de uso do Clube de Empréstimo prevêem perda total dos investimentos (Imagem: Reprodução/Reclame Aqui)
O TecMundo entrou em contato com o PicPay para verificar mais detalhes sobre o Clube de Empréstimo. Confira, abaixo, a íntegra do posicionamento do app de pagamentos:
"O PicPay esclarece que a modalidade de Peer-to-Peer Lending ofertada pela empresa é regulamentada pela resolução 4.656 do Banco Central, de abril de 2018. Todas as informações a respeito do produto, tanto para o tomador quanto para o investidor, estão descritas na jornada de contratação dentro do aplicativo".