Como funciona a rede de sismógrafos no Brasil?
Tecmundo
Muitas pessoas não acreditam que ocorram terremotos no Brasil, contudo, esses eventos da natureza podem ser sentidos em algumas regiões do país. Durante muitas décadas, os cientistas trataram os 'terremotos brasileiros' como um tipo diferente de evento, pois não acreditavam na possibilidade de grandes eventos sísmicos no Brasil. Porém, no século passado, eles perceberam que esses fenômenos geológicos eram de fato terremotos.
De acordo com registros históricos, o primeiro terremoto registrado no Brasil aconteceu em 1724, na cidade de Salvador. Em 1910, o geólogo norte-americano Casper Branner publicou um trabalho intitulado "Terremotos no Brasil", afirmando que apesar de ser um evento raro, os abalos sísmicos também ocorrem no país.
“É bastante provável que, com o aumento natural da população e o aumento das facilidades de comunicação, a frequência dos terremotos pareça aumentar um pouco no futuro, mas tal aumento será mais aparente do que real”, disse Branner.
O maior tremor já registrado no Brasil foi de magnitude 6,2 e aconteceu em uma região do Mato Grosso, em 1955.
Atualmente, o Brasil já conta com uma rede de sismógrafos capaz de fornecer informações detalhadas dos tremores, como sobre a magnitude na escala Richter (mR) e se o evento é considerado de baixo ou alto risco.
O sismógrafo é um aparelho que detecta os movimentos registrados no solo e mede a magnitude e força dos tremores. A principal detecção dos sismógrafos é em relação à duração e a amplitude horizontal das ondas sísmicas.
Os sismógrafos são baseados em um sistema criado pelos cientistas Charles Ritcher e Beno Gutenberg, conhecido como escala Ritcher. O sistema é baseado em uma escala decimal contínua de 2,0 a 10,0 – até o momento, o planeta não registrou terremotos acima de 10,0.
Por exemplo, um terremoto de 3,5 será registrado apenas pelos sismógrafos, contudo, um tremor de 5,4 será sentido pelas pessoas e pode causar pequenos danos. Terremotos acima de 8,0 podem destruir edifícios, criar rachaduras no chão e causar outros grandes danos por centenas de quilômetros.
Em 1986, um tremor de 5,1 de magnitude atingiu a cidade João Câmara, no Rio Grande do Norte, e desabou diversas casas.
Os sismógrafos também utilizam a escala de Magnitude de Momento (Mw), criada por Thomas Hanks e Hiroo Kanamori, como uma forma de medir a energia liberada pela magnitude dos terremotos.
O Brasil mantém diversas estações sismográficas em diferentes regiões, controladas pela Rede Sismográfica Brasileira (RSBR). Ao todo, a rede é constituída por quatro institutos espalhados pelo país, são elas:
Para realizar a manutenção dos equipamentos e continuar com o projeto, a rede recebe um convênio da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e do Observatório Nacional.
Detalhes das estações sismográficas no site da RSBR.
A RSBR é composta por dezenas de estações sismográficas de alto desempenho em operação continua em diferentes regiões do Brasil, equipadas com equipamentos capazes de detectar padrões sismológicos de alto e baixo risco . As redes são coordenadas por diferentes universidades e institutos espalhados pelo país. Aliás, foi construída para oferecer um melhor conhecimento da estrutura da Terra e do padrão da atividade sísmica no território brasileiro.
Os equipamentos medem as oscilações terrestres e são baseados em diferentes tecnologias; a partir deles, os cientistas podem identificar as taxas da escala Ritcher e definir se os eventos são perigosos ou não. Inclusive, os entusiastas podem acessar o site oficial da RSBR para acessar informações atualizadas com dados das estações sismográficas brasileiras.
Moradores das cidades de São Paulo, Sorocaba, Peruíbe e de outras regiões do estado, relataram um forte tremor no da 16 de junho de 2023, às 8h22 da manhã. Segundo informações do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), o tremor foi de 4,0 na escala Ritcher e não chegou a causar nenhuma preocupação grave.
Segundo RSBR, as chances de acontecer um terremoto grave no Brasil, como o registrado na Turquia, são remotas.
Em 2022, um terremoto de magnitude 6,5 foi detectado em uma região de fronteira entre o Brasil e Peru , a mais de 600 quilômetros de profundidade. Segundo um alerta do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), pouco menos de uma hora depois, o abalo sísmico gerou uma réplica com magnitude de 4,8 — apesar de ser considerado o maior terremoto já registrado no Brasil, o tremor começou em uma região no Peru. Felizmente, o terremoto não causou nenhum dano, como aconteceu há algum tempo com um abalo de magnitude de 7,8 na Turquia.
Em setembro de 2020, após um terremoto de magnitude 4,6 que ocorreu na Bahia, uma equipe de especialistas da RSISNE, sob coordenação do Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), instalou nove equipamentos de sismologia em sete cidades baianas. Em julho do mesmo ano, o litoral sul da Bahia registrou um terremoto de 3,5 na escala Ritcher.
De qualquer forma, é importante destacar que o Brasil está em uma região da Terra considerada estável e que, anualmente, o país registra tremores de baixa magnitude que nem sempre são sentidos pela população. Em muitos casos, os tremores são reverberações de terremotos que aconteceram em outras regiões da América Latina, como Argentina e Peru.