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Como uma batida na cabeça pode despertar vírus adormecidos em nosso corpo?
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Como uma batida na cabeça pode despertar vírus adormecidos em nosso corpo?

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Tecmundo
14/01/2025 17h00
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Algumas das descobertas da ciência são tão difíceis de acreditar que parecem mentira. É o caso da pesquisa que constatou que um traumatismo craniano severo pode reativar vírus que estão adormecidos em nosso organismo, causando consequências graves.

Essa constatação foi feita por um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Tufts e da Universidade Oxford, que revelou que traumas repetitivo na cabeça podem reativar o vírus herpes simples tipo 1 (HSV-1) dormente no cérebro, o que provoca uma série de danos associados à doença de Alzheimer.

 A associação entre o trauma e o vírus

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
Traumas no crânio podem provocar reações inusitadas no sistema imunológico, como o despertar de vírus que estavam ˜dormindo˜. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

O estudo usou "minicérebros" de células-tronco e verificou que uma infecção pelo vírus herpes simples 1 (HSV-1), que já havia sido "encerrada" pelo sistema imunológico, pode ser reativada novamente quando há um rompimento inesperado do tecido cerebral . A pesquisa foi publicada em janeiro de 2025 no periódico científico Science Signaling.

De acordo com a engenheira biomédica Dana Cairns, da Universidade Tufts, a ideia era testar o que aconteceria caso se submetesse um modelo de tecido cerebral a algum tipo de perturbação física, como uma concussão. A pergunta a ser verificada era essa: na ocorrência de algum trauma, o HSV-1 "acordaria" e iniciaria o processo de neurodegeneração?

Surpreendentemente, os cientistas descobriram que a resposta era sim. Embora os minicérebros não fossem representações perfeitas de um cérebro real, eles funcionaram como modelos para observar como o tecido cerebral costuma reagir quando ocorrem golpes leves e repetidos na cabeça.

Os achados da pesquisa

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
O vírus HSV-1, que provoca herpes, pode ser reativado no organismo por conta de pancadas repetitivas. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

Após uma semana da execução do experimento com a lesão, os pesquisadores começaram a perceber a formação de aglomerados e emaranhados de proteínas no tecido cerebral, que é uma característica marcante de doenças neurodegenerativas, como o mal de Alzheimer. Outras células mostraram danos ligados à neuroinflamação, também associados a essa condição.

Nos últimos anos, os cientistas do campo da neurociência começaram a verificar que lesões cerebrais traumáticas, o que inclui a encefalopatia traumática crônica (uma doença cerebral degenerativa que resulta de pancadas repetidas na cabeça ou de lesões por explosão), são fatores importantes para a ocorrência de doenças neurodegenerativas. Além disso, a inflamação crônica, que pode surgir até por conta de um traumatismo craniano leve, também pode ter um papel no dano cumulativo no cérebro.

Os pesquisadores ainda não sabem bem como todo esse processo acontece, mas já há novos estudos que observaram uma associação com os vírus, como o vírus herpes simplex (HSV), que pode ser desencadeador de processos de neurodegeneração, dobrando as chances de uma pessoa desenvolver demência no futuro.

Em 2008, um estudo descobriu que o HSV-1 estava presente em 90% das placas de proteína presentes no cérebro de pessoas que morreram com Alzheimer. O DNA viral era encontrado justamente dentro dessas placas.

Para aprofundar esse conhecimento, os pesquisadores da Tufts e Oxford analisaram fatias isoladas de cérebro. Eles observaram que, ao passar por uma lesão física, os infectados com HSV-1 latente começavam a secretar uma menor quantidade do neurotransmissor excitatório, o glutamato. 

"Nossos resultados mostraram que o trauma causava a reativação do HSV-1 latente em nosso modelo cerebral 3D, e que, se a lesão for repetida, o dano é muito maior do que após um único golpe", relatou a equipe. Assim, a atual hipótese dos pesquisadores é que esse vírus, que é muito comum entre as pessoas, seja um fator contribuinte no desenvolvimento da demência.

Os perigos do traumatismo craniano

(Fonte: GettyImages / Reprodução)
Esportes como o boxe, que causam golpes repetidos na cabeça, podem provocar consequências terríveis aos atletas. (Fonte: GettyImages / Reprodução)

Ainda não se sabe com total clareza quais são as relações entre o traumatismo craniano e a demência, mas o estudo lançado recentemente pode trazer novas luzes sobre os efeitos da lesão na cabeça. Vale lembrar que golpes repetidos na cabeça são muito comuns em esportes de contato, como o futebol americano, o rúgbi e o boxe. 

Por conta disso, cientistas têm notado uma alta incidência de doenças neurodegenerativas em ex-esportistas. Os efeitos dos traumatismos cranianos (TCEs) podem incluir questões comportamentais, problemas de humor e prejuízos à função cognitiva. Normalmente, essas doenças tendem a se agravar com o passar do tempo.

Agora, há a perspectiva de se entender melhor a associação desses problemas com a presença de vírus latentes no cérebro. Em pesquisas anteriores, Carns já havia encontrado evidências de que a ativação do HSV-1 de seu estado dormente desencadeia os sintomas característicos da doença de Alzheimer . "Nesse estudo, outro vírus (da varicela) criou as condições inflamatórias que ativaram o HSV-1", declarou.

O HSV-1 é um vírus muito comum, presente no organismo de boa parte da população global. Ele é mais conhecido por ser a causa de herpes labial e pode estabelecer latência vitalícia no corpo. Estima-se que o HSV-1 infecta mais de 64% das pessoas, enquanto o vírus varicela-zóster, responsável pela varicela e o herpes zoster, está presente em 95% . Esses vírus podem se instalar no cérebro e permanecer dormentes nos neurônios, sendo reativados apenas se houver alguma condição para isso.

“Compreender os fatores de risco para demência e Alzheimer, e o mecanismo pelo qual eles se desenvolvem, é importante para poder direcionar o tratamento e a prevenção o mais cedo possível”, explicou Ruth Itzhaki, pesquisadora da Universidade de Oxford.

De fato, o nosso organismo funciona de formas que jamais imaginaríamos. Quer saber mais sobre as descobertas da ciência no campo da saúde? Então siga acompanhando o TecMundo para estar sempre por dentro das novidades!

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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