Diamantes que brotam da Terra contam a história dos supercontinentes
Tecmundo
Há muito, os pesquisadores sabem que, à medida que as placas tectônicas deslizam umas sobre as outras, transportam carbono para as profundezas da Terra, onde, sob condições de alta pressão e temperatura, o mineral se cristaliza em forma de diamantes. E, como tudo o que desce às vezes retorna, esse carbono reaparece e essa volta é espetacular.
Comprimido em forma de gemas duras e brilhantes, esse material atinge a superfície da Terra em impressionantes erupções vulcânicas de altíssima potência e velocidade, que ocorrem durante a ruptura das estruturas conhecidas como supercontinentes, e se formam quando os continentes voltam a se reunir, em um ciclo que dura entre 300 e 500 milhões de anos.
Na última vez em que esse processo aconteceu, no apagar das luzes do Cretáceo, há 86 milhões de anos, uma fissura vulcânica no que é atualmente a África do Sul disparou entre as rochas uma descarga de magma profundo. Como a sabragem de uma colossal garrafa de champanha, o líquido subiu a até 234 km/h, gerou uma cascata de magma e uma série de tubos cheios de rochas ígneas em forma de cenoura.
Os kimberlitos são as principais fontes de diamantes do mundo.
Em 1869, a descoberta de uma rocha enorme e brilhante (depois chamada de Estrela da África) às margens do rio Vaal desencadeou uma corrida aos diamantes, transformando aquele local bucólico no que se tornaria um inferno conhecido como a Mina Kimberley, um dos buracos mais profundos já escavados no planeta. A partir daí, essas formações onde os diamantes são encontrados passaram a ser conhecidas como kimberlitos.
Como ninguém conseguiu sequer assistir a uma erupção desses contêineres de diamantes, pesquisadores da Universidade de Southampton, na Inglaterra, usaram modelagem computacional da crosta profunda e do manto superior da Terra para entender a "marcha" dos kimberlitos até a superfície.
Eles descobriram que a origem dos kimberlitos está intimamente relacionada com o processo de rifteamento (afinamento e ruptura) da crosta continental que ocorre quando as placas tectônicas se separam . No processo, picos e vales se formam na superfície e na base dos continentes, que permitem que os materiais quentes do manto subam, e depois esfriem e caiam sob a forma de redemoinhos que formam as preciosas formações geológicas.
Estudos modernos tentam entender como os kimberlitos conseguem perfurar os núcleos maciços que geocientistas chamam de "cratons", áreas dos continentes antigos onde a crosta é mais espessa. Uma dessas pesquisas, realizada em 2018 e liderada por Sebastian Tappe, da Universidade Ártica da Noruega, propõe que os pulsos de atividades de kimberlitos correspondem aproximadamente ao momento de rupturas dos supercontinentes.
Veja algumas dessas coincidências.
Colúmbia existiu entre 1,7 bilhão e 1,45 bilhão de anos, no Pré-Cambriano.
A primeira coincidência observada pela equipe de Tappe foi um aumento nas erupções de kimberlitos nas proximidades da fragmentação do supercontinente Nuna (também chamado de Colúmbia) há cerca de 1,2 bilhão de anos. Ocorrido no período Pré-Cambriano, esse supercontinente conectava o atual leste da Índia aos basaltos de Colúmbia, hoje EUA, segundo estudo publicado em 2017 na revista Gondwana Research.
Em estudo recente, liderado pelo professor Hugo Olierook, da Universidade Curtin, na Austrália, foi confirmado que os diamantes cor-de-rosa de uma formação descoberta no oeste da Austrália vieram à superfície há cerca de 1,3 bilhões de anos, também dentro da janela de ruptura de Nuna.
Rodínia também se formou no período Pré-Cambriano.
Outro pulso de kimberlitos, identificado pela equipe do professor Tappe, em 2018, ocorreu há aproximadamente 600 milhões a 500 milhões de anos. O período coincide com a ruptura do supercontinente Rodínia, que se formou há cerca de um bilhão de anos e se desintegrou há cerca de 700 milhões de anos.
Tendo a América do Norte como o principal núcleo de massa terrestre, segundo o Smithsonian Ocean, a Rodínia ainda estava íntegra quando os primeiros animais terrestres evoluíram há 800 milhões de anos .
Wegener propôs a Pangeia ao ver o encaixe entre as costas da África e da América do Sul.
O período mais produtivo observado no estudo de 2018, responsável por 62,5% de todos os kimberlitos conhecidos até hoje, ocorreu há cerca de 250 milhões a 50 milhões de anos, que coincide com a dissolução do supercontinente Pangeia. Essa é a evidência definitiva, segundo alguns pesquisadores, que os ciclos dos supercontinentes são essenciais para as erupções de kimberlitos.
Formada há cerca de 320 milhões de anos e separada há cerca de 175 milhões, a Pangeia foi proposta pelo alemão Alfred Wegener em 1912 , ao perceber que as costas da África e da América do Sul se encaixavam como peças gigantes de um quebra-cabeça. O geofísico foi também responsável pelas teorias da deriva continental e das placas tectônicas.
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