Estamos realmente vivendo em um multiverso? Filósofo diz que não
Tecmundo
Em um artigo publicado no The Conversation, o filósofo e escritor britânico Philip Goff contesta a teoria do multiverso, que defende um aparente ajuste fino das constantes físicas para explicar a existência da vida. De acordo com essa hipótese da física teórica, nosso Universo seria um entre infinitos universos, cada um com suas próprias leis físicas .
Para exemplificar a hipótese de que certos números na física tinham que estar dentro de uma faixa muito estreita para a vida existir, alguns físicos citam a força da energia escura, que impulsiona a expansão acelerada do Universo. Se ela fosse um pouquinho mais forte, a matéria não conseguiria nem se aglomerar. E, como nenhuma partícula teria se combinado, não existiriam estrelas, nem planetas e nenhum tipo de vida.
Se, por outro lado, essa força fosse mais fraca, ela não teria conseguido neutralizar a gravidade. Ou seja: o Universo teria colapsado sobre si mesmo no primeiro segundo do Big Bang , seguindo a mesma sequência: nem estrelas, nem planetas, nem vida.
Segundo Goff, a teoria do multiverso esbarra na falácia do jogador inverso, ao tentar explicar o inexplicável.
Sim e não, responde Goff. Em seu livro “Por que? O propósito do Universo”, ele diz que, ao usar a hipótese do ajuste fino, os teóricos do multiverso cometem a “falácia do jogador inverso”. Goff dá como exemplo uma hipotética jogadora de bingo chamada Betty que, após acertar todos os números de sua cartela na primeira chamada, pensa que muita gente está jogando naquela noite.
No entanto, isso é um erro de raciocínio, porque o número de pessoas jogando bingo em outras salas do país não teve influência na probabilidade de Betty acertar seus números de primeira. Mesmo que haja muitos, poucos ou nenhum jogador de bingo em ação, a sequência de sorte de Betty continuará sendo altamente improvável sempre.
Transpondo o raciocínio errado de Betty para o multiverso, podemos afirmar que, ainda que existam muitos universos com diferentes constantes físicas, isso não torna mais provável que o nosso Universo tenha as constantes certas para a vida .
Goff diz que a defesa do multiverso é como o geocentrismo.
Como o saber científico afirma que as constantes físicas do nosso Universo permaneceram fixas desde o Big Bang, temos duas escolhas. Ou é um acaso incrível termos os números certos. Ou os números são desse jeito porque a natureza é de alguma forma “direcionada para desenvolver a complexidade e a vida por algum princípio inerente e invisível", afirma Goff.
Como o autor entende que a primeira opção é muitíssimo improvável para ser levada a sério, ele defende em seu livro a segunda opção: um propósito cósmico.
Fazendo analogia com a quebra do paradigma do geocentrismo no século XVI, Goff afirma que o atual apego ao ajuste fino é o mesmo dos que defendiam que a Terra era o centro do Universo. E conclui: Poderemos um dia ficar surpresos por termos ignorado durante tanto tempo o que estava bem à vista: que o universo favorece a existência de vida”.
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