Marvel Midnight Suns é uma excelente surpresa de fim de ano
Tecmundo
Não é segredo para ninguém que a Marvel é hoje uma das IPs mais poderosas do mundo. Logo não é de se estranhar que a empresa de quadrinhos esteja cada vez mais dando as caras no mundo dos videogames, motivada pelo estrondoso sucesso de seu universo cinematográfico, seja com aventuras como Avengers ou até jogos menores como o Mobile do ano Marvel Snap . Quando a Firaxis, desenvolvedora da série X-COM , anunciou Marvel Midnight Suns, prometendo trazer uma experiência de estratégia semelhante ao seu carro chefe, a internet entrou em alvoroço.
Esse alvoroço lentamente começou a se encher de desconfiança à medida que mais detalhes do título eram revelados. Além de ter como protagonista um personagem original (Hunter, filho de Lilith), foi revelado que a gameplay seria regida por meio de cartas, algo visto em games de deckbuilding famosos como Slay the Spire . Mesmo com a Firaxis confirmando a ausência de microtransações, a nova direção de jogabilidade aliada a desconfiança sobre a trama e o adiamento do título, acabou fazendo o hype esfriar. Será que no meio de tantos questionamentos a desenvolvedora norte-americana entregou um título à altura da Marvel? Descubra mais na nossa análise a seguir.
Um dos grandes pontos de insegurança acerca de Midnight Suns era sua narrativa. O time dos quadrinhos com mesmo nome, composto por Magik, Wolverine, Blade, Motoqueiro Fantasma e Nico Minoru, normalmente apresentava histórias com tom mais pesado, passando por elementos místicos e até demoníacos. A expectativa por uma história semelhante só cresceu quando vimos Lilith como vilã principal em um dos primeiros títulos da série, mas a verdade é que Midnight Suns passa longe nesse quesito.
A trama gira em torno de Hunter (personagem customizável pelo jogador), filho de Lilith, e tem como principal objetivo derrotar mais uma vez sua mãe e impedi-la de confirmar a profecia do sol da meia noite, que entregará a terra e seus habitantes a mercê do deus das sombras Chthon. Para isso o lendário guerreiro contará com a ajuda do grupo Midnight Suns, além de alguns vingadores, como Homem de Ferro e Capitã Marvel, que serão fundamentais para derrotar a grande vilã e seus lacaios, como Venom e Dentes de Sabre.
Hunter pode ser totalmente customizado(a) pelo jogador
Um ponto pivotal de Midnight Suns é a sua trama e os diálogos e interações entre seus personagens. Embora o primeiro elemento, sua história, fuja do tom sombrio que muitos esperavam, ela é boa e recheada de pequenas reviravoltas interessantes, sendo capaz de prender o jogador enquanto se desenrola, sendo no fim um ponto positivo para o game. O mesmo, infelizmente, não pode ser dito sobre suas interações e diálogos.
Logo de começo é possível perceber que o pequeno “vírus” do humor que cada vez mais impregna o universo cinematográfico da Marvel infecta também o título da Firaxis. Ao longo das horas iniciais todos os personagens, independente de suas personalidades, optam por fazer pequenas piadas ou comentários ácidos pelo menos uma vez a cada duas frases. Embora isso não pareça um problema à primeira vista, logo acaba se tornando um, visto que fortalecer os laços de Hunter com cada herói é um ponto chave de progressão dentro do jogo, o que faz com que diálogos como esse apareçam constantemente e não possam ser completamente ignorados.
Ouvir as mesmas piadas fora de tom acaba cansando depois de um tempo
Embora isso melhore um pouco do meio para o fim da trama (com inserções sendo feitas mais frequentemente por personagens conhecidos por tal, como Homem Aranha e Homem de Ferro), a cansativa experiência do começo pode afastar alguns jogadores, em especial aqueles que, assim como eu, acabaram pegando certo ranço dessa forma de escrita que é cada vez mais proeminente no MCU.
Outro ponto de preocupação da comunidade veio quando vimos os primeiros trailers de gameplay de Midnight Suns e podemos perceber que esse se afastava bastante de X-COM, optando por um estilo mais focado no deckbuilding do que na estratégia tática usual da franquia. Primeiro, é importante ressaltar algo: não existem microtransações no título, com exceção de fantasias e alguns outros cosméticos, uma preocupação externada por alguns fãs quando o sistema de cartas foi revelado.
Isso posto, posso afirmar que a Firaxis mais uma vez entrega uma jogabilidade impecável e que essa é, com certa facilidade, o ponto alto do título. Cada turno o jogador possui 3 jogadas de cartas e um movimento, que pode ser usado com diferentes objetivos. Esse sistema é o que mais difere Midnight Suns de outros títulos táticos, já que o turno é dividido entre todos os personagens baseados nas cartas que você possui na sua mão.
O combate baseado em cartas é o grande ponto forte do título
Além disso, o posicionamento aqui, apesar de também ser importante, é bem menos crucial que em outros títulos do gênero, visto que não há benefícios baseado no ângulo de ataque. Isso pode causar uma certa estranheza no começo, em especial no limite aparentemente baixo de jogadas por turno, mas logo o jogador começa a pegar o jeito das diferentes habilidades e meios de estender o turno e causar os mais diferentes ataques e formas de dano, abusando das interações com o cenário e sinergias entre personagens.
Toda essa ação é gerida pelas cartas que o jogador adquire e customiza antes de cada missão. Um ponto bem positivo do sistema é como cada herói possui um deck que reflete muito bem sua personalidade e aptidões em combate. Enquanto Capitão América é focado em fortalecer seus aliados e resistir o máximo de dano possível usando seu escudo, Homem Aranha é um especialista em lutar de forma “improvisada” usando o cenário a seu favor na hora de destruir seus adversários. Embora seja possível alterar levemente a forma de jogar de cada herói, é nítida a atenção ao detalhe em tentar reproduzir as características de cada um em sua forma de jogar.
Prepare-se para gastar horas editando e melhorando suas cartas
A customização é outro grande ponto forte do sistema, já que cada deck possui cartas de diferentes níveis de raridade, que também podem ser combinadas para deixá-las ainda mais poderosas. Além disso, à medida que o jogador avança na trama existe a opção de customizar cada carta, podendo adicionar um modificador randômico (que pode ser trocado por um custo) adicionando ainda mais complexidade e opções ao jogador.
Para dar uma ideia do quão divertido o gameplay é, eu precisei me focar para continuar na história principal, pois passei boas horas jogando as infinitas side quests que o título oferece, apenas pelo prazer de jogar e testar mecânicas (muitas vezes sem me importar com as recompensas da missão em si). No geral, combinar diferentes personagens e estilos acaba tornando o gameplay extremamente variado, mesmo que essa variedade não se reflita tanto nos inimigos.
Além das diferentes lutas e missões disponíveis ao jogador, uma parte fundamental de Midnight Suns é a relação com os heróis. Além de ser uma oportunidade de conhecer e interagir com os diferentes personagens, as habilidade passivas deles são destravadas e melhoradas à medida que a sua amizade com eles cresce, em uma mecânica que lembra muito a série Persona. Por fim ao elevar o nível de amizade com um determinado herói ao máximo o jogador ganha a chance de resolver um puzzle específico, refletindo os pontos fortes de cada personagem, que destravará o uniforme e a habilidade Midnight Sun, uma carta extremamente poderosa capaz de virar o rumo de uma missão sozinha.
Nada como ler um bom livro ao lado do seu herói favorito
Quando não estiver derrotando soldados da Hidra ou demônios de Lillith, você terá a opção de explorar a Abadia, hub principal dos heróis, em busca de artefatos e pedaços da história de Hunter e sua família. Isso desbloqueará novas habilidades de exploração que lhe permitirão encontrar ainda mais segredos e diferentes itens cosméticos. Sendo sincero, eu pouco fiz dessa parte do jogo pois achei a mecânica extremamente desinteressante e não recompensadora. A boa notícia é que já que apenas itens cosméticos e histórias paralelas são destravadas, fazendo com que toda a mecânica possa ser completamente ignorada se o jogador quiser.
Se você já viu algum vídeo ou imagens do jogo por aí com certeza não ficou impressionado com os gráficos de Midnight Suns, e você tem razão. O título da Firaxis passa longe de ser visualmente bonito, e muitas vezes a captura de movimento de cada personagem deixa bastante a desejar (o que em um jogo tão movido por diálogos é um pouco frustrante). Entretanto, assim que a estranheza pela aparente feiura do jogo passar, é possível ver que a apresentação do título para além de seus gráficos é melhor do que parece.
Embora as cutscenes sejam a primeira coisa que nos chame a atenção, a verdade é que quando estamos em combate o jogo tem mais pontos fortes do que fracos em sua apresentação. Os diferentes cenários e inimigos, mesmo que não sejam extremamente diversos, são extremamente bem feitos e com design interessante, em especial os vilões quando afetados pela corrupção de Lillith. As animações e efeitos sonoros também são muito caprichados, fazendo com que usar habilidades especiais com cada personagem ou explodir partes do cenário seja um show à parte.
Visual do título decepciona fora de combate mas brilha durante as batalhas
Aqui também é preciso fazer justiça. Embora os diálogos e o tom de Midnight Suns não agradem tanto, o trabalho dos dubladores é muito bem feito, em especial do Hunter em sua versão masculina, feito pelo famoso Matthew Mercer. Além disso, é digno de nota o fato de que todas as interações entre personagens são dubladas, algo que se compararmos jogos com mecânicas semelhantes, como Persona, não é algo normal na indústria devido a seu custo. Infelizmente apenas legendas em PT-BR estão disponíveis, e essas muitas vezes contam com alguns erros, como traduções não feitas.
Se você chegou até aqui em nossa análise e for pular direto para a nota pode tomar um susto. Embora Marvel Midnight Suns seja um título com algumas falhas claras e que muitas vezes são difíceis de ignorar, a verdade é que a Firaxis construiu um dos gameplays mais bem feitos e recompensadores que já vi em um jogo tático, algo que só tende a melhorar com as adições de mais personagens via DLC e uma possível expansão no futuro.
Embora passe longe de ser um jogo perfeito, a verdade é que esse foi um dos games que mais me divertiu em 2022, me obrigando a “rushar” em certos momentos para ser capaz de entregar essa análise com as minhas 40 horas jogadas, pois se dependesse de mim provavelmente estaria até agora jogando intermináveis horas de side quests para poder testar mais e mais estratégias. Inclusive é isso que pretendo fazer após entregar esse texto, já que o jogo conta com um endgame razoável (missões infinitas que podem ficar mais e mais difíceis se o jogador assim desejar) e a opção de um new game plus.
Se você é fã da Marvel ou fã de jogos de deckbuilding e estratégia, vale, e muito, a pena conferir o game. No apagar das luzes deste 2022, talvez tenhamos o título mais surpreendente em qualidade que tivemos nesse ano.