Miniórgãos descobertos em mamíferos podem gerar respostas autoimunes
Tecmundo
Pesquisadores do Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique descobriram recentemente um tipo de organela que havia permanecido não caracterizada até agora nas células dos mamíferos. O “miniórgão”, batizado como exclusoma, é feito de anéis de DNA chamados plasmídeos , que ocorrem normalmente em algumas bactérias, arqueias e leveduras.
O mais curioso é que esses compartimentos celulares jamais descritos não estavam ocultos, mas boiando livremente no citoplasma, a matriz semifluida que abriga as demais organelas, o retículo endoplasmático e os ribossomos. As organelas são responsáveis por inúmeras funções, desde o armazenamento de informações genéticas até o metabolismo dos lipídeos.
O fato de essas células estarem no citoplasma foi considerado incomum pelos cientistas, uma vez que, na maioria das células eucarióticas — aquelas com núcleo — o genoma fica no nucleoplasma, empacotado em cromossomos. As duas estruturas são separadas por uma membrana dupla plana e contínua.
O exclusoma é o ponto verde e amarelo boiando no citoplasma, fora do núcleo.
No caso dos exclusomas, o DNA está organizado em pequenas cadeias circulares, os plasmídeos, que têm origem fora da célula, ou diretamente dos telômeros, as capas protetoras das extremidades dos cromossomos. Esses anéis, formados por células arrancadas dos telômeros, aparecem regularmente em células cancerígenas.
A descoberta desses anéis no exclusoma é um indicativo de que o DNA identificado pelas células como estranho ou desnecessário, é ejetado do núcleo. Ele fica depositado no citoplasma ao lado dos plasmídeos que vêm de fora da célula. Isso significa que o exclusoma pode funcionar como um mecanismo de proteção das células , ao coletar esse DNA extracromossómico do núcleo.
De acordo com a coordenadora do estudo, Ruth Kroschewski, do ETH Zurique, essa "é uma das principais funções de higiene que as células desempenham para proteger os cromossomos".
Proteínas desencadeadoras de reações imunológicas poderiam gerar um falso alarme no exclusoma.
Embora ainda não estejam completamente claras, as funções do exclusoma poderiam incluir a ativação da memória imunológica, segundo Kroschewski. Há muito, os biólogos pesquisam uma proteína especial, encontrada no citoplasma que, ao se ligar aos anéis de DNA, desencadeia uma "cascata de sinais" que denunciam ao corpo a presença de um patógeno, e estimulam a liberação de substâncias mensageiras inflamatórias .
A coordenadora do trabalho acha que a tal proteína pode se prender nos anéis de DNA do exclusoma, o que poderia resultar em uma ilusão prolongada de uma infecção, ou seja, "o corpo continua recebendo sinais de que o problema ainda existe”, explica a pesquisadora.
A consequência seria uma resposta imediata do sistema imunológico ao mensageiro inflamatório, ainda que desencadeado por um "alarme falso". “E como a cascata de sinalização pró-inflamatória não diminui, mas continua, isso pode muito bem facilitar respostas autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico ”, conclui Kroschewski.
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