O vidro é líquido ou sólido? A ciência responde!
Tecmundo
Há bastante tempo, muitas pessoas questionam se o vidro é um material sólido ou líquido; não é à toa que existe um grupo que está convencido de que as vidraçarias de igrejas, principalmente aquelas construídas na Europa durante o período medieval, estão 'derretendo' no decorrer dos anos. O grupo afirma que os vitrais medievais tendem ser mais 'grossos' na parte inferior por conta de um escorrimento natural do vidro liquido.
Em outras palavras, eles explicam que o vidro tinha um formato equilibrado durante a época medieval, mas por ser uma substância liquida, começou a fluir para uma das pontas ao decorrer das décadas — basicamente, ele estaria no formato sólido por que é um líquido super-resfriado. Mas será que isso é realmente verdade? Afinal, o vidro é um material líquido ou sólido?
Para decifrar esse enigma, o TecMundo reuniu informações de especialistas e cientistas da área. Confira!
Antes de tudo, é necessário compreender que o vidro não é apenas aquele que está na janela da sua casa ou carro, pois existem diversos outros materiais pertencentes a mesma família. A resposta mais rápida é que o material não é nem um líquido e nem um sólido, contudo, ele carrega um pouco das propriedades de ambos.
Os cientistas afirmam que o vidro é, na verdade, um tipo de sólido amorfo e que está entre os dois estados da matéria. Porém as propriedades relacionadas à forma líquida não estão conectadas com os vidrais europeus da época medieval, já que os átomos do vidro se movem muito lentamente para tornar visível qualquer tipo de mudança.
“Os sólidos são estruturas altamente organizadas. Eles incluem cristais, como açúcar e sal, com seus milhões de átomos alinhados em fila. Líquidos e vidros não têm essa ordem. Amorfo significa que não tem essa regra de longo alcance. [Com um] sólido, se você o agarra, ele mantém sua forma", disse o professor de química, Mark Ediger, da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.
Apesar da suposta estranha característica das vidraças das igrejas da Europa, os especialistas apontam que existem vidros mais antigos que não apresentam essa 'mudança'. De acordo com o pesquisador de vidros antigos do Corning Museum of Glass, Robert Brill, os vitrais egípcios são mais antigos e não apresentam o derretimento mencionado.
Um modelo matemático sugere que seria impossível que os vitrais das catedrais medievais 'derretessem' a temperatura ambiente; demoraria mais do que o tempo da existência do universo.
"Não é um verdadeiro líquido nem um verdadeiro sólido — tem propriedades de ambos, mas é o seu próprio estado distinto da matéria. A definição técnica é que o vidro é um estado de matéria não cristalino e sem equilíbrio que parece sólido em uma escala de tempo curta, mas relaxa continuamente em direção ao estado líquido”, disse o cientista de materiais da Universidade Estadual da Pensilvânia (Penn State), John Mauro, em mensagem enviada ao site Live Science.
Mauro explica que existem diversos tipos de vidro, como o mais comum de soda-cal, composto por areia, calcário e carbonato de sódio derretidos a aproximadamente 1.500 graus Celsius. Contudo, também existe o famoso Gorilla Glass usado para equipar as telas de diferentes smartphones ou o Pyrex utilizado em receitas culinárias e mais resistente ao calor.
Apesar de as diferenças químicas na produção dos diferentes tipos, as estruturas dos vidros tem muitas propriedades em comum. O que faz um material sólido são seus átomos fixos em uma única posição , já nos líquidos os átomos estão espalhados e podem se reorganizar. Como um material amorfo, o vidro é sólido na maioria do tempo, mas pode se tornar líquido ao atingir certas temperaturas.
Em entrevista ao site Live Science, o cientista de materiais do Centro de Pesquisa de Vidro da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, John Parker, disse que definiria o vidro como um tipo de matéria sólida rígida. Inclusive, ele explica que os vitrais medievais têm essa aparência por que os profissionais da época não conseguiam criar vidros em uma espessura uniforme.
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