Review de Pacific Drive - Dirigir não será nada pacífico, mas a jornada vale a pena
Tecmundo
Você chegou a assistir a Contatos Imediatos de Terceiro Grau ou algum outro filme de ficção cientifica no qual existe um encontro entre a razão e o inexplicável? Se sim, com certeza, durante uma cena na estrada, você já se perguntou: o que eu faria nessa situação? Aceleraria o mais rápido possível para longe dali, desligaria os motores para não ser visto ou deixaria para sorte e rezar apra seja lá o que for acontecer? É sobre isso que Pacific Drive, o novo jogo da Ironwood Studios se trata.
Em Pacific Drive, você é o Motorista, alguém (azarado) que foi encarregado de deixar algumas entregas perto de um lugar chamado Zona de Exclusão Olímpica. A região contou com diversos testes do governo no passado e, devido a um acidente de proporções catastróficas, virou um lugar abandonado com diversas anomalias que transcendem o limite da razão. E claro que você irá fazer parte de tudo isso.
Se você por acaso achou que o personagem principal do jogo seria a pessoa sem nome que foi sugada para dentro da Zona de Exclusão após uma rota de entrega mal calculada, se enganou. De algum modo, você acorda dentro de um carro totalmente diferente do seu, conversando com alguém que sabe (até demais) sobre os fenômenos que não só dizimaram o lugar, mas fez com que se tornasse inabitável. O veículo que por algum motivo salvou sua vida, também será o que te manterá vivo.
Captura de tela/Voxel
Ao jogar Pacific Drive, logo de cara você irá perceber que sem o seu fiel escudeiro, o jogador facilmente se tornará uma vítima dos diversos perigos da Zona de Exclusão. Diversos perigos MESMO: de anomalias paranormais a áreas totalmente tomadas pela radiação, você precisará o carro para 85% do gameplay do jogo.
No entanto, existem exceções: em algumas áreas, você precisará andar para encontrar materiais não só para equipar seu carro (com geringonças que até o carro da pamonha dúvida) como para deixá-lo mais forte. Afinal, sem o veículo, você não sobrevive as altas doses de radiação de certas partes do mapa. E como se não bastasse tudo isso, checar a bateria ou o estado dos pneus do carro será de suma importância na sua jornada.
Nem todas as áreas do Noroeste Pacífico são perigosas, já que alguns pequenos lugares estarão livre das anomalias. Um deles é a garagem, o seu quartel-general, no qual você pode fazer de quase tudo: de melhorias do automóvel até criação de itens, tudo se baseia lá. Cada vez que se voltar de uma jornada, muito provavelmente você terá que trocar portas, para-choques, encher o tanque de gasolina para que sua próxima viagem seja melhor do que a última.
O game não ajuda muito o jogador no quesito de explicar, fazendo com que você entenda como tudo funciona após sua primeira morte (que te transporta automaticamente para a garagem). Ou seja, Pacific Drive também possui elementos clássicos de roguelite: se você morrer durante uma missão, irá perder todos os itens da mochila e do seu porta-malas.
Embora ele não seja vendido como um roguelite, Pacific Drive brinca com seus principais elementos: morte permanente, gerenciamento de recursos e “aleatoriedade de mapas”. O último recurso entre aspas, já que não é o mapa que muda, mas sim a disposição de certos objetos (após morrer durante uma missão, perdi todos os meus itens e ao voltar ao mesmo lugar, outras peças estavam lá).
É um jeito diferente de manter o jogador preso ao gameplay que pode se tornar repetitivo após algumas horas, senão fosse um pequeno detalhe: só é possível salvar o jogo dentro da garagem, nunca durante uma missão. Com isso em mente, tenha certeza de ter protegido todas as partes importantes do seu carro e de deixar o tanque cheio!
Após algumas horas fazendo missões, você irá se familiarizar não só com os personagens da história (que irão te contatar via rádio sempre pedindo alguma coisa) mas também com elementos narrativos que foram deixados nos diversos lugares abandonados em estradas, povoados e florestas da região. Dependendo do objeto é possível escaneá-lo e saber para que serve, onde foi encontrado e (se pode) usá-lo.
Além deles, algumas mensagens e gravações de áudio te ajudarão a entender o que diabos aconteceu naquele lugar. Por que existem manequins que podem te matar com um toque? O que são as nuvens de gases que acabam com o sistema elétrico do carro? Escaneie o que puder para descobrir tudo, pois isso será vital para sobreviver.
Captura de tela/Voxel
Um ponto alto de Pacific Drive é justamente a construção do seu universo: cada pequeno detalhe te ajuda a entender não só o mistério do game, mas a querer jogar para descobrir o que aconteceu na Zona Olímpica. A ambientação e o mistério trazem uma imersão que poucos jogos me proporcionaram.
Infelizmente, aqui também é onde o jogo derrapa: nada disso está em português brasileiro, o que é bem grave num ano em que até a Big N está (finalmente) traduzindo jogos para o nosso idioma. Por ter palavras e dialetos específicos da história, isso pode afastar novos jogadores que se interessem em se aventurar pelas florestas da Zona Olímpica e saber mais sobre sua lore.
E convenhamos: dirigir em pântanos enquanto você precisa voltar para um ponto de ancoragem, com a trilha de suspense no talo enquanto você precisa ler legendas em inglês, não é nada prático. GTA 5 já nos mostrou como dirigir e ler legendas ao mesmo tempo é um porre, em inglês então... não ajuda nada.
Outra coisa que também pode atrapalhar o jogador é o número de informações na história e no próprio carro: são mil possibilidades para você personalizar o veículo, de tipo de pneu a tipo de lâmpada para o farol – são muitas opções que mais uma vez podem ir por água abaixo por conta da falta de localização. Porém, caso você seja dos jogadores que curte gastar horas melhorando seu personagem, caçando itens cosméticos e saber mais sobre a história do jogo, vai com tudo. Só toma cuidado e guarde o que for importante no baú da garagem – ou irá perder quando morrer novamente.
A trilha sonora de WIlbert Roget II (Call of Duty WWII e do ótimo Helldivers 2), faz com que a ambientação do jogo seja especial. Mesmo com você dirigindo para procurar algum item específico ou durante uma fuga de alguma anomalia, as músicas te fazem se sentir dentro da história.
Algumas faixas licenciadas que estão no rádio da garagem só tornam o clima ainda melhor, mas cuidado: elas podem derrubar seu stream caso você faça alguma live. Prevendo isso, a Ironwood colocou uma opção pra evitar essa dor de cabeça, já que é possível desabilitar as músicas com direitos autorais.
Quando você não está correndo da radiação ou tentando entrar num portal dimensional para não morrer, Pacific Drive consegue te transportar a uma atmosfera única de solidão, melancolia e nostalgia, lembrando séries e filmes clássicos dos anos 90 (que curiosamente, é a década em que se passa o jogo). Arquivo X, Twin Peaks, E.T. O Extraterrestre, Contatos Imediatos de Terceiro Grau — são inúmeras as referências e homenagens a clássicos que desafiam o limiar humano. No quesito ambientação, Pacific Drive acerta em cheio, mesmo que sua história seja um tanto confusa.
Caso você esteja jogando durante uma tarde chuvosa sob raios, assim como eu fiz durante minha jogatina, relaxe: limpe o para-brisa, carregue seu carro e não se esqueça de engatar o carro – a aventura tá só começando.
Pontos positivos (prós):
Pontos negativos (contras):
Pacific Drive foi testado no PC com uma chave cedida pela Kepler Interactive e Ironwood Studios. Com uma demo grátis, o game pode ser comprado na Stem por valores partindo de R$ 88,99, além de também ter uma versão para PS5.