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'Noite Feliz, Noite de Paz': A trégua de natal durante a Primeira Guerra
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'Noite Feliz, Noite de Paz': A trégua de natal durante a Primeira Guerra

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Aventuras Na História
04/07/2021 13h00
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Durante a Primeira Guerra Mundial, soldados franceses e britânicos tentavam impedir o avanço alemão postados em trincheiras, ao longo de uma linha que começava no Mar do Norte e ia até a fronteira da França com a Suíça. Eram buracos de mais ou menos 3 metros de profundidade por até 2 metros de largura, com posições de metralhadoras e armas leves, protegidos por arame farpado, minas e outros obstáculos.

Na véspera do Natal de 1914, em uma noite fria e enluarada, aconteceu algo inesperado em uma dessas trincheiras, perto da cidade francesa de Armentiéres, na fronteira com a Bélgica, como recordou, anos mais tarde, à BBC, o então jovem soldado britânico Graham Williams. “Eu estava de sentinela nesta noite. De repente, apareceram luzes nas trincheiras alemãs. Eu pensei, que coisa engraçada... Aí os alemães começaram a cantar Noite Feliz, Noite de Paz. Eu acordei os outros sentinelas e eles acordaram outros soldados. Todos queriam ver o que estava acontecendo.”

“Eles terminaram a canção natalina. A gente aplaudiu e pensou ‘precisamos retaliar de algum jeito’. E respondemos cantando The First Noel. Quando terminamos, eles bateram palmas”, conta Williams. “E começaram a cantar O Tannenbaum. A gente cantava nossas canções, e eles respondiam cantando as deles. Achei aquilo uma coisa extraordinária.”

Essa “coisa extraordinária” se espalhou pelo front, com soldados dos dois Exércitos trocando as hostilidades, de forma espontânea, por gestos de aproximação. Um fuzileiro do País de Gales, cabo Frank Richards, contou à BBC que “de repente apareceu um alemão com as mãos levantadas, caminhando pela margem do rio em nossa direção”.

Tropas britânicas e alemãs reunidas durante a trégua / Crédito: Museu Imperial da Guerra/ Creative Commons

 

“Um dos nossos jogou seu equipamento no chão e foi ao seu encontro. Eles se cumprimentaram, então todos nós começamos a sair da trincheira. Os oficiais também acabaram saindo. E começaram a beber juntos”. Anos depois do conflito, um major alemão não identificado descreveu, em uma carta, seu encontro com um oficial inglês, que, acenando uma bandeira branca, pediu aos alemães, na manhã do dia de Natal, para que pudessem enterrar seus mortos caídos no front.

“Enquanto os soldados ingleses realizavam a triste tarefa, entreguei a ele uma medalha e cartas que pertenceram a um capitão inglês que morreu em um ataque à nossa trincheira. Tocado pelo tratamento respeitoso dado aos pertences de um de seus companheiros, ele tirou o seu cachecol de seda e o deu para mim.

Fiquei tão emocionado por esse gesto, que mandei ao tenente, na mesma tarde, um par de luvas. Só no dia de Ano Novo, quando um tiro disparado pelos ingleses matou um sentinela nosso, é que essa trégua de Natal, que eu jamais esquecerei, chegou ao fim.” Essa trégua durou apenas alguns dias.

Generais alemães e britânicos ficaram chocados com os relatos de camaradagem e emitiram ordens expressas de que não haveria mais confraternização nos campos de batalha, sob ameaça de corte marcial. Gradualmente, os sons de canhões e tiros voltaram a ecoar ao longo da frente ocidental, e a guerra retomou seu ritmo de violência e morte. Ela duraria mais quatro anos.


Thomas Pappon é jornalista da BBC News Brasil; Texto adaptado do podcast 'Que História!', disponível no site bbc.com/brasil


Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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