Dia do Orgulho: as vozes, as vivências e a luta em busca de um Brasil mais diverso e inclusivo
Contigo!
28 de junho não é um dia de luta por privilégios. É um dia de luta por direitos. Direito de seguir existindo, amando, trabalhando, vivendo com dignidade e respeito. Foi em um 28 de junho, em 1969, que minorias de Nova York se insurgiram contra a repressão policial contra a comunidade que frequentava o bar Stonewall Inn, um marco que jamais será esquecido.
42 anos depois, a luta continua. Neste mês de junho, CONTIGO! conversou com vários membros da comunidade LGBTQIA+ sobre suas histórias de luta e perseverança em um país violento e avesso às diferenças. Num país violento, eles seguem de punhos cerrados pedindo por respeito. Segundo relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), referência no estudo de gênero no Brasil, em 2019 foram registrados 329 mortes violentas de integrantes de minorias, sendo 297 homicídios e 32 suicídios - o maior número oficial registrado no mundo.
Diante da luta, esses famosos contam que existem, vivem, conquistam, amam e, por meio de suas histórias plurais de vida, lembram que é hora de construir um Brasil mais inclusivo.
O MEDO E A LUTA DE LUCAS PENTEADO
Para a Contigo!, o ator e ativista que bombou após a participação no BBB21 lembrou que é preciso coragem para assumir publicamente sua sexualidade.
"Eu sinto medo todos os dias, o Brasil é o país mais perigoso para mim. Mas com o meu pessoal aqui em São Paulo, a minha família e os meus amigos foi extremamente o contrário. Em todas as periferias que eu visitei após o BBB eu fui muito bem acolhido. A diversidade vem sendo, para mim, muito bem acolhida. A galera me abraça, eles acham lindo o que aconteceu lá e muita gente diz que eu sou corajoso. Eu fico pensando ‘corajoso? Ser você mesmo é ter coragem?’. Então, hoje em dia, eu desejo à essas pessoas coragem de serem vocês mesmos", declarou ele.
A BASE FAMILIAR DE JOÃO LUIZ
Para o professor de geografia, a família exerce um papel fundamental na acolhida à quem pertence a uma minoria. Para ele, apoio e amor no ambiente familiar são essenciais para uma vivência feliz.
“Eu vejo muito a história das pessoas LGBTs associadas a históricos de dor ou de violência, física, emocional, psicológica. Não é uma situação confortável. Quando a gente bate de frente com essas coisas, é o momento onde a gente está dando um basta. A gente não quer mais viver isso, a gente está cansado. São coisas que eu realmente não me acostumo”, afirma.
O SUCESSO EMPODERADO DE GLORIA GROOVE
A drag queen exalta a importância das histórias que vieram antes. As bases construídas por pioneiros do movimento pela liberdade deixaram um caminho que permitiu que outras artistas conquistassem seu espaço.
Tive mais oportunidades, perspectivas, amadureci meus sonhos, meus talentos. Nunca imaginei que tudo isso fosse acontecer quando eu aceitasse em mim tudo aquilo que as pessoas diziam que era errado, que tinha que sair. É um grito de irreverência, eu me sinto muito poderosa vestindo rosa, vestindo o que diziam que eu não podia quando eu era um menininho”, lembra.
A FORÇA E A LUCIDEZ DE LORELAY FOX
Em uma conversa com a CONTIGO!, a artista revelou suas inspirações, deu detalhes de seu trabalho como um ícone da bandeira e ainda – sob a perspectiva de Danilo Dabague, o publicitário de 34 anos que dá vida à ‘queen’ - opinou sobre o oportunismo de empresas que se agarram à causa apenas durante o Mês do Orgulho.
“Acho que quando a gente é uma artista LGBTQIA+, a gente não tem só uma pressão do público, a pressão de se posicionar acaba vindo de nós mesmas. A gente sente que precisa representar nossas próprias pautas. Nós sabemos que a nossa vida, que o nosso espaço só foi conquistado porque a gente se posicionou, porque pessoas antes de nós lutaram para isso”, disse ela ao ser questionada sobre a demanda por posicionamento.
A LIBERDADE E O AMOR LEVE DE MARCELA MCGOWAN
Vivendo sem tabus, a ex-BBB exalta o romance leve com Luiza e lembra o processo de transição do irmão transexual. Para ela, o amor e a identidade merecem respeito e não estão no escopo da aceitação.
“Ninguém tem que gostar ou aceitar nada porque você se colocar no lugar de quem aceita você está se colocando como alguém que é superior, né, então você está dizendo como se você estivesse acima de mim e pudesse decidir se você aceita ou não a minha vida e experiência sexual. Isso não existe, somos todos humanos e ninguém está degraus a cima para poder decidir o que vai ou não ser aceito, então que essas pessoas [preconceituosas] estudem porque não tem mais espaço no mundo para isso. A gente quer respeito, assim como eu respeito o relacionamento de todo mundo. É isso, naturalidade e respeito”, ressaltou.
A CORAGEM E A LUTA POR ESPAÇOS DE HIRAN
O cantor e rapper Hiran é representante de identidades: negro, gay, nordestino. Nascido na cidade de Alagoinhas, no interior da Bahia, ele escalou duramente até que seu nome fosse reconhecido. Conversamos com ele justamente sobre essas questões: identidade, sucesso, o mundo da música, e o futuro, para ele e para as comunidades às quais pertence.
"Com certeza ser uma bicha preta do interior da Bahia fazendo rap, no começo foi muito difícil pra mim. Eu sinto que quando eu cheguei, eu queria que as pessoas levassem meu trabalho a sério, mas você deve imaginar como o meio do rap é, então essas identidades todas passavam na frente."
O PIONEIRISMO DE ANNE MOTTA
A jovem de 22 anos conseguiu tirar do papel o sonho de se tornar uma artista e estreou a carreira com estilo no premiado Alice Júnior, em 2019 – com direito ao prêmio de Melhor Atriz no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Assim como hoje dá voz a uma parcela da sociedade, a jovem e premiada atriz também já esteve na posição de se enxergar em outras – as referências vão desde as brasileiras Ariadna Arantes e Lea T, até a atriz internacional Laverne Cox, de Orange Is the New Black.
“Eu espero, realmente, que eu revolucione. Assim como todas as minhas irmãs e irmãos trans que vieram antes de mim e revolucionaram para eu poder estar aqui hoje”, afirmou.