Por que o filme sobre o caso von Richthofen foi dividido em duas partes?
Aventuras Na História
Em 2002 o nome de Suzane von Richthofen ganhou os noticiários brasileiros depois que a jovem, ao lado dos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos (com o primeiro sendo seu namorado), se tornou responsável pelo assassinato de seus pais.
Quase duas décadas depois, os brasileiros aguardam com um nível crescente de expectativa pelas produções “A menina que matou os pais” e “O menino que matou meus pais”, filmes que retratarão o chocante crime nacional.
Para descobrir mais sobre os processos por trás desses filmes e como foi o desafio de retratar cinematograficamente uma história tão polêmica, a equipe do site Aventuras na História conversou com Gabriel Gurman, o CEO da Galeria Distribuidora, uma das co-produtoras das obras cinematográficas.
Proposta inovadora
Um dos pontos que mais chama atenção nos filmes é que serão duas produções separadas contando a mesma história, porém com pontos de vista diferentes, um deles sendo o de Suzane e o outro de Daniel Cravinhos. As obras serão, inclusive, lançadas ao mesmo tempo.
E foi justamente Gabriel que surgiu com a ideia de fazer dois longas em vez de um só - segundo ele, todavia, o roteiro mostrado para a Galeria Distribuidora já trazia desde o princípio esse conceito de mostrar dois pontos de vista.
“Já era um filme dividido em dois. Porém acabava terminando com um dos pontos de vista, para conseguir dar um desfecho, e aí quando a gente leu o roteiro, não achou que a história estava sendo finalizada da forma que acreditávamos que era a mais isenta possível", disse Gabriel. "Desde o começo existiu essa preocupação de não defender nenhum dos lados. Essa ideia de fazer dois filmes veio em uma conversa informal, até como forma de brincadeira, e eu fixei isso na cabeça e fui enxergando essa como a única opção para contar a história”.
Gurman ainda esclareceu que, apesar de encarar a ideia como “a única opção”, não deixava de ser uma alternativa ousada, que naturalmente tinha seus riscos, de forma que seu “processo de maturação” ocorreu aos poucos.
O trabalho foi inédito no sentido em que as gravações foram feitas ao mesmo tempo, ao ponto de “na metade de um dia os atores precisavam atuar de uma maneira, e na outra metade de outra completamente diferente”. Apesar do alto nível de exigência, todavia, Gabriel comentou que o elenco foi capaz de satisfazer as expectativas do projeto, mostrando-se 'um enorme acerto'.
Outro dos desafios de contar uma mesma história duas vezes também foi tornar os dois filmes igualmente interessantes e criativos, assim instigando o espectador de duas maneiras diferentes.
“Apesar de ser a mesma história, não apenas a atuação é diferente, como os figurinos, a trilha sonora... Contratamos inclusive dois editores, um para cada produção”, revelou o CEO, que destacou também que não existe ordem específica para assistir os filmes.
Cada um conta com início, meio e fim, funcionando de forma independente no sentido narrativo. Todavia, se o espectador assistir só um, terá só um lado da história, por isso a recomendação é ver os dois.
Carla Diaz, BBB e falatório na internet
“Testamos alguns nomes, mas a partir do momento que apareceu a Carla, a gente teve certeza na hora de que ela seria a escolha perfeita para o projeto”, comentou ainda Gurman sobre a atriz que interpretou Suzane, e que mais recentemente também participou do BBB 21, sendo eliminada do jogo no fim de março.
Ele explicou que a paulistana conseguia expressar muito bem a dualidade necessária para representar a personagem: “Ela consegue flutuar muito bem entre uma menina mais comportada, mais fechada, e ao mesmo tempo demonstrar um outro lado completamente diferente”.
O fato de a atriz ter entrado no BBB também contribuiu para que as duas produções sobre o crime ganhassem ainda mais visibilidade.
Segundo explicado pelo CEO, a princípio, a reação à proposta de retratar o caso Suzane na linguagem cinematográfica foi encarado de forma majoritariamente negativa pelos brasileiros, com muitos achando sem cabimento a ideia de “dar holofote para criminosos”.
Como aponta Gabriel, apesar desse gênero de filme ser incomum no Brasil, ele não é novo, já tendo sido usado pelos Estados Unidos há muito tempo: “Existem vários filmes e séries norte-americanas que se baseiam em true crime, e essas produções têm todo um mercado consumidor no cenário internacional”.
Apostar em um gênero de filme pouco testado no Brasil foi, inclusive, um dos riscos do projeto. Ao longo do tempo, porém, a opinião do público foi mudando, e hoje já existe muito mais gente disposta a dar uma chance para a história contada pelas produções.
Parte dessa mudança também aconteceu depois que certos mitos sobre os filmes foram esclarecidos - muitos se perguntaram, por exemplo, se Suzane receberia parte dos lucros do filme. Gurman esclareceu que isso não vai acontecer, e inclusive a equipe responsável pela produção dos filmes nem mesmo falou com a criminosa.
“Todo o desenvolvimento do filme, desde o princípio, não exigia que a gente falasse com a Suzane. A gente não queria saber a opinião atual dela. A gente queria entender o que foi falado naquele momento do julgamento e como foram contadas as versões sobre o que aconteceu, essa era a parte que nos interessava”, esclareceu o CEO.
Questão jurídica
Fazer uma produção sobre um crime que aconteceu de fato exige muito mais cuidados que elaborar um filme puramente ficcional, e Gurman ressalta que houve muita preocupação nesse sentido.
“Seguimos com a ideia do filme quando tivemos certeza de que estávamos muito bem respaldados. Teve inclusive um acompanhamento jurídico desde o começo, a gente se preocupou em deixar muito claro que os dois filmes são baseados nos autos do processo, então a gente não tá colocando nossa opinião, a gente tá contando o que foi falado nos julgamentos”, contou ele.
Inclusive, Gabriel destacou que não houve muita necessidade de preencher lacunas da história com ficção, ou tomar várias liberdades criativas: “Os autos são páginas e páginas, então nem tinha como contar tudo! Tínhamos conteúdo sobrando, e também quisemos nos prender bem ao que foi documentado na época, então as frases faladas no julgamento são as que a gente tirou dos autos do processo mesmo, e também todo o ambiente ali que eles vivem veio desses documentos, a gente realmente não quis dar margem para coisas muito ficcionais”, completou.
Atraso pela pandemia
“A menina que matou os pais” e “O menino que matou meus pais” foram pensados inicialmente para serem lançados em abril de 2020. No entanto, a pandemia acabou atrasando o lançamento das produções, que permanece indeterminado até hoje, um ano depois.
“Adoraríamos lançar o filme o quanto antes, mas precisamos esperar e entender o cenário da pandemia, até porque as produções foram pensadas para o cinema, então é necessário saber quando vai voltar e também como vai voltar. Estamos vivendo uma preocupação agora que vai muito além da estreia do filme, é uma preocupação humanitária muito significativa. Acho que a expectativa do público em relação às produções cresceu ao longo desse ano, enquanto soltamos materiais novos, e agora está maior do que nunca, com a nossa maior ainda!”, concluiu Gabriel Gurman.
Confira o novo trailer dos filmes abaixo!