Claudia Jimenez: um talento para não ser esquecido
Anamaria
Claudia Maria Patitucci Jimenez ou somente Claudia Jimenez, conhecida por seu humor espontâneo e sua risada que contagiava qualquer ambiente, aos 63 anos, morreu em agosto do ano passado, em decorrência de uma insuficiência cardíaca. Carioca, a atriz, humorista, dubladora e roteirista, nascida em 18 de novembro de 1958, era a caçula de uma família de quatro irmãs.
Com carreira na TV, teatro e cinema, a atriz iniciou sua trajetória na Globo em 1979, quando fez uma participação na série Malu Mulher. Em 1981, fez sua segunda participação, agora em uma novela, Jogo da Vida, e, no mesmo ano, integrou o elenco do Viva o Gordo.
Foram cerca de dez tramas, dentre elas Torre de Babel, América, Negócio da China, Aquele Beijo e Haja
Coração. No cinema, integrou o elenco de Gabriela. Também fez A Ópera do Malandro, Os Trapalhões no Auto da Compadecida e deu voz à Ellie, no filme A Era do Gelo 2.
O que ninguém pode negar: os maiores destaques de sua carreira foram seus personagens cômicos. Nos seriados Armação Ilimitada: Jambo para Matar, Os Normais: Especialmente Normal e A Vida Alheia, a artista deixou sua marca.
Mas foi a Edileuza, de Sai de Baixo, que arrebatou definitivamente o coração do público brasileiro e garantia, aos domingos, as melhores gargalhadas do telespectador. E tem muito mais! Um ícone da dramaturgia e do humor. Talento, carisma, força e alegria definem Claudia Jimenez.
UM CAPÍTULO À PARTE
Marcou também sua vida a trajetória ao lado de outro ícone da TV brasileira, Chico Anysio, que teve início em 1982, no Chico Anysio Show, e se estendeu por mais de dez anos. O personagem de maior destaque e que também arrebatou o coração do público foi Dona Cacilda, da Escolinha do Professor Raimundo. Quem não se lembra de seu bordão ‘Beijinho, beijinho, pau, pau’? Era assim que a personagem desconsertava o cansado professor Raimundo, interpretado por Chico Anysio, com suas tiradas atrevidas.
Em uma entrevista ao Fantástico, em 2014, Claudia contou que Cacilda foi a personagem que mais amou. "Não era nem propriamente pelo personagem, mas pelo que eu vivi ali
dentro. Foram seis anos de gargalhadas". Pela sua interpretação de Dona Cacilda, Claudia venceu o Prêmio APCA, da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 1991.
CAMINHO DE SUPERAÇÃO
Ela encerrou uma carreira de sucesso, mas também uma vida de superação. Aos 7 anos, foi abusada sexualmente por um vizinho. Não teve coragem de denunciá-lo. Contou à mãe somente quando fez 18 anos, após a morte de seu pai. A humorista disse que aquele episódio de violência e o sofrimento em silêncio prejudicaram sua relação com os garotos na adolescência.
Teve mais. Enfrentou também a rejeição por ser gorda: “Eles não queriam ficar comigo. Não tinha par nem nas festas juninas”. Foram anos de insegurança e solidão. “Eu não tinha nem vaidade. Achava que não tinha cacife para seduzir um homem. Como tinha de ser amada, me joguei nas mulheres”, contou à Folha de S. Paulo, em 2011.
FORÇA MARCANTE
As agruras da vida, talvez, tenham sido as responsáveis por fazê-la mais forte. E assim foi! A atriz passou por três cirurgias. Em 1999, precisou colocar cinco pontes de safena. Em 2012, passou por dois procedimentos para facilitar a circulação das artérias. Colocou, então, quatro stents e substituiu a válvula aórtica. O marca-passo cardíaco foi colocado em 2013.
Ela também enfrentou um câncer de tórax, mas, em todos os momentos, Claudia sempre falou de seus problemas de saúde com coragem e otimismo. Sabia que seria difícil voltar a gravar, mas evitava se referir a essas limitações. Enxergava o lado mais bonito e alegre da vida. Uma forte lutadora...
HUMOR POPULAR
Com humor popular e, ao mesmo tempo, muito próprio, além de personagens típicos do cotidiano nacional, conquistou o coração dos brasileiros. Qualquer que fosse a atuação, tinha o dom de colocar ali
uma voz pessoal e levar ao público diversão, empatia e identificação. Fora dos palcos e estúdios, sua leveza e bom humor também marcavam presença. Em todo ambiente, era capaz de transbordá-lo de alegria. Claudia era única... e se torna inesquecível.