'Cirurgião do Mal': Veja o que aconteceu com o médico retratado na série
Aventuras Na História
Chegou à Netflix uma nova série inspirada em crime real que chama atenção: 'Cirurgião do Mal'. Dirigida por Ben Steele e produzida pela própria plataforma, a obra documental retrata o caso do cirurgião torácico italiano Paolo Macchiarini, condenado recentemente.
"O Dr. Paolo Macchiarini é famoso no mundo todo por seus transplantes de traqueia com infusão de células-tronco. Só tem um problema: os pacientes sempre acabam morrendo", explica a sinopse na própria plataforma.
Pensando na estreia da Netflix, o site Aventuras na História explica um pouco mais sobre o caso e o que fez o médico-cirurgião Paolo Macchiarini. Confira abaixo!
Médico famoso
Por mais que muitos só tenham conhecido o nome de Macchiarini após as acusações que caíram sobre ele, o cirurgião já era famoso no meio da medicina. Isso porque, em 2011, ele chamou atenção ao afirmar ter realizado os primeiros transplantes de traqueia sintética do mundo, utilizando células-tronco, enquanto trabalhava no hospital da Universidade Karolinska, em Estocolmo, capital da Suécia.
Na época, um procedimento com células-tronco ainda era raro, ainda mais bem-sucedidos, e por isso o procedimento experimental foi visto como um avanço na medicina regenerativa.
De acordo com o The Guardian, ao todo, Paolo Macchiarini e seus colegas realizaram um total de oito transplantes semelhantes entre 2011 e 2014, sendo três na Suécia, em 2011 e 2012, e outros cinco na Rússia. Dos pacientes, todos os três suecos morreram, e quatro dos russos.
Porém, tudo desandou quando começaram a surgir acusações de que o procedimento ocorreu em, pelo menos, um caso na qual pessoa sequer estava gravemente doente, de forma que a cirurgia era desnecessária.
E depois?
Além do hospital da Universidade Karolinska, Macchiarini também trabalhou no centro de pesquisa da instituição. E embora ele tenha sido demitido em 2016 — em 2015 uma revisão externa o considerou culpado de má conduta em pesquisa —, eles seguiram defendendo-o até 2018, quando sua própria revisão passou a considerá-lo culpado. O escândalo foi tamanho que o diretor da universidade e vários outros membros renunciaram.
É importante mencionar também que, antes disso, em 2013 o hospital Karolinska mandou suspender todos os transplantes de traqueia e se recusou a prorrogar o contrato de Macchiarini como cirurgião. Além disso, em 2018, a revista científica de medicina Lancet removeu dois artigos publicados pelo médico italiano.
Julgamento
Em maio de 2022, ocorreu no tribunal distrital de Solna, na Suécia, o julgamento de Macchiarini. Na ocasião, os procuradores argumentaram que as três cirurgias realizadas na Suécia constituíam agressão, ou danos corporais, por negligência, após as acusações de que foram feitas cirurgias em pessoas que não precisavam do procedimento.
Logo, o tribunal concordou com as acusações, mas inocentou o cirurgião em duas das três acusações: "Dada a condição dos pacientes, o tribunal distrital considera que os procedimentos nos dois primeiros pacientes eram justificáveis", foi informado em comunicado na época.
No entanto, no terceiro caso — mesmo que se tratasse de uma cirurgia de emergência, segundo publicação na Revista Pesquisa, da FAPESP —, Macchiarini foi considerado culpado de "causar lesões corporais leves".
No momento do procedimento do terceiro paciente, a experiência dos primeiros procedimentos foi tal que o cirurgião deveria ter evitado deixar outro paciente passar pela operação", foi avaliado.
Logo, o médico foi condenado a uma pena suspensa, o que significa, na Suécia, que caso ele cometesse somente mais um crime, enquanto em liberdade condicional num prazo de dois anos, sua sentença seria reavaliada.
Porém, em julho deste ano, a decisão de 2022 foi reavaliada por um tribunal de apelações em Estocolmo, e ele foi considerado culpado em todos os três casos, e condenado a dois anos e meio de prisão.
De acordo com as últimas informações veiculadas, existe um recurso contra a condenação no Supremo Tribunal Sueco. Como consequência, o médico não cumprirá a sentença até o final do processo.
Conforme repercutido pelo Science, em junho deste ano, o médico negou que agiu com a intenção de prejudicar os seus pacientes. Ele afirmou que o seu objetivo era ajudar pessoas que não encontravam outras opções de tratamento.
"A intenção de prejudicar é a acusação mais terrível que você pode fazer a um médico", afirmou ele, que também disse que todos os colegas e supervisores aprovaram os procedimentos cirúrgicos. "Na sala de cirurgia éramos 20, 25 pessoas. O que me surpreende é por que estou aqui sozinho?".