Como a rainha Elizabeth II contornou a fúria do povo após a morte de Diana
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Foi adicionado ao catálogo da Netflix a nova temporada de 'The Crown', premiada série que acompanha o reinado de Elizabeth II. Na sexta e última temporada, teremos a oportunidade de acompanhar um dos momentos mais comoventes e conturbados da realeza: a morte da princesa Diana.
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Era noite de 31 de agosto de 1997 quando acontecia, nas ruas de Paris, um acidente que mudaria para sempre a família real britânica. Isso porque foi nesta ocasião que a princesa Diana Spencer, ex-esposa do então príncipe e futuro herdeiro do trono Charles, faleceu, aos 36 anos, com o namorado, o produtor cinematográfico egípcio Dodi Al-Fayed.
Com isso, aquela que era provavelmente uma das figuras mais populares da família real, chamada por alguns até mesmo de "a princesa do povo", deixou dois filhos: William e Harry, na época com 15 e 12 anos, respectivamente. E não só isso, grande comoção pública correu por todo o Reino Unido, que durante as cerimônias fúnebres se mobilizou para várias homenagens à finada princesa.
No entanto, em meio às multidões que choravam nas ruas, abraçavam estranhos em busca de conforto e deixavam inúmeras flores em frente aos palácios reais, outro sentimento também surgiu: à medida que os dias passavam sem nenhum pronunciamento ou demonstração de luto da rainha, a raiva crescia entre os súditos, que até mesmo questionavam se a Grã-Bretanha precisava realmente de um monarca.
Após a trágica morte da ex-nora, a monarca optou por permanecer na Escócia, com os seus netos, os príncipes William e Harry. Assim, ela enfrentou críticas por não retornar rapidamente à Londres.
Em entrevista à Cosmpolitan UK, a biógrafa, historiadora e radialista Sarah Gristwood reflete sobre os passos da rainha após a morte de Diana. Embora a família real quisesse proteger os filhos do então príncipe Charles do assédio midiático, se tornou um problema a rainha se distanciar do povo.
“Você pode ver com certeza por que eles [a família real] disseram que sentiam que sua primeira responsabilidade era apoiar os filhos de Diana, mantê-los o mais protegidos possível da intrusão da mídia, de ter que testemunhar as cenas de luto em Londres", no entanto, ficou claro que "não era necessariamente a decisão certa, não necessariamente tão simples" para a monarca se ausentar. "Olhando para trás, podemos nos perguntar por que, talvez, a Rainha não pudesse ter voado para o Sul nem por um dia, talvez deixando os meninos em segurança em Balmoral. Não é como se ela tivesse que ir ao aeroporto de Edimburgo e ficar na fila da EasyJet", explicou a escritora.
Gristwood também reflete sobre como a realeza encarou as críticas a respeito do 'silêncio' em torno da morte de Diana, que por muito tempo flertou com a popularidade da própria Elizabeth.
"Acho que [a família real] ficou bastante chocada com o quão longe foi o grau de hostilidade", afirmou a historiadora ao veículo. "É possível que se a morte de Diana tivesse ocorrido num momento em que a família real não estava em Balmoral, quando eles estavam em Londres, Windsor, seja lá o que for, eles estariam um pouco menos fora de contato com o que estava acontecendo. Quando estão lá, acho que ficam bastante desligados da realidade".
Rainha dura
Um detalhe que nem todos se lembram sobre a chegada da rainha Elizabeth ao trono é que ela tinha apenas 25 anos quando passou a ocupar a posição a qual nasceu destinada, após a morte do seu pai, Jorge VI, em 1952.
Esse evento, vale destacar, ocorreu em plena Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945) e por isso, tentando apenas "manter a calma e seguir em frente", conforme narra o The Washington Post, ela permaneceu serena durante todo o tempo.
No entanto, a época em que Diana morreu, décadas depois, era diferente, e o próprio povo britânico clamava por alguma reação de Elizabeth.
Quebra de protocolos
Quando a rainha foi até Londres para os cortejos fúnebres de Diana, para a surpresa de muitos, ela protagonizou uma série de quebra de protocolos.
O primeiro foi que, em vez de o carro que levava a rainha entrar no Palácio de Buckingham, parou na frente, para que a monarca descesse e caminhasse, entre flores e a multidão, até a entrada da residência real.
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Naquela mesma noite, Elizabeth protagonizou outro desvio de protocolo: fez um discurso ao vivo na televisão, para falar sobre a morte de alguém que sequer detinha de um cargo oficial entre a família real britânica. E em mais uma cena rara, ela aparentava nervosismo enquanto prestava homenagem, ao mesmo tempo que encarava a raiva pública pelo seu silêncio e estoicismo.
Todos nós temos tentado lidar com a situação de diferentes maneiras", disse na época. "Não é fácil expressar um sentimento de perda, uma vez que o choque inicial é, muitas vezes, sucedido por uma mistura de outros sentimentos: descrença, incompreensão, raiva — e preocupação por aqueles que permanecem."
No entanto, foi no funeral que ocorreu a maior e mais emblemática quebra de protocolo da rainha Elizabeth. Ao lado de toda a sua família, quando o corpo da ex-nora passou à sua frente, aquela que cresceu acostumada a receber reverências de todo o mundo abaixou sua cabeça, e honrou a princesa.
O simples gesto foi suficiente para que a raiva efervescente contra a rainha se acalmasse entre os britânicos. E assim, Diana, que levou à quebra de vários protocolos seculares da realeza, marcou para sempre a história do Reino Unido, sendo ainda hoje lembrada como "a princesa do povo".