Em peça em cartaz no Rio, companhia leva Machado de Assis 'aos palcos'
Aventuras Na História
A Armazém Cia de Teatro apresentou, na quarta-feira, 23, a estreia de "Brás Cubas", uma adaptação do icônico romance de Machado de Assis (1839-1908), no Teatro 2 do CCBB do Rio de Janeiro.
Nesta adaptação, as paredes de fundo do cenário, revestidas com superfície de quadro negro, são cobertas com palavras escritas a giz a cada cena, criando um mosaico em constante transformação. Ao final da peça, esse mosaico de expressões escritas oferece uma visão da empreitada realizada pelo grupo ao trazer à vida "Memórias Póstumas de Brás Cubas", uma das obras mais intrincadas do "Bruxo do Cosme Velho".
Mesmo 143 anos após sua publicação, o romance continua a ser uma obra rica em elementos que ressoam com os tempos contemporâneos. A dramaturgia, assinada por Maurício Arruda Mendonça, condensa os 160 capítulos do romance em suas passagens mais marcantes. Brás Cubas, já morto, age como narrador (Jopa Moraes), enquanto ainda vivo (Sérgio Machado), revisita sua própria vida.
A peça traz à cena seus relacionamentos amorosos com Marcela (Lorena Lima) e Virgília (Isabel Pacheco), e a presença do amigo Quincas Borba (Felipe Bustamante), que também é destaque no romance homônimo de Machado de Assis publicado em 1891, o segundo da chamada Trilogia Realista.
Conto moderno
Além disso, a companhia incorpora o próprio autor à trama, interpretado por Bruno Lourenço, permitindo que ele comente sobre os temas abordados na obra, como escravidão e hipocrisia social.
Paulo de Moraes, o diretor da peça, enfatiza a importância de "Brás Cubas" na literatura brasileira, ao portal O GLobo: “Brás Cubas” está na minha prateleira pessoal como uma das três obras mais importantes da literatura brasileira. Não só pela sua modernidade, mas pela forma como Machado, um escritor negro, dá voz a um personagem branco escravocrata, para demolir por dentro a elite econômica brasileira. Mesmo com toda a crítica velada, é curioso ver como ele cria esse personagem de forma afetuosa”.
A adaptação também explora elementos do hip-hop, como declamação de partes do texto como rap e escrita de palavras no cenário, assemelhando-se a tags de pichação.
Para dar vida a Brás Cubas em diferentes fases, Sérgio Machado e Jopa Moraes aproveitaram a parceria desenvolvida em outros trabalhos da companhia, como "Angels in America" e "Parece Loucura Mas Há Método", de acordo com o portal O Globo.
Projeto pendente
“Brás Cubas” é um projeto que data de 2020 e foi concebido para celebrar os 35 anos da companhia, completados no ano passado. No entanto, a produção ficou pendente na fila de candidatos a incentivo fiscal da antiga Secretaria de Cultura do governo Bolsonaro. Após o período de pandemia, o grupo retornou aos palcos com novas montagens de "Hamlet" e "Angels in America", além de apresentar um texto inédito, "Neva", do chileno Guillermo Calderón, viabilizado por meio de uma campanha online.