‘Kafka e a Boneca’: musical encanta ao retratar o enfrentamento da perda de modo sutil
Aventuras Na História
Quando criança, é normal que tenhamos um brinquedo favorito, e, conforme crescemos, vamos aprendendo a deixar tal objeto de lado. Mas enquanto crianças, a paixão pelo brinquedo favorito é algo muito forte e intenso. Esse é o caso da pequena Lia Hillel retratada na peça ‘Kafka e a Boneca’, que possui uma boneca de estimação, a encantadora Marielle.
Contudo, em um belo dia, a boneca é deixada no parque e é levada pelo responsável da limpeza do local, marcando a separação das duas amigas inseparáveis até então. Esse é o problema que guia toda a história do musical e o desenvolvimento de seus personagens.
A peça teatral ‘Kafka e a Boneca’ exibe de forma doce e singular as relações entre a infância e a criatividade de um autor muito conhecido: Franz Kafka (1883-1924), vivido por Marcos Lanza.
O enredo apresenta o encontro entre o célebre escritor com uma doce (e mimada) menina em uma praça em Berlim, Alemanha. A história é baseada em fatos e leva ao público um lado pouco conhecido do autor, que seria seu lado delicado e sensível. O ano em que a produção se passa não é exato, mas seria perto do ano da morte do autor, em um período pós-primeira-guerra.
O acalento
Na trama, Kafka é um adulto frio, que observa diariamente uma família que frequenta o mesmo parque que ele, julgando os pais pela maneira que criam a sua filha, principalmente por a mimar mais do que deveriam. No entanto, após encontrar a pobre garota desolada com a perda da boneca, Franz tenta acalmá-la, dizendo que é um “carteiro das bonecas” e que possui notícias da boneca Marielle.
Ele então traça diversas aventuras para o brinquedo, relatando para a menina os diversos lugares pelos quais Marielle passou, e também relata os novos amigos e experiências que obteve. A relação entre Kafka e a menina é fortalecida a cada carta, o que traz algo diferente no coração de Franz.
Sentimentos novos
O escritor, naquele período da vida, já estava muito doente — portanto, na própria peça é entendido que ele vem a falecer —, e o encontro com a menina faz com que ele redescubra motivações para voltar a escrever e encontre sentimentos afetivos, já que ele nunca chegou a ter filhos, de fato. Os dois se tornam amigos, que com sua troca de experiências ensinam muito um ao outro.
A trama faz com que o público se envolva profundamente com o elenco, que é cativante e de grande talento. Muitos deles vivem até mais de um personagem, como é o caso daqueles que interpretam também as vozes dos bonecos utilizados na peça.
As canções também trazem ao público um sentimento de alegria e de imersão, já que cada letra se casa perfeitamente com o que está sendo exibido durante a peça.
Curiosidades da peça
Algo que chama muita atenção é a boneca, que tem um papel e presença importante a todo momento. Marielle é inspirada na ex-vereadora Marielle Franco, que faleceu em 2018, aliás, a peça é dedicada também a ela, como apresentado no início da produção. Todo o musical é realizado pela Marcenaria de Cultura, que é uma produtora cultural que possui experiência na realização de diversos espetáculos teatrais, fazendo uso das leis de incentivo federal (Rouanet) e estadual (PROAC ICMS).
Dirigido por Marllos Silva e Daniel Rocha, o musical é apresentado no Teatro Sesi São Paulo, no Novo Centro Cultural FIESP – Avenida Paulista, 1313, Bela Vista. A temporada vai até o dia 18 de junho e a entrada é gratuita. No entanto, é necessário reservar os ingressos pelos sites, e todo lote é aberto todas as segundas-feiras, a partir das 8h, para os espetáculos que acontecem durante a mesma semana.
Os horários do show, às quintas e sextas, são 11h (para escolas e grupos); sábados e domingos, às 15h, as sessões são abertas ao público geral.
A atração tem duração de 75 minutos e possui tradução e interpretação em Libras. Em 23 de abril, 19 de maio (para escolas) e 18 de junho, serão realizadas sessões com audiodescrição.