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Napoleão: A ascenção e queda do estadista que inspirou filme
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Napoleão: A ascenção e queda do estadista que inspirou filme

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Aventuras Na História
25/11/2023 12h00
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"Quem teme ser vencido tem a certeza da derrota”, costumava dizer Napoleão Bonaparte, um dos comandantes mais emblemáticos de todos os tempos. Com sua rápida ascensão, impulsionada pela Revolução Francesa, deixou um legado que promoveu impactos na política da França e da Europa, além de varrer o continente por meio de suas notáveis e ambiciosas campanhas. Líder autoritário, reformou as instituições de seu país, mas acabou sucumbindo graças à sua elevada ambição pelo poder. Tanto pela implacável subida militar quanto pela queda, segue sendo objeto biográfico de estudo até os dias atuais, tendo sua trajetória difundida em recentes livros, séries e cinema, como o filme 'Napoleão' (2023), dirigido por Ridley Scott e estrelado por Joaquin Phoenix, com estreia prevista para o dia 23 deste mês.

Joaquin Phoenix em 'Napoleão' e retratatos de guerras - Créditos: Divulgação/Columbia Pictures

Mais italiano que corso

Em 1769, a então ilha italiana de Córsega, uma das maiores do Mar Mediterrâneo, foi vendida pela República de Gênova à França. E foi justamente naquele ano, em 15 de agosto, na cidade recém-francesa Ajaccio, que nasceu Napoleone di Buonaparte, o quarto dos nove filhos do casal Carlo Maria di Buonaparte e Maria Letizia Ramolino, oriundo da pequena nobreza toscana.

Talvez não por acaso, o futuro imperador francês chegava ao mundo já em meio à batalha: os corsos, depois de cinco séculos como italianos, travaram um curto conflito contra os franceses por sua independência – até hoje a Córsega possui movimentos por esse viés e, neste contexto, Carlo Maria, pai de Napoleão, chama a atenção, pois, além de ter sido um importante líder político contra o domínio francês, foi eleito representante da Ilha na corte de Luís XVI. Tal influência pôde ser vista sobre o pequeno Bonaparte, que se vangloriava de sua herança italiana, dizendo: “Eu sou da raça que funda impérios” ou se referindo a si como “mais italiano ou toscano do que corso”, conforme aponta Patrice Gueniffey em 'Bonaparte: 1769-1802'.

Por sua origem abastada, a família de Napoleão permitiu que ele tivesse acesso à boa educação, algo não muito comum aos corsos da época. Porém, o menino só aprendeu a falar francês aos 10 anos, quando trocou uma escola religiosa por uma academia militar em Brienne-le-Château, onde logo se tornou alvo de intimidações entre os colegas por conta de seu forte sotaque distinto de Córsega. Não à toa, foi um aluno recluso, embora concentrado nos estudos, que, segundo o biógrafo Frank McLynn, nunca aprendeu a escrever corretamente o francês. Após concluir Brienne, em 1784, Napoleão seguiu para a École Militaire, em Paris, onde precisou terminar em um ano, devido à morte de seu pai e consequentemente à redução de sua renda. Ao se formar na escola militar, o primeiro corso oficial do exército francês foi oficializado como segundo-tenente no regimento de artilharia. Era o início de uma grande carreira.

Ambiguidade napoleônica

Com o início da Revolução Francesa, em 1789, Napoleão se viu dividido: por um lado, por ser um fervoroso nacionalista, era a favor dos revolucionários contra a monarquia; por outro, entendia que seria uma espécie de traição caso abandonasse o exército da França. Nos primeiros meses da revolução, batalhou ao lado da Córsega, que lutava por mais autonomia e menos controle do governo francês.

Na liderança de tropas e na organização dos comitês políticos entre os corsos, Bonaparte logo se destacou no movimento republicano jacobino, sendo promovido a capitão do Exército regular em julho de 1792. Acabou entrando em conflito com o líder corso Pasquale Paoli, o que fez Napoleão romper com o movimento nacionalista de Córsega, que havia parado de lutar pela revolução, em busca de sua independência. Isso fez com que o jovem e sua família deixassem a Ilha – neste momento, abandonou a grafia italiana de seu nome Napoleone di Buonaparte e adotou a escrita francesa Napoléon Bonaparte.

Uma das mais famosas pinturas de Napoleão - Créditos: Licença Creative Commons via Wikimedia Commons

No mesmo período, ele se aproximou de Augustin Robespierre, irmão mais novo do líder revolucionário Maximilien Robespierre, e, com o apoio do colega corso Antoine Christophe Saliceti, Bonaparte foi nomeado comandante da Artilharia Republicana no Cerco de Toulon – cidade dominada por monarquistas, que continha uma importante base naval e que já havia se rebelado contra Robespierre.

Graças à estratégia traçada por Napoleão, Toulon foi conquistada, mas ele não saiu ileso: acabou sendo ferido na coxa. O sucesso logrou grande prestígio com os jacobinos e ainda garantiu a ele a promoção para general de Brigada, quando tinha apenas 24 anos, sendo responsável por toda a artilharia francesa no Armée d’Italie – tropa francesa em território italiano, onde lutavam contra austríacos –, cargo que ocupou por um ano, entre 1793 e 1794.

De volta a Paris, em meio a Reação Termidoriana, os jacobinos sofreram um Golpe de Estado por parte dos girondinos e foram destituídos do poder. Bonaparte, então, pela associação com os irmãos Robespierre, acabou sendo posto em prisão domiciliar, em Nice. Só que ficou no isolamento apenas duas semanas: tendo em vista suas proezas e habilidades militares, o líder girondino Paul Barras convocou Napoleão em outubro de 1795 para defender o Palácio das Tulherias de uma rebelião monarquista na capital francesa contra o governo republicano. O futuro imperador conseguiu não apenas controlar a revolta dos monarquistas, garantindo a estabilidade da Convenção Nacional, como também recuperar seu prestígio, sendo considerado um herói nacional.

Por seu sucesso, deixou Paris para assumir o posto de comandante do Exército do Interior no Armée d’Italie, em 1796. Durante os dois anos no cargo, Napoleão não perdeu nenhuma batalha contra o Exército austríaco, celebrando vitórias importantes com campanhas em Castiglione, Bassano, Arcole e Rivoli. Além do colapso das forças da Áustria na Itália, as conquistas renderam mais aliados e territórios aos franceses – principalmente após as negociações que resultaram no Tratado de Leoben.

Prestígio e poder

Pelo peso de importância de seu cargo, Napoleão Bonaparte se tornou um dos militares de maior prestígio na França. Sua influência ainda aumentou após, ele próprio, fundar dois jornais – com publicações que destacavam sua personalidade, claro. No entanto, Napoleão ainda tinha um inimigo a ser batido: a Grã-Bretanha, que gozava de um forte poder naval – algo que o preocupava.

Na tentativa de enfraquecer o Império Britânico, portanto, o militar organizou uma expedição ao Egito, iniciada em julho de 1798. Embora tenha conquistado Malta e derrotado os exércitos otomanos no país, o francês sofreu um duro golpe durante a Batalha do Nilo, quando foi superado pelo almirante Nelson. Além disso, sua tropa também foi atingida por um surto de peste bubônica.

Ainda no Egito, Napoleão era informado sobre a situação da França que, no final dos anos 1790, vivia um período de instabilidade e crise econômicas impulsionadas por uma série de derrotas na Guerra da Segunda Coalizão. O Diretório, governo marcado pela defesa dos interesses da alta burguesia francesa, também sofria uma onda de críticas, sendo taxado não só de ineficaz, como também de impopular e corrupto. O país, então, passou a ser tomado por uma vontade de que uma liderança autoritária controlasse a nação e colocasse as rédeas no lugar.

Saudado como herói em seu retorno à França, Bonaparte aproveitou desse momento para articular um golpe de Estado e derrubar o Diretório. Por meio de alianças políticas, em 9 de novembro de 1799, colocou em prática o Golpe do 18 de Brumário – nome dado a um dos meses no calendário revolucionário francês, que pretendia substituir o gregoriano. A data também marca o fim da Revolução Francesa.

Surgia na França uma nova instituição política chamada Consulado, visto que o país passou a ser liderado por três cônsules: Napoleão era o primeiro e a figura mais importante entre eles. Os outros dois, que agiam mais como “vozes consultivas”, foram Emmanuel Joseph Sieyès e Roger Ducos, ativos na articulação do golpe conduzido por Bonaparte. Embora uma Constituição tenha sido criada por Sieyès para dar a Napoleão um papel menor no comando da França, o primeiro cônsul conseguiu alterá-la por meio de um plebiscito – possivelmente fraudado. Em tese, a França vivia uma República, mas, na prática, via-se cada vez mais uma ditadura napoleônica; que usou da censura para perseguir opositores.

A primeira grande vitória de Napoleão como líder da França ocorreu em 14 de junho de 1800, na Batalha de Marengo, quando ele cruzou os Alpes suíços rumo à Itália para enfrentar os austríacos que ameaçavam invadir sua nação. Dois anos depois, França e Reino Unido assinaram o Tratado de Amiens, que colocou um ponto final nas Guerras Revolucionárias e fez com que as potências europeias reconhecessem as conquistas territoriais dos franceses.

Com a Europa em paz e a economia da França em recuperação – em virtude de novas medidas no sistema tributário e bancário –, Napoleão Bonaparte ainda realizou mudanças na segurança e educação francesa. Também conseguiu reconciliar o país com a Igreja Católica, rompidos desde o início da Revolução. De prestígio elevado, ainda em 1802, o líder aprovou uma nova Constituição com mais de 99% de aprovação dos votos e um texto inicial no mínimo curioso: “Artigo I: O nome do povo francês e o Senado proclamam Napoleão Bonaparte primeiro cônsul por toda a vida”.

Durante o Consulado, diversos planos para assassinar Napoleão foram tramados por mnarquistas, jacobinos e até mesmo pessoas patrocinadas pela família da Casa Real de Bourbon – que governou a França. Usando esses planos como justificativa, Bonaparte criou um sistema imperial, baseado no modelo romano, aprovado em referendo. Em 2 de dezembro de 1804, em coroação realizada na Catedral de Notre Dame, em Paris, Napoleão Bonaparte se coroou imperador dos franceses. Na ocasião, ele tirou a coroa das mãos do papa Pio VII e ele mesmo a colocou em sua cabeça.

Napoleão Bonaparte após a coroação - Créditos: Licença Creative Commons via Wikimedia Commons

O fim da Era Napoleônica

Àquela altura, o clima de paz na Europa já não existia mais, visto que a Grã-Bretanha havia quebrado o Tratado de Amiens e declarado guerra à França em maio de 1803, contando com o apoio da Rússia, Prússia e Áustria. Para impedir uma invasão potencial de seus inimigos, Bonaparte decidiu se antecipar e invadiu Viena em outubro de 1805, conseguindo uma expressiva vitória na Batalha de Austerlitz (ou Batalha dos Três Imperadores), que culminou com a rendição da Áustria e a dissolução do Sacro Império Romano-Germânico.

Entretanto, uma derrota marítima na Batalha de Trafalgar, no mesmo ano, impediu que os franceses tivessem poder suficiente para invadir a Grã-Bretanha. A alternativa foi estabelecer uma aliança com o czar Alexandre I. Em novembro de 1806, para sufocar a economia inglesa, Napoleão estabeleceu o Bloqueio Continental – que impedia que os países europeus tivessem qualquer tipo de relação comercial com a Inglaterra. Caso as nações não respeitassem a determinação, as mesmas seriam invadidas, como aconteceu com Espanha e Portugal em 1807.

Cinco anos depois, foi a vez de os russos virarem o alvo de Napoleão por furarem o bloqueio. A invasão começou em 24 de junho de 1812, com a França mobilizando seu maior Exército até então: cerca de 600 mil soldados. Para se defender, os russos usaram a tática de Terra Arrasada, o que minou a possibilidade de os franceses terem acesso a recursos, como comida e cavalos. Em 7 de setembro, a Batalha de Borodino resultou em mais de 70 mil mortes em um único dia (entre russos e franceses) e, em novembro, Bonaparte optou por bater em retirada pela falta de mantimentos e chegada do inverno, além da drástica redução de seus combatentes para apenas 10%.

Enfraquecido e desmoralizado, o imperador francês não foi capaz de conter o avanço de potências europeias. Embora tenha conseguido vitórias iniciais na Guerra da Sexta Coalizão, a derrota na Batalha de Leipzig foi a mais dura nesta era. Em novembro de 1813, os Aliados chegaram a propor uma oferta de paz, que manteria Bonaparte como imperador, mas reduziria o país às suas fronteiras “naturais”. Ele se recusou e, em 31 de março de 1814, Paris foi invadida.

O exílio na solidão

Pelo Tratado de Fontainebleau, os Aliados exilaram Napoleão Bonaparte na Ilha de Elba – sendo separado de sua esposa e filho, que nunca mais os viu – e restauraram a monarquia absolutista na França, com o poder sendo entregue a Luís XVIII. Em fevereiro de 1815, o imperador conseguiu escapar de Elba e junto de 700 homens conspirou contra a monarquia e reconquistou Paris em 20 de março.

Governando por um período chamado de “Cem Dias”, ainda conseguiu vitórias iniciais contra britânicos e prussianos, mas, em 18 de junho de 1815, acabou definitivamente derrotado na Batalha de Waterloo. Assim, os britânicos decidiram exilar Napoleão Bonaparte na Ilha de Santa Helena, no Oceano Atlântico, onde passou a viver na Longwood House – uma casa abandonada, úmida e insalubre. Em cartas, Napoleão chegou a reclamar das condições de sua morada e também ditou suas memórias. Rumores sobre conspirações para sua fuga chegaram a surgir, mas nenhuma tentativa foi realizada de fato.

Pintura da Batalha de Waterloo de 1815 - Créditos: William Sadler/Domínio Público via Wikimedia Commons

Seis anos depois, em 5 de maio de 1821, Napoleão Bonapartemorreu aos 51 anos, vítima de câncer no estômago – embora ainda se contestem os britânicos pelo tratamento severo dado ao imperador francês. Seu corpo foi enterrado em Santa Helena, mesmo tendo deixado claro em seu testamento seu desejo em ser sepultado às margens do Rio Sena. Somente em 1840 que seus restos mortais foram repatriados pela França, por onde ganhou um cortejo de Estado e, desde então, Napoleão Bonaparte jaz numa tumba no Palácio dos Inválidos.

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